Respirar fundo, contar até dez e sair de perto até se acalmar são algumas estratégias usadas por pais que evitam “estourar” diante de situações de birra ou teimosia excessiva das crianças.

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No entanto, nem sempre os adultos conseguem colocar essas técnicas em prática no momento de raiva e acabam gritando, falando o que não querem e se arrependendo depois pela maneira que agiram. “Lembro de uma situação, por exemplo, em que perdi a paciência com minha filha à caminho da escola”, conta a advogada Lindsley Daeuble.

Grávida do segundo filho na época em que o momento de estresse foi registrado, ela pediu diversas vezes que a menina de dois anos parasse de gritar e chorar sem motivo dentro do veículo, mas nada adiantava. “Aí perdi a paciência e eu mesma gritei com ela”, recorda a moradora do Paraná, que percebeu seu erro imediatamente. “Me senti a pior pessoa do mundo e, depois que a deixei na escola, chorei no carro, no trabalho, e pedi perdão no final do dia”.

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De acordo com a psicóloga especializada em atendimento infantil, Amanda Lima, situações como a descrita por Lindsley são resultado da elevada carga de trabalho e inúmeras exigências que envolvem pais e mães atualmente. “Com a correria do dia a dia, eles se sentem impotentes, irritados, agressivos, e não conseguem manter um diálogo esclarecedor em ambientes que precisam de respeito e equilíbrio”, explica.

Além disso, ao mesmo tempo em que dificulta relações sociais e traz arrependimento, a falta de autocontrole em ocasiões estressantes também prejudica o desenvolvimento emocional dos filhos. Isso porque, de acordo com a especialista, crianças e adolescentes passam por inúmeras mudanças durante o crescimento e precisam de exemplos positivos e de ajuda para administrar corretamente seus sentimentos. “Então, é necessário demonstrar empatia e se colocar no lugar deles para que consigam lidar com a frustração, raiva e tristeza”, afirma Amanda.

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“É necessário demonstrar empatia e se colocar no lugar deles para que consigam lidar com a frustração, raiva e tristeza”.

Só que controlar as próprias emoções diante das birras não significa ignorar aquele mau comportamento e esconder sua decepção. De acordo com a psicóloga, é simplesmente se acalmar e trocar os gritos e manifestações de agressividade por frases como “o que você está sentindo?” ou “parece que você ficou com raiva por alguma ciosa, o que é?”.

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Nas primeiras tentativas, a criança pode responder de maneira vaga e até precisar da ajuda dos pais para dar nome ao desconforto emocional que experimentou. No entanto, a psicóloga garante que, aos poucos, esse diálogo auxiliará o filho a entender o sentimento que o incomodou, fará com que encontre meios de voltar à sensação de bem estar, e ainda fortalecerá sua autoconfiança e autonomia.

Como manter o autocontrole?

Por isso, depois de perder o controle após o choro e gritaria da filha no caminho para a escola, a advogada Lindsley decidiu respirar fundo em outras situações de teimosia, se afastar por alguns momentos e agir com carinho ao disciplinar a menina. “Afinal, se nós, adultos, surtamos de vez em quando, imagine as crianças que ainda não sabem lidar com as emoções?”, comentou a paranaense, que cita uma situação recente em que colocou a decisão em prática.

“Se nós, adultos, surtamos de vez em quando, imagine as crianças que ainda não sabem lidar com as emoções?”

“Estávamos prontos para ir à igreja, quando a Laís começou a reclamar do vestido que, aliás, já havia usado várias vezes”, recorda. “Nada estava bom e ela começou a puxar desesperadamente a roupa como se quisesse rasgá-la, gritando e chorando”. A mãe, então, levou a filha de três anos para um dos cômodos da casa, colocou a pequena em seu colo, lhe deu um abraço e começou a conversar com ela. “Também fiz uma oração pedindo que Deus a tranquilizasse. Aí ela me deu um beijo e saímos como se nada tivesse acontecido”, lembra.

O segredo para os pais conseguirem resultados assim, de acordo com a psicóloga Amanda Lima, é entender que as crises familiares são inevitáveis e que as discussões para resolver problemas podem ensinar importantes lições aos filhos. “Então, substitua seus julgamentos, a desaprovação, os castigos e surras por uma atitude mais orientadora”, aconselha a especialista, que apresenta quatro dicas para ajudar nessa tarefa.

1) Elogie antes de criticar

Cite uma característica positiva de seu filho ou algo bom que ele realizou antes de dizer que a criança fez algo errado. Assim, a situação será gravada em uma memória saudável e será mais fácil para ela evitar o erro da próxima vez.

2) Troque gritos por perguntas positivas

Em vez de levantar o tom de voz e agir com agressividade, pergunte o que seu filho está sentindo e o ajude a entender a emoção que o incomodou. Com o tempo, ele aprenderá a lidar com aquele sentimento e saberá como acalmar-se.

3) Mostre suas falhas

Conte ao seu filho a respeito das dificuldades que você tem na tarefa de educá-lo e mostre que está buscando melhorar. Ele terá consciência de seu esforço e entenderá que os adultos não são super-heróis.

4) Peça perdão

Ao reagir com raiva, prometer algo e não cumprir ou dar mau exemplo de alguma forma aos filhos, diga “me perdoe”. Isso fortalece a relação familiar e ainda ensina a criança a agir da mesma forma quando errar.