Assalto

Filho do comandante dos bombeiros é assassinado

A violência em Curitiba atingiu nível tão alto que nem mesmo pessoas ligadas às autoridades estão a salvo. No início da manhã de ontem, Jorge Guilherme Marinho Martins, 26 anos, filho do comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, coronel Jorge Luiz Thais Martins, foi assassinado durante tentativa de assalto, no Boqueirão.

Por volta das 6h30, ele e sua namorada, Jéssica de Andrade Casas, 21, foram abordados por marginais que queriam roubar o Gol do rapaz, na Rua Conde de São João das Duas Barras, a apenas oito quadras do Cope (Centro de Operações Policiais Especiais).

Jorge teria reagido e foi morto com pelo menos dois tiros de pistola calibre 765, no peito e na cabeça. Jéssica levou um tiro de raspão no peito e no antebraço direito.

Ela foi internada, sem gravidade, no Hospital do Trabalhador e transferida para o Hospital Vita Batel. Segundo testemunhas, os dois bandidos fugiram numa motocicleta e nenhum suspeito foi localizado pela polícia.

Luta

O crime aconteceu em frente à residência da garota, próximo à esquina com a Rua Tenente Tito Teixeira de Castro. O casal voltava de uma festa e Jorge deixava a namorada no portão.

Antes que Jéssica saísse do carro, um dos marginais se aproximou, abriu a porta do motorista e apontou a arma para o rapaz. Nesse momento, Jorge teria reagido e agarrado a arma. Na briga de braço pela pistola, deu-se o primeiro disparo, que atingiu Jéssica.

Assustada, ela saiu do veículo e correu. Enquanto Jorge e o bandido continuavam lutando no interior do Gol. Vizinhos escutaram o outro marginal gritar “mata ele”. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, mesmo ferida, Jéssica conseguiu revelar detalhes do crime.

Ela disse que Jorge saiu do carro, quando foi atingido pelos tiros. Mesmo ferido, ele deu a volta no veículo e caiu ao lado da porta do passageiro, onde morreu. Há informações de que, quando Jorge viu os criminosos, quebrou a chave na ignição do veículo para que não roubassem o carro.

Fuga

Os suspeitos fugiram numa motocicleta, sem levar nada, e não foram identificados. Rapidamente o Siate compareceu ao local, porém não foi possível salvar o rapaz.

No início da noite de ontem, o Hospital Vita informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que deve divulgar hoje o boletim médico sobre o estado de saúde da garota.

Destroçados sonhos de casamento e estudos


Janaina Monteiro

Aliocha Maurício
Centenas de pessoas participaram do velório.

O grande movimento, na tarde de ontem, na Associação da Vila Militar da Polícia Militar, no Rebouças, para velar o corpo de Jorge, mostra o quanto o rapaz era querido por parentes e amigos.

Segundo a família, cerca de 500 pessoas estiveram na capela da associação, até as 15h, para se despedir do caçula da família. Ele tinha duas irmãs e era carinhosamente chamado de “Menor”. O enterro está previsto para a manhã de hoje, no Cemitério Municipal Água Verde.

Bastante emocionado, o tio do rapaz, o coronel aposentado Mário Martins, 52 anos, ex-diretor do Detran de Paranaguá, disse que o sobrinho retornou ano passado da Europa, onde jogava futebol de salão.

Segundo o tio, Jorge conhecia Jéssica há cerca de três anos e estavam noivos. Além do casamento, planejava retomar os estudos desde que chegou do estrangeiro. Seu desejo era cursar Computação.

“Ele era um grande atleta. Treinou no Atlético Paranaense e jogou em times de Portugal e Itália”, relembrou. Chocado com a tamanha violência na cidade, só resta à família pedir justiça. “Quem f,ez isso deve pagar pelo crime, mesmo que seja menor de idade”, desabafou.

Emoção

Para Antônio Gil, amigo da família, Jorge era um “doce de pessoa”. “Ele era atleticano roxo e sempre que tinha jogo, colocava a bandeira do time na janela de casa”, lembrou, com os olhos cheios de água.

Em nota publicada na Agência Estadual de Notícias, o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, lamentou a morte do filho do comandante dos bombeiros.

“Assim como o pai, Jorge Guilherme era um rapaz cheio de vida, um atleta, uma figura admirada, respeitada e querida por toda família e por todos que o conheciam. Em meu nome e em nome de todos os policiais civis e militares do Paraná, manifesto meus sentimentos e nossa solidariedade aos amigos e familiares de Jorge Guilherme”.

Estatísticas

Giselle Ulbrich

O Boqueirão não lidera o ranking de bairros mais violentos de Curitiba. No entanto, também não figura entre os mais calmos. O bairro registrou oito homicídios entre julho e outubro.

É uma média de um homicídio para cada 10 mil habitantes. Com isso, o bairro conquistou, em agosto e setembro, a 11.ª posição no número de crimes contra a vida.

Já no vizinho Alto Boqueirão, a criminalidade também não deu trégua. O bairro também registrou oito assassinatos nos quatro meses, ou seja, um homicídio para cada 7.300 habitantes. No entanto, ao considerar apenas os meses de agosto e setembro, o Alto Boqueirão ficou na posição de 13.º bairro mais violento.

Força-tarefa na investigação

Janaina Monteiro

Equipes do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Delegacia de Homicídios e da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) estiveram no local do crime e apuraram os primeiros detalhes do caso. A investigação será comandada pela Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV).

Segundo a polícia, os tiros foram ouvidos pelo pai e irmão de Jéssica, que saíram à janela da residência. De acordo com a Sesp, as testemunhas conseguiram ver um homem moreno, alto e magro fugindo em direção à esquina.

O pai da jovem foi encaminhado ao Cope para tentar ajudar a perícia na confecção do retrato falado. Mas, segundo fontes da polícia, ele teria visto o suspeito apenas de costas e as características não foram suficientes desenhar o rosto do criminoso.