Polícia demorava três meses para abrir inquérito

Os especialistas são unânimes: para resolver um homicídio, o mais importante é agir rápido, principalmente para ouvir as pessoas que possam saber de algo. Quanto mais tempo passa, menor a chance de descobrir quem cometeu o crime: testemunhas se esquecem de detalhes, o criminoso tem tempo para ameaçar aqueles que possam incriminá-lo e pode até fugir.

No entanto, o levantamento da “Gazeta do Povo”, feito com base em assassinatos cometidos entre 2010 e 2013 em Curitiba, revela que nem sempre a polícia agiu com a rapidez necessária. Em média, nas mil mortes analisadas pela reportagem, a polícia demorou quase três meses para instaurar o inquérito e ouvir a primeira testemunha.

Em 303 casos, o primeiro depoimento só aconteceu mais de um mês depois do crime. E em 20 desses casos, a testemunha inicial levou mais de um ano para ser ouvida. Há exemplos extremos, como o do Inquérito n.º 329/2010. O pedreiro S.S. foi assassinado em março de 2010, aos 25 anos, na Cidade Industrial, quando estava na companhia de amigos em uma calçada. Em agosto de 2012, 28 meses depois do homicídio, o delegado pediu que fossem localizadas a mãe da vítima e uma prima que presenciou o assassinato. A prima se tornou a primeira testemunha ouvida na delegacia, em janeiro de 2013, dois anos e meio depois da morte. A essa altura, o suspeito do crime havia sido assassinado.

“Ouvir testemunhas meses depois é a decretação da falência da polícia. Não há a menor justificativa para isso”, diz José Vicente da Silva Filho, professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar de São Paulo.

Exceção

Em apenas um terço dos casos (344 investigações), o primeiro depoimento foi tomado nos três primeiros dias depois do assassinato. Em outros 105 homicídios, a polícia ouviu pelo menos uma pessoa antes de o crime completar uma semana.

De acordo com o promotor de Justiça Marcelo Balzer Correia, da 1.ª Vara do Tribunal do Júri, o delegado não tem de finalizar o inquérito no prazo de 30 dias, mas precisa ao menos ouvir as testemunhas. “É necessário ouvir as pessoas rapidamente, porque caso contrário elas vão se mudar, até mesmo por medo do que viram. E aí não vão ser mais localizadas”, afirma.