Polícia pra quem precisa!

O que aconteceu sábado, na Kyocera Arena, após o clássico entre Atlético e Paraná, foi um claro e inadmissível atentado contra a liberdade de imprensa. O repórter da Tribuna, Cahuê Miranda, foi preso em pleno desempenho de sua atividade profissional. Preso porque perguntou o nome a um policial militar. Isso é crime? Perguntar o nome a um funcionário público que havia, momentos antes, descontado sua ira dando uma cotovelada nas costas do repórter fotográfico Valquir Aureliano, também da Tribuna?

O acontecido

Quando saía do estádio, Cahuê foi alertado pelo motorista do Grupo Paulo Pimentel que uma confusão estava acontecendo na saída do estacionamento. Um entrevero entre um grupo de torcedores e a Polícia Militar. Foi, então, conferir, cumprir sua obrigação. No local, o repórter fotográfico Valquir Aureliano pediu a Cahuê que anotasse o nome de um PM, que havia lhe agredido com uma cotovelada. Quando perguntado, o soldado, primeiro, arrancou a identificação com seu nome da farda. ?Quando me identifiquei como repórter, o PM disse que jornalista e m… eram a mesma coisa. Retruquei perguntando: e o senhor, o que é? E fui detido?, relata o repórter.

O nome

O policial, mais tarde identificado como Robson Luiz dos Anjos, lotado no 13.º Batalhão, tentou desvirtuar o fato de estar sem a identificação nominal na farda, dizendo que fora arrancada durante a confusão. Mas as fotos abaixo comprovam que ele estava com o nome na camisa. Num segundo momento, depois de deter o repórter, a identificação já não está mais no lugar, mas o velcro permanece intacto. Num terceiro momento, dentro da sala de triagem do estádio, o velcro aparece rasgado. Ou seja: a identificação foi tirada pelo soldado, que depois ainda rasgou o velcro, tentando forçar uma nova situação inexistente. ?Ele tirou o nome na minha frente?, confirma Cahuê. Fica a pergunta: Por que Robson Luiz dos Anjos quis esconder o nome? Estava fazendo alguma coisa errada? Por que forjar que o nome fora arrancado, se ele mesmo tirou?

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Na primeira foto, o policial Robson Luiz dos Anjos ainda está com a identificação. Já na segunda foto, o policial encontra-se sem a tarjeta que o identifique.

Truculência

?Protegido? pelo anonimato, o policial deu uma gravata no repórter, que estava paramentado com seus instrumentos de trabalho, notebook, bloco de anotações, caneta e rádio. E, ao contrário de Robson, Cahuê estava com sua identificação profissional no peito. Um crachá do Grupo Paulo Pimentel com seu nome e função. Depois de imobilizado, Cahuê foi algemado e colocado num furgão e depois levado pra sala de triagem da PM na Baixada.

O capitão Rubens Tedeski, que comandou o policiamento do clássico, disse que as algemas só devem ser colocadas quando o detido resiste à prisão. O oficial falou, também, que pela versão que lhe foi apresentada, o soldado usou a força porque estava sozinho. Mas as fotos tiradas por Valquir mostram que todo um efetivo da PM observava a truculência praticada pelo soldado Robson.

Tentando registrar a arbitrariedade policial, o fotógrafo Valquir Aureliano foi empurrado. Os PMs batiam com o escudo na lente da câmera fotográfica, tentando impedir o registro da situação, como mostram as imagens abaixo.

Delegacia

Cahuê Miranda foi encaminhado ao 8.º Distrito Policial, onde assinou termo circunstanciado por ?desacato a autoridade?. O jornalista fará, hoje, exame de lesões corporais no Instituto Médico-Legal e entrará com pedido de sindicância interna para apuração do caso junto ao batalhão onde o soldado está lotado. Outras providências legais também serão tomadas, tentando restabelecer a ordem.

Nós, da Tribuna, repudiamos de forma veemente tudo o que aconteceu. Afinal, agredir, algemar e expor um profissional que estava em pleno trabalho de reportagem, é fato inaceitável e tem que ser apurado, punindo-se o excesso funcional, o abuso de poder gerador do fato, e a inabilidade demonstrada por quem poderia corrigir o erro a tempo e não o fez.

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