Prisão de Rainha aumenta tensão no Pontal

A prisão do principal líder do Movimento dos Sem-Terra (MST) no Pontal do Paranapanema, José Rainha Júnior, de 45 anos, aumentou um clima de tensão na região. Mais de 500 militantes protestaram hoje (7), durante o Grito dos Excluídos, realizado em Mirante do Paranapanema, cidade onde Rainha foi detido ontem à noite. Os manifestantes pediram a libertação o líder e o fim da "perseguição" ao MST. De acordo com a Polícia Militar, o protesto foi pacífico.

A ordem de prisão foi dada pela juíza Adriana Nolasco da Silva, que atendeu a pedido do promotor Marcos Akira Mizusaki. Também foi decretada a prisão do coordenador estadual do MST, Paulo Albuquerque, e dos líderes Márcio Barreto, Edna Torrioni e Manuel Messias Duda. Eles estão foragidos. Todos são acusados de formação de quadrilha, furto e danos durante a invasão da fazenda Santa Cruz, em Mirante, no dia 15 de junho.

A área foi ocupada por 200 militantes e o proprietário, Kasuioshi Kurata, os acusou de terem matado bois a tiros, incendiado o pasto e furtado 5 mil metros de cercas. O inquérito ainda não foi concluído. O pedido de prisão levou em conta o anúncio do MST de realizar uma nova jornada de invasões este mês no chamado "setembro vermelho".

Preso quando jantava no restaurante de um posto de gasolina, em Mirante do Paranapanema, Rainha alegou que não tinha participado da ação na fazenda. Segundo testemunhas, ele estava em outra cidade quando ocorreu a invasão. Levado à cadeia pública de Presidente Wenceslau, deve ser transferido amanhã para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Caiuá, na mesma região.

É a terceira prisão de Rainha nos últimos 3 anos. Em 2002, flagrado com uma espingarda calibre 12 no carro, foi preso por porte ilegal de arma. No ano seguinte voltou a ser detido após condenação em processo resultante da invasão da fazenda Santa Maria. Em Brasília,o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, informou que a coordenação do movimento entrará hoje na Justiça com pedido de liberdade provisória para Rainha.

"Todos sabemos que é um companheiro inocente e o único crime que ele fez foi lutar pela terra e contra a desigualdade social", disse. Rodrigues que participou da manifestação do Grito dos Excluídos na capital federal, disse que também será pedido habeas corpus em favor dos outros líderes que estão com mandado de prisão. No último sábado Rainha reuniu 1.200 sem-terra em Mirante num ato de desagravo ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A manifestação ocorreu à revelia do MST e revelou um racha no movimento. O coordenador nacional negou as divergências e disse que o MST se empenhará pela libertação de um de seus "líderes históricos".

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, que havia cobrado ação dos órgãos de segurança contra o "setembro vermelho", disse que os produtores rurais vão continuar em estado de alerta. "O risco de invasões não está afastado; pelo contrário, deve aumentar." O secretário de Desenvolvimento Agrário de Mirante, Itamar Cavalcante, simpatizante do MST, criticou a prisão, pois o líder dos sem-terra já havia apresentado sua versão à Polícia Civil.

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