Sai retrato do ladrão de livros

O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) divulgou ontem o retrato falado do principal suspeito de ter furtado cerca de 120 obras raras da Biblioteca Pública do Paraná, a maior do estado. O indivíduo, que dizia ser carioca e se apresentava com o nome de Victor Hugo S. da Silva, aparenta ter 20 anos, é alto, moreno e bem falante.

O suspeito começou a freqüentar a biblioteca em maio passado. Às vezes se fazia acompanhar por um homem mais velho, que tinha sotaque, ou por uma jovem. Estes carregavam pequenas listas com nomes dos títulos que supostamente seriam pesquisados e ajudavam a fotografá-los com um aparelho celular. Não há descrição do casal que acompanhou o suspeito.

De acordo com a delegada Vanessa Alice, responsável pelas investigações, três funcionários auxiliaram na confecção do retrato falado. Como o suspeito freqüentou as seções de obras raras e de periódicos por várias vezes – onde aconteceu a maioria dos furtos -, ele ficou conhecido dos funcionários. Estranhamente, a partir de 20 de outubro, quando foi notado o sumiço das obras, ele não apareceu mais.

A polícia, por enquanto, não suspeita de envolvimento de funcionários e, segundo a delegada, o ladrão pode fazer parte de uma quadrilha que age em todo o Brasil e que, recentemente, praticou furtos na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo; na Biblioteca do Itamaraty e na Biblioteca Nacional, ambas no Rio de Janeiro; além do Arquivo Histórico, também no Rio.

?Encomenda?

Ainda de acordo com a polícia, acredita-se que o desconhecido estivesse ?agindo sob encomenda?. Ele já teria uma lista de títulos para furtar, possivelmente encomendados por um colecionador, já que este material só interessa a pessoas desse ramo. Em suas visitas à biblioteca, ele comentava que era estudante de Biblioteconomia e Cinema e que estava fazendo um livro sobre cartunistas.

Os furtos só foram notados em outubro, quando a funcionária da seção de obras raras foi guardar algumas e percebeu um espaço muito grande na prateleira. Fez um levantamento e notou a falta de alguns títulos. Comunicou a direção e, em seguida, foi verificado que faltavam títulos também na seção de periódicos.

Então o Cope foi acionado e iniciou as investigações.

A suspeita logo recaiu sob o falso Victor Hugo, que sempre chegava à biblioteca vestindo um capote de cor escura, grande e largo. Acredita-se que ele escondia nas roupas o que pretendia levar. Através das fichas de consulta, foi apurado que, além do nome, o endereço e outros dados fornecidos pelo ladrão eram falsos.

A Biblioteca Pública do Paraná deve divulgar, hoje, a relação dos títulos que foram furtados.

Outros estados, mesmo crime

A delegada Vanessa Alice, deve contar com a colaboração de policiais do Rio de Janeiro e de São Paulo, que investigam casos semelhantes aos furtos ocorridos no Paraná. Suspeita-se que se trate de uma mesma quadrilha que age no país. Naqueles estados, as investigações estariam mais adiantadas, já que ocorreram detenções de suspeitos e recuperação de obras.

No início do mês passado, a Polícia Civil de São Paulo apontou o bibliotecário Ricardo Pereira Machado como o principal suspeito pelos furtos na Biblioteca Mário de Andrade, onde havia feito estágio em 2002 e 2003. Em 2004, Ricardo foi preso – e depois liberado – por furtos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Ele entregaria as obras à Babel Livros, do Rio, que as leiloava.

Um colecionador que comprou a segunda edição de O Guarany, de José de Alencar, num leilão da Babel (por R$ 5.760,00) realizado em março, devolveu a obra à Biblioteca Mário de Andrade, ao descobrir a procedência ilícita. Ele apontou Machado como responsável pela trama. Machado também foi delatado por outro indivíduo: Erivaldo Tadeu dos Santos Nunes, preso no início de outubro, com obras raras. Ele é ex-cunhado do responsável pelo restauro na biblioteca, o que leva a supor que Machado e o restaurador podem ter ligações com o furto ocorrido em setembro último, quando sumiram um livro de orações de 1501, 58 gravuras de Rugendas e 42 de Debret, dentre outras, segundo informou o jornalista Mário César Carvalho, da Folha de S. Paulo.

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