Entrevista - Alfredo Sirkis

Crise no PV pode culminar na criação de um novo partido

Presidente do diretório estadual do PV do Rio e um dos assessores mais próximos da ex-senadora Marina Silva, o deputado federal Alfredo Sirkis confirmou que há um clima beligerante que divide a legenda e que pode culminar na criação de um novo partido. O parlamentar, que integra o grupo Transição Democrática, afirma que há boicote da atual direção da legenda contra pessoas ligadas a Marina e citou como exemplo a inviabilização da filiação de uma das filhas da ex-senadora ao diretório regional da sigla no Distrito Federal, no ano passado. Ainda de acordo com Sirkis, é inaceitável que o deputado federal José Luiz Penna (SP) seja presidente da legenda por 12 anos e afirma que a decisão na semana passada da Executiva Nacional de prorrogar os mandatos da atual direção em até um ano ocorreu de forma truculenta. Para ele, o clima é de “quase ódio” em relação à Marina e seus aliados.

P – Quais são os principais pontos práticos de discórdia no PV?

R – Acho que a ideia de um presidente por tempo indeterminado, podendo até ser vitalício, é totalmente inaceitável. Acho que o presidente do PV tem que ter um mandato de dois anos, não ser reelegível, e tem que ser um coordenador. E não exercer o poder de forma vertical. O Pena preside o PV nos últimos 12 anos. Isso representa três mandatos presidenciais no Brasil e não existe nenhum outro partido – com exceção do partido do Eymael – que tem um único presidente há tanto tempo. Já foi o suficiente.

P- Há outras divergências?

R – Acho que concepção de partido que o Zequinha Sarney (MA) tem é equivocada. A atuação dele como parlamentar ambientalista é impecável, mas a visão dele de partido é uma visão de crescimento quantitativo em cima de um volume grande de políticos tradicionais.

P – Existe pressão para aceitação de políticos sem identidade com a legenda?

R – Ele comentou na última reunião da Executiva que tinha feito um grande esforço para trazer o prefeito de Salvador (João Henrique Carneiro), o que era contrário à vontade do partido na Bahia. E trata-se de um prefeito completamente desmoralizado e queimado, que colocou a cidade num estado deplorável. Houve época em que ele defendeu a fusão do PV com o PSC. Ali há, de fato, uma divergência. Eu acho que o partido deve crescer necessariamente na cidadania e atrair políticos com mandato que tenham uma profunda afinidade ideológica e programática conosco. É melhor ser um partido menor e coerente do que um partido dentro da matriz tradicional da política brasileira.

P – A senadora Marina Silva e de seu grupo estão representados no comando do PV?

R – Sim. Houve um crescimento da Executiva do partido, que está gigantesca, com 58 pessoas. O que propiciou que o poder de fato seja exercido por um grupo quase secreto em torno do presidente, uma vez que a Executiva ficou quase cinco meses sem se reunir.

P – E a situação nos Estados?

R – Houve muitos problemas. Principalmente, nos Estado Amazônicos. Em alguns lugares, houve até boicotes a pessoas que entraram com a Marina no partido. Situações muito sérias aconteceram no Amazonas, no Mato Grosso, e em outros estado. E mesmo em Brasília, a própria filha da Marina, segundo ela, não conseguiu se filiar.

P – Por quê?

R – As coisas nunca são colocadas explicitamente. São sempre uma névoa, um fog burocrático. Não houve explicação.

P – Quando foi isso?

R – Durante a campanha. Pode ter tido alguma confusão, alguma burocracia, mas, de fato, houve esse problema em vários lugares de pessoas não conseguirem se filiar. Órgãos de reunião que não se reúnem há muito tempo e decisões que são tomadas de forma totalmente solitária por presidentes estaduais que fazem parte Executiva Nacional e que há uma certa clientela que se cria como base de sustentação do atual presidente.

P – Isso ocorre em quais diretórios?

R – Você tem graduações. Os problemas mais sérios ocorrem nos Estados Amazônicos e nos Estados do centro do país. E um ou outro Estado do Nordeste.

P – No fim desse processo, existe ou não a possibilidade de se criar um novo partido?

R – Não diria que é impossível. Mas não estamos trabalhando com essa hipótese nesse momento. Trabalhamos com a hipótese de diálogo. O problema é que criou-se uma coisa que nunca existiu dentro do PV. Há um clima de intimidação. E tem gente que tem medo de se posicionar porque acha que pode sofrer represálias. Vejo um clima que eu nunca imaginei no partido. Há um clima quase que de ódio em relação a gente. Uma coisa muito radicalizada.