Paranaguá: mortes impunes

Três assassinatos que chocaram Paranaguá e estão diretamente ligados ao jogo do bicho no Litoral continuam sem uma resposta concreta por parte das autoridades, apesar dos crimes terem ocorrido nos anos de 1999, 2000 e 2001. Somente dois acusados, Márcio Baurakiades Teixeira e Hélio de Oliveira, o ?Helinho?, estão presos. Ainda são acusados de envolvimento nos assassinatos Elias Thadeu Farij, Hélio Alves dos Santos, e Ariovaldo Marques, mais conhecido como ?Ari Cabeção?.

Apontados como mandantes dos três crimes, os irmãos Joel Moreira Bonzato, 64 anos, e Antônio Carlos Bonzato, que também são acusados de liderarem o jogo do bicho na região, continuam em liberdade. Os defensores deles entraram com recurso no Tribunal de Justiça, que até então não foi julgado. Enquanto isso, as famílias do bicheiro Paulo Yoshiaru Sakamoto, dos sindicalistas Paulo Canhola e Luís Félix da Silva, o ?Sapo?, aguardam uma resposta da Justiça.

O julgamento de Márcio Baurakiades e de Hélio de Oliveira, o ?Helinho?, estava marcado para o dia 31 de março, mas foi adiado. Os dois são réus confessos e estão recolhidos no Sistema Penitenciário, em Curitiba.

Assassinatos

O bicheiro Paulo Yoshiaru Sakamoto, também conhecido como ?Paulo Bicheiro? ou ?Japonês?, foi assassinado no dia 19 de setembro de 1999, em Paranaguá. De acordo com as investigações policiais, o autor dos disparos foi Hélio de Oliveira, o ?Helinho?, que estava acompanhado de Márcio Baurakiades. Já os mandantes seriam os irmãos Joel e Antônio Carlos Bonzato. Todos foram denunciados pelo Ministério Público.

A população de Paranaguá mal tinha apagado as lembranças da execução de ?Paulo Bicheiro?, quando o sindicalista e estivador Paulo Canhola foi assassinado no dia 7 de março de 2000. As investigações apontaram que o autor dos tiros foi Ariosvaldo Marques, que agiu junto com Elias Thadeu Farij e Márcio Baurakiades Teixeira. Os mandantes neste caso, de acordo com a acusação, são Antônio Carlos Bonzato e Hélio Alves dos Santos, sendo o último diretor do Sindicato da Estiva, na época do crime.

No ano seguinte, o estivador Luís Félix da Silva, o ?Sapo?, foi executado no dia 1.º de novembro. As investigações policiais indicaram que o autor foi Hélio de Oliveira, ?Helinho?, novamente auxiliado por Márcio Baurakiades Teixeira.

Confissão

?Hélinho? e Márcio confirmaram os assassinatos à polícia e existe, inclusive, uma fita cassete gravada com o depoimento de ambos, em que relatam com detalhes a contratação – por parte dos irmãos Bonzato -, o planejamento e a execução dos crimes. A fita foi gravada no gabinete do delegado de Paranaguá e está anexada ao processo. A morte de ?Paulo Bicheiro? teria ocorrido porque ele estava atrapalhando os negócios de seu concorrente.

Trama maldita

Em março de 2002, Márcio Baurakiedes Teixeira confessou que se encontrou com Antônio Carlos Bonzato, no Sindicato dos Estivadores, em Paranaguá, e na ocasião, Antônio Carlos pediu que Márcio contratasse Hélio de Oliveira, o ?Helinho?, para matar Paulo Yoshiaru Sakamoto, mais conhecido como ?Paulo Japonês?.

Márcio contou ainda que Antônio Carlos agiu a mando de seu irmão, Joel Moreira Bonzato. Ele explicou que Joel é um conhecido bicheiro, que comanda o jogo em Paranaguá, e que Paulo estaria atrapalhando seus negócios. Na época, Márcio procurou Hélio e este aceitou cometer o crime, cobrando R$ 5 mil para executar a vítima.

Para dar prosseguimento ao plano, Márcio alugou uma pequena casa próximo à residência de ?Paulo Japonês?, para onde Hélio se mudou. No dia 19 de setembro de 1999, Márcio levou Hélio até as proximidades da residência da vítima, na Rua General João da Silva Rebello, 257, no Jardim Cominese, em Paranaguá. Hélio se escondeu em um terreno baldio e aguardou o momento em que a vítima chegasse. O acusado lembrou ainda que por volta das 21h30, Paulo chegou na residência, conduzindo seu veículo. Enquanto a mulher dele abria o portão da garagem, Hélio aproximou-se, armado com um revólver calibre 38 e disparou vários tiros. Quatro deles acertaram a vítima, que tombou morta. Em seguida, Hélio subiu na motocicleta Honda XR-200, que Márcio pilotava e ambos fugiram.

No dia seguinte, Márcio foi até a casa de Antônio Carlos, que lhe entregou R$ 2.500,00. Um dia depois, Márcio foi até o sindicato, onde recebeu mais R$ 2.500,00, totalizando os R$ 5 mil combinados. Márcio contou que na seqüência foi para Curitiba, onde se encontrou com Hélio e lhe repassou R$ 4 mil, ficando com R$ 1.000,00. Ainda segundo Márcio, Antônio Carlos só intermediou a negociação, mas o dinheiro pertencia a Joel, que era o interessado na morte do bicheiro.

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