Tragédia anunciada na Estrada da Ribeira

Fotos: Valquir Aureliano / GPP
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Obra da década de 30
não suporta tráfego pesado.

A sensação de olhar a ponte sobre o rio Capivari, na BR-476, logo após a passagem de um caminhão é de que a ponte vai cair a qualquer momento. Se alguém se arrisca a ficar sobre ela durante a passagem de carros pesados, a situação piora. A ponte balança de maneira impressionante e as fissuras entre as partes que compõem a edificação permitem que se veja o rio que passa por baixo. A situação é tão grave que, desde a semana passada, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) resolveu limitar o peso dos veículos que trafegam pela ponte em 20 toneladas. Também não se pode cruzar o local acima de 20 quilômetros por hora.

O problema é que, com a queda da ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, a questão da ponte na Estrada da Ribeira foi deixada em segundo plano. Como não há qualquer sinalização no local informando sobre as restrições e não existe balança para verificar o peso dos caminhões, veículos pesados continuam passando pelo local a toda velocidade, sem desconfiar do perigo.

A via faz a ligação de municípios como Tunas do Paraná e Bocaiúva do Sul com Curitiba. De Tunas, os caminhões vêm carregados de madeira, já que no local existem diversas indústrias do gênero. Quem mora na região diz que já se acostumou com o tráfego pesado. "Não tem balança e é dia e noite caminhão de 40, 50 toneladas passando por aqui. A ponte balança que a gente pensa que vai cair a qualquer momento", afirma o operador Ezequiel Mutin.

Normal

De acordo com o coordenador do Dnit no Paraná, Rosalvo Gizzi, a situação da ponte sobre o Rio Capivari na BR-476 é delicada, mas não é preocupante. "Já fizemos alguns reforços na estrutura e a obra de reparo deve começar nos próximos dias. Quanto ao fato de a ponte balançar, isso é normal e não compromete em nada a segurança. Toda ponte balança", diz.

Segundo o engenheiro supervisor da Unidade Local de Colombo do Dnit, Ronaldo de Almeida Jares, foi decretada emergência para resolver o problema na ponte. "As obras já deveriam ter começado, mas com o desabamento da outra ponte na BR-116, houve um atraso", disse. Jares explica que a ponte na BR-476 teve um problema estrutural. Sua base de sustentação está comprometida, já que ela foi construída na década de 30 e não está preparada para agüentar um tráfego tão pesado. "Faremos o reforço da estrutura e o alargamento da ponte, porque hoje não passa mais que um carro grande por vez no local", disse.

Como não há como fazer desvios naquele trecho, a obra será feita em meia pista. Jares disse que na semana que vem devem ser colocados sonorizadores na pista para obrigar os motoristas a diminuírem a velocidade. Já o controle de peso ficará sob responsabilidade da polícia. A obra deve durar seis meses.

Prefeita alerta para perigos

Para a prefeita de Bocaiúva do Sul, Lindiara Santana Santos, não é só a ponte sobre o Rio Capivari, na BR 476, mais conhecida como Estrada da Ribeira, que precisa de reparos. "Depois do acidente na BR-116, o fluxo nesta estrada aumentou e o asfalto, que já estava bastante danificado, está praticamente intransitável", disse. A prefeita afirma que o Dnit precisa olhar com atenção o estado da estrada que liga Bocaiúva a Curitiba.

Apesar da situação complicada, está prevista para maio a conclusão da pavimentação da Estrada da Ribeira. De acordo com Joel Malucelli, proprietário da empreiteira responsável pela obra, faltam cerca de 20 quilômetros para pavimentar. "O prazo de conclusão da obra é junho, mas vamos entregar antes", disse. Se isso realmente acontecer, serão 90 quilômetros pavimentados.

Maluceli afirmou ainda que a última parte da obra vai custar cerca de R$ 20 milhões. A verba para essa última etapa ainda não está confirmada, "mas vamos concluir a obra da mesma forma, porque sabemos da importância deste trabalho", afirmou Malucelli.

DNIT restringe passagem de caminhões

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Erosão ameaça ponte
que ainda está de pé.

Está proibida, a partir de hoje, a passagem de caminhões com mais de 45 toneladas na ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, em Campina Grande do Sul. Depois do acidente na última terça-feira, quando uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas com a queda parcial da ponte que liga Curitiba a São Paulo, a ponte de acesso no sentido São Paulo-Curitiba está funcionando em pista dupla.

