Pescadores paranaenses perdem a audição por não usarem protetores

Uma pesquisa realizada com 150 pescadores do Litoral paranaense revelou que pelo menos 135 deles sofrem algum tipo de deficiência auditiva. O motivo seria a exposição contínua ao alto ruído do motor do barco, sem nenhuma proteção nos ouvidos.

Os números foram divulgados pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), com sede em São Paulo, que está desenvolvendo um Programa Nacional de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho nas Atividades de Pesca e Mergulho Profissionais, que visa promover a segurança e a saúde dos trabalhadores da água.

A engenheira civil e técnica de segurança do trabalho Evelyn Joice Albizu, afirmou que ainda não é possível dizer como vivem os pescadores. "Até hoje, nunca um estudo foi realizado para conhecer a vida desses trabalhadores", afirmou.

O dado alarmante de que 90% dos pesquisados apresentam um nível de surdez elevado, criou uma certa tensão entre os pesquisadores. "Se entre os 150 entrevistados quase todos se queixaram de problemas de audição, podemos supor que, se essa pesquisa se estender entre todo os pescadores do Litoral paranaense que usam embarcações com motores que apresentam alto nível de ruído, teremos um número muito mais alarmante", explicou Evelyn.

Pela legislação brasileira, o nível máximo de ruído permitido é 85 decibéis, durante oito horas, com um intervalo de doze horas. Tempo que o ouvido leva para recuperar a deformação causada pelo barulho.
O ruído causado pelo motor dos barcos utilizados pelos pescadores chega a um nível próximo a 105 decibéis. Isso equivaleria a o barulho que uma britadeira, utilizada para quebrar concreto.

"O ouvido humano, quando exposto a ruídos muito fortes, sofre uma deformação. No caso dos pescadores seria necessário que ficassem no máximo meia hora expostos ao barulho do motor. Mas isso não acontece. Conhecemos casos de pescadores que ficam três, quatro e até doze horas seguidas sob o intenso barulho do motor", advertiu Evelyn.

Protetor

Ao contrário do que se pensa, ficar surdo por causa de altos níveis de barulho não significa ficar sem nenhuma audição. A pessoa ouve um ruído constante, mesmo que ela não consiga ouvir mais nada. Edinal Tavares, pescador há 10 anos, diz que começou a escutar um barulho no ouvido quando ia dormir. "Todas as noites eu deitava e quando ficava em silêncio, ouvia um barulho muito forte. Não tinha idéia de que isso fosse causado pelo ruído do motor do barco", afirmou.

Para diminuir os problemas causados aos pescadores, eles deveriam usar um protetor de ouvido. O mais comum de cor laranjada e feito de silicone não custa mais que R$ 2. O problema segundo Evelyn é que não se acha esse equipamento para venda nas lojas do Litoral. Outra solução seria diminuir o ruído dos motores.

Estudos

Para o chefe da Divisão de Conjuntura Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Luiz Roberto de Souza, todo projeto que for desenvolvido para orientar os pescadores é bem visto. "A Secretaria e suas vinculadas sempre trabalham para levar informação aos aqüicultores e piscicultores do Estado", disse.

Segundo ele, o estudo que a Fundacentro vem realizando com os pescadores é de importância para se conhecer os problemas que afetam sua saúde. Os resultados alcançados nessa área podem ser levados a outras, como é o caso dos agricultores. "É importante lembrar que o barulho do motor do barco é equivalente ao do motor do trator, utilizado nas lavouras, isso quer dizer que o problema não é restrito apenas aos pescadores", alertou Souza.

A Fundacentro quer expandir o projeto para atender todos os pescadores do Litoral do Paraná, e em breve a todos do Estado. "Temos que fazer estudos sobre outros problemas, como a catarata causada pelo reflexo do sol na água. Mas para isso precisamos de tempo e mais condições para colocar em prática nossos projetos", concluiu Evelyn. 

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