Reconhecimento e choro em audiência em Matinhos

Durou quase dez horas a audiência de instrução e julgamento realizada ontem, no Fórum de Matinhos, em que Juarez Ferreira Pinto, 42 anos, é acusado de latrocínio (roubo com morte), seguido de lesão corporal, atentado violento ao pudor e perigo de contágio de doenças venéreas, crimes ocorridos no Morro do Boi, em Caiobá.

Quatorze testemunhas de defesa e de acusação foram ouvidas pelo juiz Rafael Luiz Brasileiro Kanayama, além do réu e da estudante Monik Pergorari Lima, 23, sobrevivente do atentado. Ela e o namorado Osíris Del Corso, 22, foram atacados no morro, em 31 de janeiro. Baleada nas costas, Monik ficou paraplégica. Osíris morreu no local.

O delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, que conduziu as investigações, foi ouvido e garantiu que Juarez é o assassino. Ele disse não ter dúvida quanto as diligências realizadas, embora existam contradições no processo. Cartaxo revelou que o reconhecimento que Monik fez do acusado só foi “cem por cento” na segunda vez em que lhe foi apresentada uma foto dele.

Os pais do casal e um vendedor de cocos, que afirmou ter visto Juarez no local do crime, também foram testemunhas de acusação. Monik chorou ao ver Juarez no Fórum e pediu que ele fosse retirado da sala, enquanto ela era ouvida. Ela voltou a apontá-lo como autor do crime e confirmou que ele roubou R$ 90 que estavam no bolso de sua bermuda.

Cartas

Outras dez testemunhas deverão ser ouvidas através de carta precatória, entre elas a médica do Siate que deu os primeiros socorros a Monik e que ficou com ela por quase três horas.

A médica confirmou que a jovem disse que não levava dinheiro nem celular, apenas o relógio, que permaneceu em seu pulso. Também um jornalista deverá ser ouvido, porque gravou conversas telefônicas com o delegado Cartaxo, em que ele enfatizava não se tratar de um caso de roubo, mas sim de homicídio.

A expectativa da defesa é que o crime de latrocínio seja descaracterizado e que Juarez responda por homicídio, para ser levado a júri popular. Desta forma ele teria chance de uma defesa mais ampla, já que em caso de latrocínio (crime contra o patrimônio) é apenas o juiz quem julga e aplica a pena, sem um corpo de jurados.

Censura

Marcada para as 8h, a audiência começou às 10h, porque Monik, que está numa cadeira de rodas, se atrasou. O juiz não permitiu a entrada da imprensa, que foi obrigada a ficar na chuva, do lado de fora do Fórum, sob a vigilância de policiais militares, que faziam a segurança no local.

Somente por volta das 15h é que alguns repórteres receberam autorização para acompanhar os depoimentos, sem fazer uso de gravadores, máquinas fotográficas ou filmadoras.

Defesa apela pra saúde do acusado

O interrogatório de Juarez durou cerca de 20 minutos e ele voltou a negar o crime, afirmando que, naquela data, não deixou o balneário de Santa Terezinha e passou o dia trabalhando.

A defesa, a cargo dos advogados Nilton Ribeiro e Mário Lúcio Monteiro Filho, tentou desqualificar a acusação, enfatizando que o reconhecimento que Monik fez é duvidoso, e apresentando declarações e documentos médicos que indicam que o réu não teria condições de subir o Morro do Boi, com 120 metros de altura.

Doenças

Juarez tem hepatite C e está contaminado com o vírus HIV, além de outros problemas de saúde. Ele foi submetido a teste de esforço, semelhante aos aplicados em atletas, que apontaram sua impossibilidade física, segundo os advogados. Os documentos foram anexados ao processo.

Seis pessoas foram ouvidas como testemunhas de defesa e afirmaram que estavam com Juarez no dia do crime, no balneário Santa Terezinha, onde ele trabalhava como repositor de gelo em carrinhos que vendem cerveja na praia.