Resgate na batalha contra as drogas

Ao esperar a filha na saída da escola, Roger Lessnau só pensava no que faria a seguir: passar na favela para comprar droga. Dependente, deixava a filha de sete anos no carro e esperava pelo traficante o tempo que fosse necessário, até obter o que desejava. Ao voltar para o carro, a filha o questionava, chorando: ?Pai, por que demorou tanto??.

Essa rotina levou Lessnau a perder o emprego e a se afastar da família. Tímido, começou usando a bebida como válvula de escape. A partir daí, foi rápido o caminho para experimentar maconha, cocaína, até chegar ao crack, droga na qual ficou dependente por oito anos.

Agora, no que considera sua ?segunda vida?, Lessnau tenta resgatar o tempo perdido. ?Hoje tento ser uma pessoa melhor para mim e para as pessoas que me amam, que foram as que eu mais magoei?, recorda.

Há mais de um ano, Lessnau trabalha como monitor do Projeto Ceifar, em Campo Largo, auxiliando quem vivencia o mesmo drama pelo qual já passou. ?Não basta querer abandonar as drogas, é preciso mudar de vida e criar bases fundamentais para evitar recaídas. Deixar amigos dessa vida que lembra o vício, mudar hábitos e abrir mão de coisas que se gosta de fazer?, indica.

O projeto

Dentro do Projeto Ceifar, quem está em tratamento pode fazer aulas de artesanato, informática e música, além de receber o acompanhamento psicológico individual e em grupo. De acordo com a psicóloga responsável, Elaine Xavier, 90% das pessoas atendidas são usuários de crack, somadas aos usuários de múltiplas drogas e dependentes do álcool.

O tempo de tratamento é de seis meses, cuja filosofia também agrega o autoconhecimento e a espiritualidade. Hoje, o projeto atende 21 pessoas, número que pode chegar até 30. Segundo a psicóloga, o índice de recaída ainda é grande. Mesmo que não para drogas mais pesadas, acontece a volta do uso de álcool e cigarro. ?O mais difícil de tratar é o álcool, que se torna facilitador para outras drogas?, observa Elaine.

Para o gerente do projeto, André Silveira, a reestruturação social para essas pessoas é muito difícil, assim como a reintegração no mercado de trabalho. Por isso, são aspectos trabalhados dentro do projeto. ?A maioria dos dependentes que chega aqui vem de famílias desestruturadas e com baixa auto-estima. A experiência com a droga começa cada vez mais cedo, com nove, dez anos. E não é verdade que a criança é aliciada pelo traficante. A influência maior é de amigos e da família?, acredita.

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