Comerciantes de Curitiba reclamam da falta de segurança

?Para agüentar firme no comércio você tem quer ser corajoso?, diz a comerciante Denise Serpa. Ao fazer tal afirmação, ela não se refere, apenas, a questões econômicas. O principal ponto levantado pela dona de uma mercearia no Campo Comprido é a segurança. Muitos comerciantes pedem, mas poucos têm. Seja no centro ou nos bairros, difícil o estabelecimento comercial que nunca foi roubado.

Uma pesquisa da Associação Comercial do Paraná (ACP), realizada em 2007, verificou como estava, para os comerciantes, a segurança no Centro de Curitiba. Da Praça Santos Andrade até a Osório e da Praça Rui Barbosa até a Tiradentes foram entrevistados 270 proprietários. Desses, 36% já foram furtados ou roubados, todos mais de uma vez. Do total, 67% tiveram que investir em segurança privada (desde olheiros até equipamentos mais sofisticados), mesmo assim 79% consideram inseguras as ruas da localidade. O horário mais perigoso para o comércio local é das 18h às 22h.

Segundo a presidente da ACP, Avani Slomp, segurança é a principal reivindicação dos comerciantes, não apenas no centro. Porém, ela diz que na região central de Curitiba, o monitoramento por câmeras de vídeo e os projetos de revitalização já ajudam a diminuir a criminalidade.

Se mesmo com mais movimento, o centro é uma região ainda perigosa para os comerciantes, imagine os bairros e as periferias. Denise Serpa é das que, no Campo Comprido, já foi roubada. ?Fomos assaltados já quatro vezes, em quatro anos. A última vez foi há menos de um ano. Segurança aqui é complicado?, desabafa. O marido dela, Elieser Serpa, diz que todo dia que o comércio abre é um dia de risco. ?Na última vez eles chegaram de capuz, armados, abriram o caixa e levaram o dinheiro?, conta Denise.

O casal de comerciantes completa que ?com a polícia não tem como contar?. ?Não há policiamento. Tentamos conversar com os vizinhos para dividirmos e pagarmos segurança privada, pelo menos para cuidar da quadra. Não temos como investir nisso sozinhos?, afirmam. Uma medida que eles adotam é não deixar dinheiro acumular no caixa.

No mesmo bairro, a farmácia já foi duas vezes roubada. ?Eles chegaram no caixa, armados, colocaram o revólver na cabeça da funcionária e levaram R$ 400 e se mandaram, a pé. Não tem jeito. A melhor coisa e não reagir?, lembra o funcionário Eloy Peres Filho. Ele diz que roubos aos comércios, na região, é comum. Segundo o trabalhador, o motivo ?é que não tem polícia aqui?. ?A distribuidora de bebidas já foi assaltada. A locadora também. Aqui está meio abandonado, de vez em quando passa uma viatura, mas só passa. Só mais presença da polícia já melhoraria a situação?, reclama.

Perigo para casas lotéricas, postos e farmácias

Foto: Chuniti Kawamura

Recalcatti diz que os comerciantes devem se prevenir.

Os estabelecimentos que são roubados com mais freqüência são farmácias, lotéricas, postos de combustíveis e pequenos comércios. Isso é o que registra o delegado-chefe da Delegacia de Furtos e Roubos da Polícia Civil, Rubens Recalcatti. Segundo ele, os roubos acontecem em toda a cidade.

?Isso acontece por uma série de fatores: desemprego, desajuste social, desorganização familiar?, afirma. O delegado ainda completa que quem rouba, geralmente, ?são adolescentes que vêm da Região Metropolitana de Curitiba, grande parte usuária de drogas?. Recalcatti ainda diz que os comerciantes podem, eles mesmos, buscar medidas para se prevenir. ?Entendo que é caro investir em segurança privada, mas é necessário?, diz. O orientação dele é que todas as ocorrências sejam registradas, mesmo que recorrentes.

Como explica o major Douglas Dabul, do Comando de Policiamento da Capital, a Polícia Militar (PM) está, sim, nos bairros. ?O que acontece é que o marginal observa nossa presença e age quando não estamos circulando?, completa. Segundo ele, não tem como permanecer ?em todas as esquinas, em todos os estabelecimentos?. Por isso, ele indica alguns comportamentos de segurança que os comerciantes podem adotar.

Um deles é observar se há pessoas que permanecem muito tempo paradas próximas ao estabelecimento. Outra sugestão é anotar dados de veículos que rondam o local. Por último, ele orienta para que os comerciantes não ?estabeleçam rotina no transportes de valores, ou seja, que façam isso em dias, horários e com valores alternados?. ?O nosso principal objetivo é tirar armas e drogas de circulação, dessa forma estamos também prevenindo outros delitos, como roubo?, conclui. (NF)

Arsenal contra a ação dos marginais

O que as empresas de segurança privadas disponibilizam para os comerciantes vai desde sistemas de alarme, controle de imagens até seguranças armados 24 horas. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Paraná (Sindesp-PR), Jéferson Nazário, a procura por esses serviços só tem aumentado. Até os pequenos comerciantes estão investindo mais em proteção, nem que seja com simples alarmes monitorados.

De acordo com Nazário, atualmente o leque de soluções para segurança é grande. ?Oferecemos segurança de acordo com o investimento que o comerciante disponibiliza. Os resultados são sentidos sensivelmente?, afirma. Ele ainda completa que o único cuidado que o comerciante deve ter é o de não contratar um serviço irregular, não autorizado, de segurança privada. (NF)

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