Reviravolta

Dilma dá recado ao mundo e diz que críticas serão contra todos

O Brasil contrariou dez anos de apoio ao Irã na Organização das Nações Unidas (ONU) e promoveu uma reviravolta em sua posição. Mas por determinação da presidente Dilma Rousseff, o Brasil aproveitou a reunião da ONU em Genebra para lançar críticas também contra o Ocidente e alertar que vai questionar violações em todos os países, sem fazer distinções.

Nesta quinta-feira, a diplomacia brasileira foi festejada por ONGs e por democracias. “A posição do Brasil está evoluindo e isso é algo muito positivo para o mundo”, declarou a Anistia Internacional, por meio de sua assessoria. Julie de Rivero, representante da Human Rights Watch, definiu o voto brasileiro como “o mais importante do País tomado nos últimos anos”. “O Brasil já começa a ter sua imagem mudada”, disse.

A orientação do Itamaraty para votar a missão na ONU votar contra o Irã chegou apenas nos últimos instantes, depois que a posição acabou sendo sugerida pela própria missão do Brasil em Genebra. Mas o governo teve de mostrar muita diplomacia para explicar a posição sem ferir o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não apenas por conta da relação entre Lula e Dilma, mas também porque os diplomatas brasileiros na sala eram exatamente os mesmos que, há um ano, saíam ao apoio de Teerã.

A primeira justificativa do Brasil é de que o País abriu por uma década uma oportunidade para que o Irã colaborasse com a comunidade internacional, o que não ocorreu. Segundo a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, o Brasil em 2001, ainda sob Fernando Henrique Cardoso, se absteve da renovação do mandato de um relator para investigar o Irã diante do “compromisso” de que Teerã de que iria cooperar.

De fato, o Irã recebeu seis relatores da ONU a partir de 2001. “Mas desde 2005 e apesar de diversos pedidos nenhuma visita (da ONU) ocorreu “, alertou a embaixadora. Segundo o Itamaraty, outra preocupação foi o fato de que o Irã deixou de respeitar a moratória contra a pena de morte.

Por esses motivos, o Brasil considerou que estava na hora de um novo relator independente avaliar a situação no Irã e pediu que Teerã voltasse a cooperar.

Contrapeso – Mas o Brasil não criticou apenas o Irã. Em seu discurso, a embaixadora diz que a esperança do governo é de que a resolução aprovada ontem marque um caminho de “coerência e consistência quando o mundo de deparar com situações similares”. Em outras palavras, Dilma não quer seletividade ao tratar de violadores de direitos humanos.

Não por acaso, o governo fez insinuações sobre as violações aos direitos humanos em outros países, inclusive no Ocidente. Acusou indiretamente democracias como a dos Estados Unidos de não respeitar a moratória contra a pena de morte e questionou por que outros países não tinham seus casos levados à ONU.

A questão do Egito nunca chegou a ser tratada na ONU e nem as guerras do Iraque ou no Afeganistão. “A presidente Dilma deixou claro que vai olhar para a situação dos direitos humanos em todos os lados”, avisou a embaixadora.

Para ela, os países que copatrocinaram a resolução deveriam ser coerentes com o que pedem em relação ao Irã e também ter a coragem de trazer outros países ao debate se violações forem identificadas. “Todos os países, sem exceção, têm desafios a superar na área de direitos humanos”, apontou.

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