Seja o que Deus quiser!

Ainda falta muito para o Brasil se tornar uma potência olímpica. Não que não possa vir a ser um dia, mas a participação nativa nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo mostra que o entusiasmo do brasileiro ainda supera, de longe, a organização e até os fundamentos do esporte, como técnica, tática, desempenho físico e psicológico. Estamos num estágio de crescimento, mas estamos disputando competições internacionais somando esforços individuais e na base do “seja o que Deus quiser”.

Assim é que está sendo na folclórica República Dominicana, com sua desorganização caribenha, bem ao gosto do brasileiro, que também deixa tudo para a última hora. Mesmo com tudo isso, não há por que se desesperar. O desempenho nacional tem se mantido constante e até crescido vegetativamente. Mas, é muito pouco para quem tem aspirações de sediar uma olimpíada e dizer com orgulho que é uma potência.

Falta cultura esportiva no País, que ainda prefere ver viradas de mesa e torcer por bancos, leites condensados e outros que põem seu nome esporadicamente em camisas de equipes de vôlei, basquete e outros esportes menos cotados. Ou as estatais que precisam bancar algumas modalidades para que não acabem. É uma pena.

Alguns dirão que falta é política de esporte no Brasil, mas isso não é tudo e nem vai resolver. O que falta são clubes sérios e campeonatos sérios. Sem isso, não adianta nada bolar (com o perdão do trocadilho) um estatuto do desporto, que fomente a prática de esportes, se tudo isso for comandado por essas pessoas que estão aí.

Não escapa ninguém! A renovação nos quadros dirigentes precisa ser urgente. Só assim é que poderemos sonhar com um esporte nativo competitivo em várias modalidades e não ficarmos contentes em conseguirmos prata e bronze em tiros e mergulhos da vida (com todo o respeito a esses praticantes). Temos que entrar para disputar o ouro em tudo e, se não conseguirmos, paciência, mas do jeito que as coisas estão qualquer medalhinha no pan parece um título mundial, embalado pelos entusiasmados locutores da televisão brasileira.

O certo é que quem comanda o nosso esporte faz muito pouco pelo País. Vide o futebol. Quase não foi e ainda mandou uma seleção sub-20 para disputar medalha com outras seleções sub-23. Merecíamos mais respeito por parte da Confederação Brasileira de Futebol, que não difere de outras que estão por aí. Mandando e desmandando. É uma vergonha que dirigentes fiquem tanto tempo com todo o poder sobre um esporte e tudo continue da mesma forma.

Está na hora de o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, começar a mostrar serviço e fazer valer o novo código civil. Somente com o cumprimento da lei é que poderemos esperar dias melhores, com menos corrupção e mais oxigenação no comando das diversas federações e confederações. O País está passando muitas mudanças e motivação não vai faltar para corrigir os rumos do esporte. Caso contrário, vamos continuar como estamos e vibrando toda vez que conseguirmos superar a pobre Argentina. Merecemos mais do que isso, eu acho.

Rodrigo Sell

(esportes@parana-online.com.br) é repórter de Esportes de O Estado.

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