Para evitar que haja novo desabamento de terra na cabeceira da ponte, comprometendo a estrutura da edificação, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) resolveu tomar esta precaução. Além disso, serão colocadas lonas sobre o terreno da cabeceira, para conter a água da chuva.

De acordo com o coordenador do DNIT no Paraná, Rosalvo Gizzi, não há riscos de nova queda. "Essa limitação no peso dos caminhões que passam pela ponte é de caráter preventivo. Mas volto a dizer que não existe qualquer possibilidade de queda de ponte", afirmou.

O engenheiro supervisor da Unidade Local de Colombo do DNIT, Ronaldo de Almeida Jares, afirmou que os caminhões pesados terão que usar desvios em Registro (SP) e no Contorno Leste (PR) para não passar pelo local. Como não existem balanças de pesagem na rodovia, o controle deverá ser feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

De acordo com a polícia, caminhões bitrens, rodotrens e com cargas excedentes que necessitem de licença especial não poderão passar pela ponte entre os quilômetros 41 e 43 (onde está sendo feito o desvio). A polícia informou ainda que a medida é de caráter preventivo e terá validade até que os técnicos do Dnit concluam as obras de estabilização do aterro, na cabeceira da ponte que está em operação.

O DNIT também comunicou a decisão aos sindicatos nacionais e federações de transportes de cargas. Os órgãos estaduais de trânsito foram contatados para não expedirem autorizações de deslocamento de cargas acima do limite pela BR-116.

Na segunda-feira, serão colocadas placas informando sobre a proibição em pontos estratégicos da rodovia, como a saída do Rodoanel, em São Paulo, a divisa entre os dois estados e as proximidades da ponte. Segundo Gizzi, em razão da ausência de balanças para fiscalização das cargas no trecho, a PRF foi orientada para fazer a aferição através das notas fiscais. "Os policiais têm a configuração dos caminhões pelas suas características, como o número de eixos. Esses veículos serão parados e inspecionados."

Fendas

Com a chuva contínua dos últimos dias, abriram-se fendas debaixo da ponte e os deslizamentos de terra são visíveis. Segundo Jares, estas fendas são preocupantes mas não o suficiente para decretar a interdição do local. Jares disse que o preenchimento dessas fendas será feito hoje e, com a cobertura de lona na cabeceira, o problema não voltará a acontecer.

A obra de contenção provisória do terreno na cabeceira da ponte deve começar só na segunda-feira. Será feita uma espécie de grampeamento do aterro, mas a obra definitiva será uma cortina que terá a função de conter e comprimir o maciço. O supervisor falou que três empresas diferentes, especializadas em contenção, reconstrução e terraplanagem, serão contratadas para efetuar os trabalhos.

Após três dias do acidente, os mergulhadores do Corpo de Bombeiros finalizaram as buscas para verificar se outros veículos também caíram com o desabamento da ponte. Ontem, os únicos trabalhos que estavam sendo realizados no local eram para a retirada dos destroços do caminhão conduzido por Zonardi José Nascimento – que morreu no acidente – e a recuperação dos cabos de fibras óticas do sistema de telecomunicações, rompidos com a queda da ponte.

MPF vai analisar queda

O Ministério Público Federal instaurou um procedimento de investigação criminal para apurar os culpados pela queda da ponte na BR-116. A investigação, que ocorre neste primeiro momento em caráter interno, é coordenada pelo procurador da República João Francisco Bezerra de Carvalho. Ainda não existe prazo para conclusão das investigações.

O deputado estadual José Domingos Scarpellini (PSB-PR) entregou ontem ao Ministério Público Federal um dossiê com documentos sobre o caso do acidente na ponte da represa do Capivari. Scarpellini quer responsabilizar, criminal e administrativamente, os diretores do Dnit e o ministro dos Transportes, Alfredo do Nascimento, pelo acidente. "Eu enviei um ofício ao ministro, no dia 13 de janeiro, falando das péssimas condições da rodovia e alertando sobre os perigos de acidente. Nada foi feito", disse. O material entregue por Scarpellini será analisado pelo Ministério Público.

Caminhoneiro gasta mais

Quem não está gostando dos transtornos causados pela queda parcial da ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, são as empresas transportadoras de cargas.

Por um dos caminhos alternativos, via Ponta Grossa, são 300 quilômetros a mais e nove pedágios. Calcula-se que só o diesel gasto a mais no desvio custe R$ 225 por caminhão. Já os nove pedágios somam R$ 241.

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