Pesquisas para obter veneno da aranha-marrom utilizam clonagem molecular

Os pesquisadores do Laboratório de Matriz Extracelular e Biotecnologia de Venenos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenado pelo professor Silvio Sanches Veiga, estão procurando obter o veneno da aranha marrom por meio de técnicas de clonagem molecular.

A pesquisa é resultado de um projeto patrocinado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná denominado ?Biodiversidade, Toxinas e Aplicação Biotecnológica?, cujos recursos, no valor de R$ 200 mil, são provenientes do Fundo Paraná para o desenvolvimento da ciência e tecnologia.

?O método permite uma quantidade maior de veneno produzida e pode ser usado para a fabricação de soros e propiciar novos estudos na área da Biotecnologia?, afirma o professor Oldemir Carlos Mangili, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Animais Peçonhentos (Lipape), também da UFPR.

Segundo o professor, de 2003 até hoje já foram defendidas quatro teses de mestrado e uma de doutorado a respeito da aranha marrom e outras sete estão em andamento, sendo quatro de mestrado e uma de doutorado. Além das teses, quatro artigos científicos já foram publicados em revistas científicas internacionais.

Ampliação

Os estudos desenvolvidos pelos pesquisadores também já encontraram no veneno da aranha marrom diversas outras substâncias que poderão ser usadas para o tratamento de lesões necróticas na pele e renais em pessoas picadas por esta espécie de aracnídeo.

A análise experimental do veneno da aranha marrom mostrou ainda a presença de componentes com grande potencial para a produção de remédios, como anticoagulantes, enzimas proteolíticas (proteínas que digerem proteínas), elementos vaso-ativos, anti-inflamatórios e proteínas que podem inibir o crescimento de tumores. Também se está a procura de substâncias com ação anestésica local ou relaxante muscular, pois no momento da picada a maioria das vítimas diz não sentir dor.

Vacina

Mangili diz que um trabalho realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já resultou na obtenção de uma proteína não tóxica, que quando inoculada em coelhos faz com que esses animais produzam grandes quantidades de anticorpos que reconhecem e neutralizam o veneno da aranha marrom.

?Essa contribuição científica representa a base inicial para a produção de uma vacina eficiente contra o veneno da aranha marrom?, afirma o professor, ressalvando que sua utilização necessita de estudos adicionais e também do interesse das autoridades de saúde pública.

De acordo ainda com o professor Mangili, os pesquisadores da UFPR também detectaram no veneno da aranha marrom a capacidade que este tem de romper membranas como a dos vasos sangüíneos e a dos glomérulos renais (pequenos filtros dos rins), causando, muitas vezes, insuficiência renal e até o óbito.

Usando esta característica, os pesquisadores fizeram experimentos com um tumor desenvolvido em ratos e posteriormente colocado em uma solução com o veneno da aranha marrom. Nesta preparação, o veneno conseguiu romper a cápsula do tumor.

?O que o veneno fez foi desorganizar a estrutura da membrana basal do tumor. A idéia agora é utilizar o componente do veneno envolvido com esta toxicidade, que já foi clonado, e utilizá-lo no desenvolvimento de fármacos que possam ser úteis na terapia de alguns tipos de tumores?, informa Mangili.

O professor diz também que está se procurando um método que identifique a concentração do veneno presente no sangue da pessoa picada pela aranha marrom. ?Isso permitirá o uso da quantidade adequada de soro para cada caso?, explica.

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