Escândalo na capital

Derosso só falou o que quis no depoimento

O presidente da Câmara Municipal de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB) foi ouvido, nesta quinta-feira, pela Comissão de Ética da Casa, sobre as irregularidades nos contratos de publicidade, que teriam beneficiado a agência de sua mulher, Cláudia Queiroz Guedes. Sem se complicar, mostrando muita tranquilidade, Derosso não respondeu a nenhuma pergunta que envolvesse o nome de sua esposa, Cláudia Queiroz, dizendo que só falará em sessão fechada. Uma nova sessão, secreta, deverá ser marcada para a próxima semana

Derosso disse, no entanto, que não tinha envolvimento com Cláudia Queiroz na época da licitação e que, na assinatura do contrato, Queiroz já não era mais funcionária da Câmara. Derosso alegou que era praxe na Câmara prorrogar os contratos de publicidade pelo período máximo de 60 meses permitido pela licitação e que esses foram os únicos aditivos aos contratos, que, segundo ele nunca foram aditivados para elevar os valores. Segundo o presidente, os contratos “representaram uma economia para a Casa pois reduzimos a comissão das agências de 20% do valor dos anúncios, para 15%”. Ele disse, ainda, que dos R$ 5,1 milhões recebidos em cinco anos pela agência Oficina de Notícias, R$ 3,6 milhões foram repassados para grandes veículos de comunicação da cidade.

O presidente se exaltou e culpou a imprensa quando perguntado pelo vereador Valdemir Soares (PRB) se via ligação das denúncias com a possibilidade de ele vir a ser o candidato a vice-prefeito de Luciano Ducci (PSB) no ano que vem. “Aí o senhor tocou na ferida. A questão política. Sempre defendi que o ex-deputado Gustavo Fruet fosse vice do Ducci, nunca me coloquei como candidato. Mas, talvez, a mídia política decidiu massacrar, sem respeito, sem ética, um nome que vinha despontando. Mas vou mostrar que tudo foi feito coletivamente e com respaldo jurídico”, disse.

Derosso não soube responder se entre os veículos contratados pelas agências que prestavam serviço para a Câmara para divulgar material do Legislativo estavam alguns de propriedade ou com ligação a vereadores. Ao justificar a contratação de jornais de bairro, para divulgara publicidade da Casa, Derosso disse que queria que as informações sobre os vereadores chegasse a todos os curitibanos e exemplificou. “Se, na minha primeira eleição, tive votos basicamente só do meu bairro, o Xaxim, hoje tenho eleitores em toda a cidade, porque todos conhecem nosso trabalho”.

A sessão começou conturbada. Dentro do plenário, os vereadores não se entendiam sobre as regras da reunião, como o tempo que cada vereador teria para fazer perguntas a Derosso e sobre a possibilidade da presença de assessores parlamentares no plenário, do lado de fora, integrantes do movimento que pede o afastamento de Derosso, proibidos de entrar no plenário, iniciaram uma manifestação contra o presidente da Casa e a proibição de acesso.

Líder da oposição na Câmara, o vereador Algaci Túlio (PMDB) questionou a declaração de Derosso de que tudo foi feito coletivamente. “Aprovamos um orçamento genérico, Nào temos acesso a contrato por contrato. Por isso que propusemos a criação da comissão de controle interno”, disse. Algaci comentou, também, o andamento do depoimento até agora. “Ele está no direito dele (de não responder perguntas que julga pessoais), muito bem orientado e, de certa forma, seguro. Mas estão claras as irregularidades”, disse. Mas Algaci disse não entender porque Derosso não respondeu nada sobre Cláudia Queiroz. “Estamos fazendo perguntas sobre uma licitação. Sobre contratantes e contratados. O nome dela só é citado porque ela foi contratada pela Câmara. Não há nada de íntimo nisso”, disse.

A oposição saiu bastante insatisfeita da reunião, já que todas as principais questões levantadas envolviam o nome de Cláudia Queiroz e, por isso, com a alegação do constrangimento, não foram respondidas por Derosso. “Fiz uma pergunta bem específica que ele não havia respondido e continuou sem resposta”, disse Jonny Stica (PT). Uma das questões do parlamentar para Derosso foi sobre a diferença entre o prazo do contrato de publicidade estipulado no edital e o contrato firmado com as empresas vencedoras. “O edital estipulava contrato de prestação de serviços pelo prazo de 12 meses. Já a cláusula sétima do contrato estabelecia duração de 24 meses. O presidente não explicou esta diferença”.