Crise entre Bernardo e Requião tem Lula como pivô

Aliados na eleição, vez por outra, peemedebistas e petistas se desentendem quando o assunto é administração federal.

Ontem, o governador Roberto Requião convidou o deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR), presidente da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, para expor suas opiniões sobre o governo estadual na reunião do secretariado do próximo dia 21. Foi uma réplica às críticas que o deputado petista fez ao governador, em entrevista concedida ontem à rádio CBN, onde Bernardo reagiu a declarações negativas de Requião sobre o governo Lula publicadas na Folha de S.Paulo.

No jornal paulista, o governador atacou novamente o que considera como submissão do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva ao Fundo Monetário Internacional e aos agentes financeiros internacionais. Em artigo assinado pelo jornalista Fernando Rodrigues, o governador defende que o governo Lula se torne mais ousado, como o do presidente venezuelano Hugo Chávez. “Acho que esse governo do PT deve ser hospitalizado para receber uns 2 ml de sangue do Chávez na veia. Só 2 ml, pois não recomendo uma transfusão completa”, disse.

Ao ser questionado sobre a posição de Requião, o deputado petista revidou. Disse que as opiniões do governador paranaense sobre o governo Lula não têm repercussão, já que ele vai pouco a Brasília e não tem muito diálogo com a bancada federal. Bernardo disse ainda que o governador promove avaliações críticas do governo Lula nas reuniões semanais do secretariado quando seria mais útil se analisasse a sua própria administração.

Da mesma forma que Bernardo não gostou da entrevista de Requião ao jornal paulista, a entrevista do deputado petista também desagradou ao governador. No final da tarde, foi encaminhada ao deputado uma carta assinada pelo assessor especial Benedito Pires chamando Bernardo para ser o próximo conferencista da chamada “escolinha” das terças-feiras. No convite, o governo pede que Bernardo “exponha e debata claramente as críticas que tem feito ao governo do Paraná”. E caso Bernardo não aceite o convite, a carta recomenda que ele se “abstenha” das críticas ao governo de Requião.

O texto do convite tem pinceladas de ironia. “Com freqüência, Vossa Excelência tem feito críticas à atuação do governador do Paraná. Como o senhor milita num partido aliado, gostaríamos que suas críticas fossem feitas também internamente, e nada mais apropriado e democrático para isso do que as reuniões das terças-feiras. Todos nós estamos ansiosos para ouvir o que o desagrada e também, é claro, para aprender com o senhor. Afinal, não podemos prescindir de sua aguçada inteligência e nem deixar escapar a ocasião de ouvir as suas perspicazes observações”, diz o convite.

Espaço cênico

Ao ser informado do convite, o deputado Paulo Bernardo disse que vai declinar. “Essa escolinha do professor Raimundo parece muito teatral para um debate como o que nós precisamos fazer. Não me sinto muito motivado porque não é um ambiente propício para o debate, já que ninguém tem coragem de discordar do que é dito lá”, revidou.

Para o deputado petista, o governador, que aprecia tanto o exercício da crítica, deveria estar mais aberto a ela. “Eu dei a minha opinião a uma entrevista que o Requião deu. Eu acho normal e legítimo que ele faça as críticas. Mas ele também tem que saber ouvir críticas. Pelo que vejo, ele se sente mais à vontade e confortável na posição de crítico feroz do governo Lula. Ele gosta de fazer críticas, mas não tem paciência para ouvir nenhuma”, disse o deputado. E acrescentou: “Se o governador quiser conversar comigo sobre a administração dele, que me ligue. Esses dias, o secretário Stephanes (Administração) me ligou pedindo ajuda na liberação de verbas para o estado e eu o atendi”.

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