PSD deve enfraquecer oposição ao governo Dilma

Com 31 deputados federais, um governador, cinco vice-governadores e dois senadores, o Partido Social Democrático (PSD) do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, surge no cenário da política nacional como uma legenda forte e que tende a debilitar ainda mais a oposição ao governo Dilma Rousseff.

No dia da assinatura da ata de fundação da sigla, analistas políticos ouvidos pela Agência Estado avaliam que o novo partido “vem ao mundo” facilitar a vida da base governista. “Sem dúvida, enfraquece a oposição”, diz o cientista político Rubens Figueiredo.

Carlos Melo, cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), destaca a “hibridez ideológica” da nova sigla, que deve ter um posicionamento político para cada momento. “Parece-me que o partido quer liberdade para atuar como um pêndulo, como convier. Qual a diferença dele para qualquer outro partido?”, questiona Melo.

Tanto Melo quanto Figueiredo dizem acreditar que a sigla não se diferenciará das demais legendas. “Não é um partido de massas e sim de quadros, de lideranças. É um partido que nasce de cima para baixo”, avalia Figueiredo, ao comparar o PSD ao PT, que tem em sua história a ligação com os movimentos sociais. “O partido que surge vai ter densidade mais em torno das lideranças do que de um ideário”, diz Figueiredo. “O PSD vem como um partido para disputa eleitoral e não para fazer representação”, define o cientista Marco Antonio Teixeira.

Formado em sua maioria por egressos do DEM e do PPS, o partido de Kassab surge como uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, com expectativa de ter em seus quadros 40 parlamentares. “O número é muito significativo e deixa o cenário mais tranquilo para o governo”, observa Teixeira.

Legendas

Melo lembra que a sigla reúne os insatisfeitos com suas antigas legendas que buscam através do novo partido se aproximar da máquina do governo federal, algo que não tinham a liberdade de fazer quando estavam na oposição. “Os partidos não sobrevivem sem acesso à maquina”, explica Melo. A análise coincide com as recentes declarações do prefeito da capital paulista, que disse estar se livrando “da camisa-de-força do DEM” ao deixar o partido.

De acordo com os cientistas políticos entrevistados, embora esteja se “divorciando” dos partidos de oposição, é difícil prever se o PSD terá chances de abocanhar em 2012 parte significativa do eleitorado do DEM e do PSDB, principalmente a classe média reivindicada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “A viabilidade política é conjuntural. Vai depender do prestígio de suas lideranças”, diz Teixeira.

Em seus primeiros passos, o PSD se mostra, segundo os analistas, um partido essencialmente liberal e sem vínculo com setores sociais. “De povão não tem absolutamente nada”, afirma Teixeira. Entre o vermelho da esquerda e o azul dos conservadores, a legenda social-democrática foi “batizada” com o tom e o formato de um logotipo que se assemelha ao do PSDB do ex-governador José Serra, aliado próximo de Kassab.

“Quem disse que o Serra não pode ter o pé em duas canoas? Talvez seja até conveniente para o PSDB essa semelhança”, interpreta Melo, ao lembrar que os novos integrantes do PSD são mais alinhados a Serra do que ao senador tucano Aécio Neves (MG), preferido do DEM numa eventual aliança com o PSDB para as eleições presidenciais de 2014.