B.O. na festa!

Ganhadora da Mega Sena é agredida e denuncia racismo após confusão em condomínio de luxo na CIC

Foto: Colaboração.

“Voltem para o caminhão de banana que vocês caíram, seus pretos, macacos”, foi assim que teria dito o homem que provocou uma confusão em um condomínio de luxo da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). O episódio, que aconteceu na noite de quarta-feira passada (17), acabou com duas pessoas presas: dois jovens que teriam agredido o homem que os xingou. O ofensor, porém, que também agrediu, sequer foi detido.

Solene Tomaz Rosa, de 44 anos, é a mulher que mora no condomínio e que era a dona da festa, em comemoração ao aniversário do filho, de 18 anos. “Estávamos comemorando, quando chegou o homem, descontrolado e começou a gritar que daria dois tiros em meu marido. Dizia que era para sairmos do condomínio, porque lá não era lugar para a gente”, disse.

Ainda com a boca machucada, pois levou pelo menos seis pontos por causa do soco que levou do vizinho, Solene disse que jamais vai esquecer o que aconteceu. “Nunca tínhamos feito nada para ninguém, nem o tínhamos visto pelo condomínio, mas acredito que o fato de termos ganhado na Mega Sena despertou, talvez, inveja nas pessoas e nem sabíamos”. O prêmio de R$ 47 milhões saiu em 2010.

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Os dois filhos de Solene, entre eles o rapaz que tinha acabado de completar 18 anos, foram presos por terem agredido o homem que lhes ofendeu, os ameaçou e também os agrediu. “Quando ele começou a dizer que daria dois tiros em meu marido, meu filho o empurrou. Outras pessoas o agrediram. Tudo para defender a família, afinal de contas toda ação tem reação. Ele chegou nos agredindo e xingando, nós reagimos”.

Na confusão, o homem que os ofendeu também foi agredido. O vizinho, que é advogado e ex-policial militar, foi levado ao Hospital do Trabalhador para ser socorrido, recebeu atendimento e está bem. “Meus filhos não fizeram o certo ao agredi-lo, mas é por isso que vão responder por isso. Só que o que ele fez não foi o correto e poderia até mesmo ter acabado em tragédia”.

Solene Tomaz Rosa tomou seis pontos na boca após as agressões. Foto: Colaboração.
Solene Tomaz Rosa tomou seis pontos na boca após as agressões. Foto: Colaboração.

Segundo o homem, que acionou a polícia por causa do barulho na festa, pelo menos 30 pessoas foram para cima dele, mas Solene nega. “Foram oito pessoas”. Depois da confusão, os dois filhos foram levados à Central de Flagrantes, da Polícia Civil, e assinaram termo circunstanciado por lesão corporal grave, ficaram dois dias presos e estão em liberdade.

Solene acredita que os filhos foram presos por puro preconceito, não apenas pela agressão que cometeram. “Por que ele, que começou toda a confusão, saiu impune? Se fosse para prenderem pela situação, que tivessem prendido todos que o agrediram também, mas levaram para a delegacia só os negros. Foi puro racismo”.

Medo das ameaças

O advogado que representa a família, Marden Maués, disse que já entrou com as medidas cabíveis. “Só queremos adequar o que foi feito. Inicialmente o que ocorreu foi a tipificação do crime com relação ao agressor para com os meus clientes por injúria, mas na verdade foi injúria racial, que cabe à Justiça comum. Além desses fatos, foram relatados os crimes de ameaça, que antes eram mais veladas e agora estão mais constantes, via rede social e terceiras pessoas, e também queremos incluir o crime de lesão corporal, porque a Solene foi agredida e isso não foi incluído no até agora”, explicou o advogado, detalhando que a mulher deve fazer exame de corpo de delito.

Segundo o advogado, não é possível dizer que a polícia agiu em defesa do homem, mas que alguma coisa estranha aconteceu. “Acho que o brilhantismo e a grandiosidade da PM vai muito além de uma proteção ao ex-policial, mas o calor da situação, que envolvia um ex-colega, pode sim ter levado uma parcialidade na ocorrência”, comentou Marden, detalhando que houve prática de crime que não foi oficializado pela corporação. “Injúria racial e lesão corporal, testemunhados por diversas pessoas, mas não foi adotado o procedimento padrão. No caso, o mesmo procedimento que culminou na prisão dos membros da família injuriada racialmente, agredida e ameaçada por conta de sua cor”.

Para o defensor, o que mais preocupa agora não é só a questão em que a família se envolveu, mas também o que pode vir futuramente. “Eles foram ameaçados, até mesmo pelas redes sociais, e tememos agora que algo aconteça. É por isso que resolvemos agir para intervir e impedir algo pior”.

Investigações seguem

Na noite da confusão, a Polícia Militar (PM) confirmou que foi acionada por moradores do local pelo número 190, para intervir na festa por causa do som alto. Conforme a PM, ao chegarem no condomínio, os policiais verificaram que os moradores já tinham sido alertados e teria havido resistência. A reportagem também entrou em contato com a Polícia Militar, para saber detalhes da ação que levou a prisão de parte dos envolvidos, mas ainda não obteve retorno. A Polícia Civil continua investigando o que aconteceu.

E o vizinho?

A reportagem da Tribuna do Paraná conseguiu encontrar o vizinho que se envolveu na confusão. Apesar disso, foi feito contato (via telefone e mensagem de aplicativo) e a reportagem não obteve retorno. O advogado do homem não foi encontrado.

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