Serra e Marta se enfrentam em debate elegante e quase amigável

São Paulo, 29 (AE) – O último debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT), ontem (29) à noite, na Rede Globo de Televisão, foi bem menos agressivo do que se esperava, revelou um excelente nível de discussão de problemas e teve momentos de elegância e civilidade – cumprimentos, sorrisos, tratamentos pelo prenome e até concordâncias. Marta tentou centrar o debate na questão dos transportes e da educação, pontos fortes de sua gestão, mas aceitou a discussão franca de questões de saúde e admitiu que seu governo não foi bem: “Milagre não dá para fazer”, queixou-se.

Para os eleitores que presenciaram a agressividade das últimas semanas entre os dois candidatos, o debate desta sexta-feira foi um alívio. Desde o começo os candidatos se mostraram elegantes e contidos. Pela primeira vez na campanha um candidato disse que o outro tinha razão. “A prefeita tem razão”, admitiu Serra, logo aduzindo com uma ressalva: “Mas podia ter acelerado mais”. Logo depois, Marta repetiu a fórmula: deu razão a Serra, mas contrapôs uma breve negação. As táticas preferidas de Serra foram insistir nas parcerias com a sociedade e com o governo do Estado de São Paulo; Marta insistiu na idéia de que o eleitorado não deve votar contra sua gestão, já que sua taxa de aprovação é boa, e que Serra vai parar com os seus projetos.

O debate começou com a entrada triunfal dos dois candidatos e um primeiro cumprimento protocolar: Marta chegou com a mão estendida, que Serra apertou com um sorriso aberto. Antes mesmo da primeira pergunta os candidatos começaram a andar pelo palco.

Serra cobrou à exaustão reduções no orçamento para o próximo ano nas áreas de educação e combate a enchentes e fez bateu muito nos aumentos dos impostos e taxas. Citando a reportagem publicada ontem (29) no jornal “O Estado de S.Paulo”, registrou que São Paulo foi o município brasileiro em que a arrecadação mais cresceu. Marta acusou Serra várias vezes de embaralhar números e, quando ele repetiu uma de suas críticas preferidas – a de que abrir uma empresa em São Paulo leva 120 dias – Marta rebateu: “Eu mandei ver. A Prefeitura leva sete dias para abrir uma empresa. O resto fica com o Estado.”

Os candidatos concordaram entre si muitas vezes, mostrando que a primeira preocupação de ambos era não parecer agressivo para o grande público. O debate sobre educação foi menor do que se poderia esperar: Marta frisou os CEUs e Serra reiterou sua tese de que é preciso ter qualidade do ensino e professores motivados.

O tema mais presente no debate foi saúde e Marta teve dificuldades de argumentar em todas as vezes, reiterando que não pôde fazer tudo o que queria. Serra lembrou que o governo do Estado construiu cinco hospitais na cidade nos últimos quatro anos, enquanto a Prefeitura não construiu nenhum.

O formato do debate, que programou perguntas de eleitores supostamente indecisos, favoreceu Serra. A maior parte das perguntas continha críticas à administração petista, o que facilitou a vida do tucano. Quando um dos eleitores perguntou sobre a vida estrangulada da cidade, Marta tentou desviar a resposta para educação e transporte, mas Serra rebateu com o sufoco no trânsito, acusando-a de gastar dinheiro demais no túnel da Faria Lima, e com a dificuldade para as empresas sobreviverem em São Paulo, o que afeta a criação de empregos.

Para defender sua política de transportes, Marta citou uma relação infindável de linhas de ônibus que ela vai incorporar no passa-rápido – e confundiu os telespectadores, numa repetição insistente de promessas que se superpunham. Serra citou os problemas das enchentes e cobrou de Marta por que o orçamento para o próximo ano cortou R$ 24 milhões dos recursos previstos para o combate a enchentes. “Se alguém trabalhou em enchentes fui eu”, rebate a petista.

Ao final do debate, Marta fez um breve discurso dizendo-se vítima de preconceito por ser mulher. Serra fechou a sua participação agradecendo a Marta e à sua família, citando pela primeira vez a netinha que nasceu durante a campanha. Lembrou sua origem humilde e disse que toda sua existência se confunde com a cidade.

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