Por 24 horas, argentinos sonharam com risco país inferior ao do Brasil

Como nos últimos seis anos, de forma ininterrupta, o índice de risco do país da Argentina continua, persistentemente, acima de seu congênere brasileiro. No entanto, por quase 24 horas, entre as noites da segunda e terça-feiras, os argentinos acreditaram que finalmente a taxa de risco deste país havia conseguido ser inferior à do Brasil. Diversos analistas e colunistas da imprensa portenha celebraram a notícia. No Ministério da Economia, integrantes da Secretaria de Finanças festejaram. A informação, fornecida pelas agências internacionais de notícias, era que o risco argentino havia "perfurado" a faixa dos 400 pontos básicos e havia alcançado os 303 pontos. O índice do Brasil, segundo as informações, era de 406 pontos.

Mas, tudo não passava de um erro. Ao longo da terça-feira, a dura realidade reapareceu quando o risco argentino marcou 412 pontos, enquanto que o brasileiro estava em 398. Nesta quarta-feira o risco argentino era de 414, enquanto que o do Brasil estava em 399.

A imprensa nativa – que um dia antes havia elogiado o desempenho dos títulos nacionais – colocou a culpa do erro no banco JP Morgan, que elabora o índice de risco do país. A falha teria ocorrido na segunda-feira, quando paradoxalmente os mercados dos EUA estavam paralisados por um feriado, e portanto, a cotação dos títulos argentinos padecia de quase total inatividade. Mas, o JP Morgan nega que tenha emitido tal informação sobre o índice argentino, e atribuiu a confusão à imprensa.

Exceto o jornal "Clarín", que informou corretamente sobre o caso, a mídia argentina – em peso – levou-se pelo entusiasmo de ter superado o Brasil e publicou a notícia errada.

Em agosto de 1995, com os efeitos da crise mexicana, o índice de risco do país chegou a 2.456 pontos. Depois, graças à recuperação do consumo em 1996 foi caindo gradualmente, até que em março de 1997 chegou a 313 pontos básicos. Nunca mais a Argentina viu um índice tão baixo. Novamente, com o início da recessão, em 1998, começou a subir, até atingir 607 pontos na época da posse do presidente Fernando de la Rúa (1999-2001). Um ano depois, o risco já estava em 865 pontos. Na ocasião, Domingo Cavallo retornou ao Ministério da Economia, na categoria de "salvador da pátria". Mas, as dificuldades em implementar o denominado "déficit fiscal 0%" fizeram o risco passar a faixa de 1.000 pontos em abril de 2001.

Dali para a frente, a taxa subiu sem parar, chegando a 2.700 pontos em dezembro desse ano. Com a queda de De la Rúa, e a declaração do calote da dívida pública com os credores privados, a escalada acelerou-se, e em 2002 e 2003, o país conviveu com índices superiores a 5.000 pontos, valor só ultrapassado pela Nigéria. Com a retomada das relações com o FMI, o início das negociações com os credores e a posterior reestruturação da dívida pública, a taxa começou a cair e aproximar-se dos níveis brasileiros.

Nas últimas semanas, a expectativa era que a Argentina conseguiria passar a marca do Brasil, tornando-se desta forma, um país mais atraente para investimentos. Ao longo de agosto, em Buenos Aires, alguns analistas especulavam que a atual crise política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia aumentar o risco brasileiro. No entanto, outros especialistas consideravam que a economia brasileira e os mercados não seriam abalados pela crise.

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