Humanização

Médicos e enfermeiros colam fotos em jalecos pra se aproximar e arrancar sorrisos de pacientes

Inspirados em médicos dos Estados Unidos, hospitais no Brasil colocam fotos dos profissionais de saúde nos jalecos. Foto: Bianca Kloss/Hospital do Trabalhador

Diante do desconhecido e do inesperado, um sorriso carinhoso é um alento à alma. Neste momento, um grande número de pessoas em todo o mundo está dentro dos hospitais, trabalhando ou lutando pela própria vida, por conta do novo coronavírus. Profissionais da saúde e pacientes se tornaram por longos períodos a única companhia um do outro. E além do cuidado físico é preciso também aquele que aquece o coração: a identificação de um rosto amigo.

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Robertino Rodriguéz, um médico de San Diego, no estado norte-americano da Califórnia, achou uma maneira de mudar essa condição no hospital em que trabalha. Ele colocou uma foto própria, sorrindo, em seu jaleco e publicou a imagem em uma rede social no dia 4 de abril. O resultado? Outros profissionais da saúde se inspiraram na iniciativa que agora corre o mundo e a campanha “Share your smile”, ou “Compartilhe o seu sorriso”, vem ganhando cada vez mais adeptos.

“Foi uma ideia boa e tem que ser replicada. Tudo que é bom tem que ser divulgado. A gente entendeu que quem teve a iniciativa publicou para que as pessoas no mundo fizessem isso também”, conta Kessler Koetzler, coordenador de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Hospital do Trabalhador, em Curitiba. “Fazendo isso aqui também queremos mostrar às famílias que estamos fazendo o máximo possível para humanizar o atendimento e que outros profissionais da saúde vejam a ideia e possam replicar nos demais hospitais”, diz ele, ao explicar que o hospital adotou a medida no último dia 14.

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E a receptividade à iniciativa surpreendeu não só os pacientes, mas também os próprios profissionais. “Fomos nos apresentar a uma paciente que estava acordada e ela gostou muito! Elogiou a gente e foi mais emocionante do que imaginávamos”, relata o coordenador. “Estávamos acostumados a atender o paciente todo encapuzado e eles até nos confundiam. Às vezes achavam que tinham falado comigo, mas tinham falado com outra pessoa”, lembra Koetzler. A confusão, algumas vezes, acontecia até mesmo entre os próprios enfermeiros e médicos.

“Eles sabem que ali está uma pessoa como eles”

Outro hospital brasileiro que também adotou as fotos das equipes no jaleco foi o Madre Theodora, de Campinas, em São Paulo. Lá, a medida foi implementada em 9 de abril e, assim como em outros lugares, a ideia tem sido muito bem recebida pelos pacientes. “Notei que desde que começamos os pacientes olham primeiro a foto e sorriem. Eles sabem que existe uma pessoa como eles, que tem família, que está ali para atendê-lo e servi-lo”, diz Marcelo Fortuna, médico e clínico do hospital.

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O Madre Theodora já mantinha um hábito especial nas suas UTIs, com o uso de fotos da família dos pacientes ao lado da cama. De acordo com Fortuna, isso faz com que os médicos, enfermeiros e demais profissionais lembrem que aquele que está ali tem quem o aguarde do lado de fora. Agora, as fotos no jaleco lembram ao paciente, que ali estão seres humanos se dedicando para que ele fique bem, enquanto a sua própria família o espera em casa.

No hospital em Campinhas, em torno de 25% da equipe está envolvida no programa e utilizando o “crachá-retrato”. A recomendação, inclusive, é de que seja uma foto sem adornos, como óculos, toucas, bonés, e com um sorriso, de preferência.

Equipe de saúde do Hospital Madre Theodora. Foto: Divulgação Madre Theodora

Humanização

Os dois hospitais brasileiros também realizam outras ações para confortar o paciente e humanizar a relação com a equipe de saúde. No Hospital do Trabalhador, algumas medidas como a conversa com a família e até mesmo o próprio paciente, sobre possíveis passos a serem tomados em certos casos, acontecem.

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Ouvir o feedback de quem está internado e como tem sido o atendimento também é algo corriqueiro no Hospital do Trabalhador. Além disso, todo paciente da UTI tem direito a acompanhante 24 horas (não só menores de idade e acima de 60 anos), além do horário de visitas, claro.

Já no Hospital Madre Theodora, além da foto da família do paciente, outras medidas são realizadas. Entre elas, a musicoterapia, em que um músico passa pelos corredores do hospital semanalmente tocando algum instrumento para alegrar os pacientes.]

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E para os pacientes que possuam cachorros como animais de estimação, caso fiquem mais de 10 dias internados, podem receber a visita. Isso desde que sejam preenchidos os requisitos da vigilância sanitária. Mas caso alguém não possua, o próprio diretor do hospital, Emilio Bueno, “empresta” seu casal de Golden Retriever para animar os pacientes e melhorar o ambiente de todos.

Thor, Golden Retriever de Emilio, em exemplo de terapia com pets. Foto: Arquivo pessoal