Fraude

Ossada de corpo pode ter sido usada para golpe do seguro

O Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) exumou, nesta sexta-feira (29), a ossada de um corpo sepultado como indigente no Cemitério Parque São Jorge, no bairro Umbará, em Curitiba. A suspeita da polícia é de que a ossada não seja de Marcio Vitor Ferreira e que tenha sido usada pela esposa dele para aplicar o golpe do seguro e receber mais de R$ 350 mil. A exumação foi permitida pelo juiz da Vara de Inquéritos Policiais, Pedro Luis Sanson Corat.

“Diante de várias contradições que cercam a história, não restou outra opção a não ser a exumação do corpo para exame de DNA, que poderá confirmar efetivamente se se trata de Márcio Victor Ferreira ou é mais um golpe para o recebimento de seguro, possivelmente com a participação até mesmo de funcionários públicos”, disse o delegado do Nurce, Sivanei de Almeida Gomes.

A exumação contou com a participação de policiais do Nurce, médicos legistas do IML e um perito do Instituto de Criminalística, que realizou a coleta de material genético necessário para a realização do exame de DNA. O material coletado será usado para confronto com material genético da mãe de Márcio. O resultado deve sair em 30 dias.

O golpe

Em outubro de 2003, a suposta viúva, casada com Márcio Victor Ferreira, fez um seguro de vida em nome dele e, desde então, de acordo com a polícia, pagou rigorosamente as mensalidades. “Márcio era envolvido com drogas e no dia 20 de agosto de 2005 ele sumiu”, contou o delegado. Nesta mesma data, houve a entrada de um homem sem identificação no Hospital São José, de São José dos Pinhais, com ferimentos a bala e a faca. Ficou internado e morreu dois dias depois.

Seu corpo foi encaminhado para o IML, onde permaneceu até o dia 7 de outubro do mesmo ano, quando foi enterrado como indigente. No entanto, o laudo de necropsia não apontou os ferimentos a faca que o hospital havia informado. O laudo também não constatava a presença de tatuagens no corpo do indigente.

“Neste período, a família de Márcio já tinha ido ao IML a procura dele, mas não tinha reconhecido nenhum dos corpos classificados como indigentes, já que Márcio possuía tatuagens”, disse o delegado.

Em setembro de 2007, um funcionário do IML formalizou um termo de reconhecimento do indigente como sendo Márcio. “Durante este tempo, também apareceu um laudo necropapiloscópico (laudo de impressões digitais), com data de 27/09/2006, alegando que as digitais do indigente pertenceriam a Márcio”, relatou Gomes.

Ainda segundo a polícia, no dia seis de junho de 2007 apareceu na seguradora um documento em nome de Márcio, onde ele comunicava sua mudança de endereço. Com estes documentos, em julho de 2008 a viúva deu entrada na Justiça para fazer uma retificação de óbito, de desconhecido para Márcio Victor Ferreira.. Em 2008 saiu a sentença retificando a certidão de óbito de desconhecido para Márcio. “Assim que esta sentença saiu, a viúva deu entrada no requerimento do seguro para a seguradora, que, desconfiada, pediu uma investigação”, disse.

De acordo com o delegado, existem muitas falhas a esclarecer no caso. “Primeiro o fato de o laudo do IML não apontar tatuagens no corpo do indigente e a família afirmar que Márcio possuía tatuagens. Segundo por não ter sido constatada a tipagem sanguínea no prontuário médico do hospital.

Além da informação do hospital de que a vítima apresentava marcas de faca o IML não apontar isto no laudo. E mais o fato de um exame necropapiloscópico aparecer somente um ano depois. Temos ainda o fato de aparecer no processo de recebimento do seguro da seguradora um documento em nome de Márcio, após seu desaparecimento, em que ele comunica sua mudança de endereço”, constatou o delegado.

De acordo com a polícia, o exame de DNA vai comprovar se houve o golpe e a partir daí o processo de investigação vai continuar para descobrir quem estava envolvido em todo este processo supostamente fraudulento. “Esta é a terceira vez, em menos de dois anos, que o Nurce realiza uma exumação de corpo. As duas últimas resultaram na prisão de várias pessoas envolvidas em golpes milionários para recebimento de seguros, com participação, inclusive, de funcionários que atuavam no IML”, disse Gomes.