Desdobramentos

Surto de policial em Curitiba será investigado pela Corregedoria da Polícia Civil

Foto: Denis Ferreira Netto

A Corregedoria da Polícia Civil vai abrir quinta-feira (29) investigação interna para apurar o caso do policial que sofreu um surto psicótico em um condomínio residencial no bairro Água Verde, em Curitiba, terça-feira (27). Ele já responde por outros três procedimentos internos na corporação e teve a arma funcional recolhida recentemente. A Polícia Civil ainda não sabe se o policial irá responder na Justiça por algum crime que possivelmente tenha sido cometido terça-feira.

A ocorrência mobilizou um grande efetivo da Polícia Militar (PM), causando bloqueio de diversas ruas do bairro, e durou sete horas, encerrando-se somente após a invasão do apartamento por uma equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Policiais civis da Corregedoria e do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) também acompanharam a situação.

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O surto começou por volta das 7h, quando o investigador de 44 anos quebrou portas do prédio com um extintor, e terminou às 14h, quando policiais do Comando de Operações Especiais (COE) da PM aproveitaram um cochilo do policial para invadir o apartamento e rendê-lo. Ele foi encaminhado a uma clínica psiquiátrica. O temor de que ele estivesse com uma arma não se confirmou na revista do apartamento.

À reportagem, vizinhos afirmaram que quando não estava em crise o policial era um morador normal, bastante solícito com a vizinhança, inclusive. Mas que temiam quando ele tinha surtos, já que tinha acesso à arma – recentemente, o policial teria dado um tiro na própria perna, o que levou ao recolhimento de sua arma funcional.

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A Corregedoria também formalizou no dia do surto a suspensão das atividades do investigador por 90 dias durante a apuração do caso. O policial já estava afastado de sua função na Delegacia de Piraquara. Por isso, a arma funcional dele havia sido recolhida e ele vinha prestando apenas serviços administrativos. A partir de agora, no entanto, ele não desempenhará nenhuma atividade policial pelo período de pelo menos três meses.

Nesse período, o investigador deve permanecer em tratamento. A mãe do investigador, que mora em outro estado, deve chegar a Curitiba ainda nesta quarta para acompanhar o filho no tratamento psiquiátrico.

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Falta de atendimento

Para o Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), o caso do condomínio do Água Verde evidencia um problema recorrente na corporação: a falta de atenção em relação à saúde dos policiais. “Da última semana de 2017 até junho deste ano foram seis casos de suicídio entre policiais civis do Paraná”, lamenta o presidente do Sinclapol, Fábio Rossi Barddal Drumond.

Segundo ele, o trabalho é desgastante, falta estrutura e não há atendimento psicológico adequado para os agentes. “A lei 15.448-2007 estabelece que o governo faça avaliação psicológica dos policiais anualmente, mas isso não é cumprido”, aponta.

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Além disso, o Dumond critica o formato de admissão dos policiais. “Só pedem alguns atestados médicos, entre eles o psicológico. Mas essa avaliação precisava ser feita por alguém da polícia para garantir que a pessoa tem real aptidão para ser policial”, reforça.

Em nota, a Polícia Civil afirma disponibilizar um Centro de Psicologia Jurídica e Atendimento Multiprofissional (CPJAM) para atender os policiais. “Nele, os agentes são submetidos a uma avaliação, orientação e, se necessário, é sugerida a retirada, ou não, da arma de fogo”, diz a nota. O investigador que sofreu o surto terça-feira foi atendido pelo centro psicológico da corporação quatro dias antes da ocorrência no condomínio, na sexta-feira (23).

No entanto, a PC afirma que não realiza avaliação psicológica anual em todos os colaboradores porque essa responsabilidade é da Coordenadoria de Segurança e Saúde Ocupacional (CSO), unidade administrativa da Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (Seap). A avaliação, segundo a nota, deve ser realizada por um médico, um psicólogo e um assistente social, e “é atribuição exclusiva do órgão CSO”.

A reportagem entrou em contato com a coordenadoria para verificar se a avaliação tem sido realizada anualmente, e aguarda retorno.

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