Traficante ordena matança na Vila Nossa Senhora da Luz

Os três homens que estão eliminando “vapores” (pequenos traficantes) e rivais, ocupando um Golf escuro, estão trabalhando para um grande traficante da Vila Nossa Senhora da Luz. A informação é do delegado Sérgio Taborda, do 11.º Distrito Policial (Cidade Industrial), que auxilia a Delegacia de Homicídios na elucidação das mortes ocorridas nos últimos dias na região da Cidade Industrial. A polícia já sabe quem são os executores e também o ordenador dos crimes.

Taborda está trabalhando com a pequena equipe do 11.º Distrito há um ano, para identificar e prender mandantes do tráfico da Vila, bem antes de começar a seqüência de execuções. Com isto pôde trocar informações com policiais da Delegacia de Homicídios. As investigações já resultaram na prisão de três traficantes, apreensão de três menores e na identificação de três quadrilhas distintas, que agem na região. As quadrilhas estariam em guerra, eliminando os integrantes da facção rival.

Vingança

De acordo com as investigações, Altair Cordeiro, 24 anos, o “Du Bode”, planejava junto com seus comparsas – Everaldo do Nascimento (foragido do xadrez do 11.º Distrito), Fabiano Jovem de Matos Soares (preso por tráfico de drogas), Alexandre Kueller (preso por tráfico) e um homem chamado Sinésio -, a morte de um dos grandes traficantes da Vila Nossa Senhora da Luz. Só que o plano foi descoberto pelo traficante, que contratou três marginais de alta periculosidade (com diversas passagens pela polícia e recentemente colocados em liberdade) para que eliminasse o mentor do plano. Após o acerto, os marginais só precisaram localizar “Du Bode” e matá-lo.

Na noite do dia 16 de setembro, “Du Bode” passou com sua motocicleta pela Vila Nossa Senhora da Luz, em frente a casa que foi da famosa traficante “Evinha do Pó” (assassinada em 2002, crime até hoje não esclarecido), onde José Rafael de Paiva, 21 anos, estava morando com alguns rapazes. Ao ver “Du Bode”, José Rafael avisou os matadores, que colocaram o plano em ação. Eram 22h30, quando os criminosos, que ocupavam um Golf escuro, alcançaram “Du Bode” na Rua João Chede e efetuaram vários disparos. Cinco tiros atingiram o lado do corpo do rapaz e dois, a cabeça. Devido a alta velocidade, a motocicleta, caiu e foi arrastada por alguns metros.

Retaliação

A guerra estava declarada. Mal sepultaram “Du Bode” e os colegas dele descobriram quem ajudou os matadores. Na noite de domingo, os comparsas de “Du Bode”, invadiram a casa onde José Rafael morava e o atacaram com mais de 30 facadas. Depois levaram o corpo, enrolado em uma colcha, até um esgoto a céu aberto na Rua Rui Fonseca Itiberê da Cunha, na Cidade Industrial, e o desovaram. O corpo só foi encontrado na manhã de segunda-feira.

Com a matança, os traficantes aproveitaram para eliminar dois “vapores”, que estavam em dívida com o tráfico. Elessando Carapasa, o “Chulé”, foi obrigado a ficar de joelhos para ser executado com um tiro na cabeça, num terreno baldio a 50 metros da Estrada do Ganchinho, no Umbará. O projétil entrou no alto da cabeça, saiu pelo céu da boca e foi parar no solo. “Chulé” morava nas proximidades e era viciado em crack. Testemunhas viram o Golf escuro, no local do crime no início da madrugada do dia 22, mas o corpo do rapaz só foi localizado às 9h30 do mesmo dia.

José Carlos da Cruz Rosa, 17, foi executado na Rua Dari Vargas, Jardim Itatiaia. A uma quadra dali, os criminosos atiraram na perna da mãe dele, Roseli da Cruz, 39, que foi levada pelo Siate ao Hospital do Trabalhador. Os autores também ocupavam o mesmo Golf.

Três gangues e muitos crimes

Doze meses de investigações levaram a polícia a prender Luís Fernando Santana Buffa, o “ET”, 21 anos; Dilam Dumke, o “Periquito”, 19, e Marcos Padilha, mais conhecido como “Marquinhos”, 22. Os três negam qualquer envolvimento com o tráfico de drogas na Vila Nossa Senhora da Luz. “Não precisamos de confissão, temos provas suficientes do envolvimento de cada um. Tanto que a Justiça decretou a prisão preventiva deles”, salientou o delegado.

Taborda disse que as investigações apontaram “Periquito” como o autor do disparo que matou acidentalmente a costureira Natalina dos Santos Lima, 54, na noite do dia 14 de novembro do ano passado. Natalina estava lavando louças, quando um bala endereçada a um rival de “Periquito” a atingiu fatalmente, na Rua Birigüi esquina com a Rua Jacir José Ferreira, Vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial.

“Periquito”, “ET” e “Marquinhos” dominavam o tráfico de drogas nas praças 6 e 7 da Vila. A partir destas informações, a Justiça expediu mandado de busca e apreensão em seis residências. Na casa de Marquinhos foram localizados três carregadores e 31 cartuchos de pistola ponto 40. A arma tinha sido vendida ao traficante pelo policial militar Marcelo Ribeiro, 29, conhecido como “Caveira”, que morreu no último dia 21 de setembro, no Hospital do Trabalhador, onde estava internado desde o dia 18 de julho. Na casa de um menor, foram apreendidas 53 pedras de crack e um colete à prova de balas.

Conflito

A batida da polícia na Vila fez com que o conflito entre as quadrilhas se acirrasse. O grupo de “Periquito” começou a guerra com outra facção do tráfico, liderada por Hércio da Silva Neto, mais conhecido como “Neto”, que tem como integrantes Adriano Francisco Bonfim de Lima, Márcia Maria Dias e o marido, Ciro Santos Dias, e o filho Caio Murilo Dias. Todos com mandados de prisão decretados pela Justiça. “Fizemos buscas na casa de Márcia , Hércio e de um outro rapaz. Na casa de Márcia e Ciro encontramos cinco cartuchos calibre 38, um carregador da mesma arma, além de um caixa de pistola PT-765”, salientou o delegado. Ciro foi autuado em flagrante pela posse da munição. Na casa de Hércio foi encontrada a pistola 765 e um revólver calibre 38. Apesar da pistola estar com a numeração lixada, era compatível com a caixa encontrada na casa de Ciro e Márcia. “Logo depois que fizemos as buscas nas residências, deram tiros e colocaram fogo na casa dos menores, acreditando que eles é que tinham entregado o grupo”, contou o delegado. Taborda revelou ainda que “Marquinhos” já foi ferido por Sinésio, que integra o grupo de “Du Bode” (já morto) e Everaldo do Nascimento.

Arrebatamento

Em março desde ano, de acordo com as investigações, “Du Bode” e seus comparsas tentaram invadir o 11.º Distrito Policial para arrebatar Alexandre. O grupo também pretendia executar dois presos, que deviam para o tráfico. “A quadrilha está toda identificada. Ao todo são três quadrilhas e os traficantes estão em guerra”, enfatizou Taborda. Ele disse que a polícia trabalha contra o tempo para colocar todos atrás das grades. “Eles estão se matando entre si. O problema maior é que, com a guerra declarada, pessoas inocentes podem perder a vida, como foi o caso da costureira”, finalizou o delegado.

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