Tamanho do desastre

Um aspecto relevante chama a atenção de todos quantos acompanham o debate sobre a extensão do desmatamento criminoso da região amazônica e os danos irreversíveis sobre o maior bioma do planeta. Esse é o motivo que nos faz voltar ao tema, para abordar de modo específico o aparente desentendimento instalado entre o presidente da República e os auxiliares diretos a quem confiou a espinhosa missão de zelar pela preservação do que resta do patrimônio natural do País.

A confusão diz respeito aos dados reais do desmatamento que ninguém sabe exatamente quais são, levando cada um a divulgar um dado, ao mesmo tempo que a parte desautorizada contesta abertamente a informação liberada pela outra, muitas vezes invectivando-a de se escudar numa visão preconceituosa e passional, quando não é o caso de pleno desconhecimento técnico-científico do processo.

O comentário é pertinente porque no contexto da discussão há os que se apropriam da faculdade de questionar informes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma das mais sérias instituições científicas em operação no Brasil, notabilizada pelo rigor metodológico de seus estudos e pesquisas.

Para fulanizar, citemos o exemplo intempestivo do governador Blairo Maggi, de Mato Grosso, o estado líder do desmatamento irregular, que se arrogou o direito de discordar dos dados do Inpe e do próprio sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), que segundo sua avaliação ?não seria confiável como instrumento de detecção e não serviria nem mesmo para a formulação de dados estatísticos?.

Ora, se o governo federal mantém em sua onerosa estrutura uma entidade não confiável, então teríamos de ver alguma lucidez na metáfora clínica usada pelo presidente Lula de que muitos pressentem um câncer onde há apenas inofensivo tumor.

Tornando-se indispensável tranqüilizar a sociedade quanto à atuação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, explanou aos jornalistas que o índice de segurança do Deter situa-se num intervalo de 95% a 97%. Assim, a margem de erro admitida para o tamanho do desmatamento na Amazônia varia entre 3% e 5% para mais ou para menos.

O Inpe está disposto a revisar os números, mas jamais a abrir mão de conceitos científicos. O gerente do serviço de monitoramento por satélite, Dalton Valeriano, afirmou que a ciência considera área desmatada a que mesmo com árvores em pé sofreu degradação a ponto de comprometer funções de floresta, tais como a conservação da biodiversidade, hidrologia e estoques de carbono. É o que ocorre na Amazônia.

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