São José dos Pinhais decreta emergência

A chuva que caiu em todo o Estado entre a noite de anteontem (19) e madrugada de ontem causou alagamentos, quedas de árvores e destelhamentos. O município mais prejudicado foi São José dos Pinhais, com 17 bairros afetados. A água chegou à altura do teto em algumas casas. Cerca de 2,5 mil famílias foram atingidas; muitas perderam tudo. A causa de tamanho estrago, segundo a Defesa Civil do município, foi a elevação repentina do nível do Rio Ressaca, que corta a cidade. A Prefeitura decretou situação de emergência, que habilita a administração a realizar compras emergenciais.

Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal trabalharam no atendimento às vítimas desde a noite de sexta-feira, quando a chuva atingiu com força a região de Curitiba. A água inundou casas, encharcando móveis, alimentos e pertences dos moradores. ?Chegamos a tirar pessoas até pela janela?, conta o capitão do Corpo de Bombeiros, Giovani Schulli. ?Dependendo do local, a água chegou a 1,7 metros de altura do chão. Tinha horas que a gente se movimentava com a água no pescoço.?

A invasão da água foi descrita pelos moradores como uma verdadeira enxurrada. ?Levou tudo o que tinha pela frente. Aqui os moradores de quase todas as casas da rua perderam tudo. Todos os móveis molharam e estamos sem água para lavar o que sobrou?, lamentava o torneiro mecânico Jacinto Romildo Sare, que mora no bairro Santos Dumont. No final da manhã, horas depois de a chuva ter parado, os moradores ainda aguardavam ajuda. A espera era longa para todos os atingidos nos bairros inundados com a enchente, uma vez que as equipes passavam de casa em casa nos arredores dos seis quilômetros de extensão do rio.

Foi a alta súbita do nível do Ressaca a causa da inundação. A chuva forte localizada na região provocou estragos jamais vistos antes, conforme relataram moradores e técnicos da Defesa Civil. ?A área é toda contemplada com drenagem, mas o excesso de chuva nos surpreendeu?, disse o secretário de governo da Prefeitura de São José dos Pinhais, Aldrian Matoso, que também trabalhava no atendimento às vítimas. Em alguns pontos, o nível do rio chegou a subir três metros, atingindo casas situadas a até 80 metros das margens.

A água subiu e desceu rapidamente – por isso, não houve desabrigados. Segundo a Defesa Civil, as pessoas preferiram ficar em suas casas e passaram o dia de ontem tentando recuperar o que sobrou. A Vigilância Sanitária distribuiu material de limpeza e orientou os moradores sobre a limpeza. Durante a tarde, foram distribuídas cestas básicas.

Toda a população foi convocada a arrecadar donativos para as cerca de dez mil pessoas afetadas com a enchente. Os 17 bairros atingidos foram Santos Dumont I, Cidade Jardim, Vila Iná, Afonso Pena, Vila Idalina, Vila Rocco, Jardim Aeroporto, Planta Gravias, Vila Palmira, Moradias Potiguar, Jardim Vale Verde, Quississana, Jardim Aviação, Jardim Cruzeiro, Ouro Fino, Rio Pequeno e Riacho Doce. Em Curitiba, no bairro Cajuru houve pontos isolados de alagamentos porém, sem danos graves.

Interior

De acordo com a Defesa Civil do Estado, a chuva causou doze quedas de árvores em Foz do Iguaçu, no oeste, e quatro em Londrina, norte do Estado. Também na região, no município de Arapongas, foram registrados quatro destelhamentos.

Na região de Cascavel, árvores também foram derrubadas com a força do vento, atingindo os fios de alta tensão. 40 mil pessoas ficaram sem luz na noite de anteontem. Em toda a região oeste, 50 municípios foram afetados pela falta de energia elétrica durante a madrugada de ontem.

Os municípios do Vale do Ivaí, no norte do Estado, também passaram por horas de caos. Em Apucarana, dezenas de casas foram inundadas, parte do muro do Estádio Bom Jesus da Lapa foi levada pela enxurrada e barracões do Parque Industrial Norte e dezenas de árvores foram ao chão por causa do vento. A Casa da Misericórdia acabou destelhada. Em Arapongas e Maringá, os estragos também foram grandes.

Em Ivaiporã, três casas foram cobertas pela água e os moradores tiveram que se refugiar no telhado até a chegada de socorro. O Corpo de Bombeiros da cidade ainda atendeu um afogamento nas águas do Rio Ivaí em Lidianópolis, onde dois homens que estavam pescando foram arrastados pela água. Um deles se afogou e o outro conseguiu nadar até uma ilha no meio do rio e aguardou socorro. No município de Godoy Moreira, o nível do Rio Corumbataí subiu, deixando a cidade isolada.

Simepar não descarta novas chuvas fortes

Diogo Dreyer

A associação entre as altas taxas de umidade relativa do ar registradas durante toda a semana, o forte calor e uma frente fria que se organiza sobre a Argentina e ruma em direção ao Sul do Brasil foram responsáveis pelas chuvas fortes que atingiram o Paraná. E de acordo com o meteorologista Fernando Mendonça Mendes, do Instituto Tecnológico Simepar, estas condições continuarão durante o restante da semana, o que pode proporcionar mais chuva forte.

?Além disso, é um ano em que registramos o fenômeno El Niño, que faz com que o regime de chuvas e das temperaturas no verão seja mais elevada?, explica Mendes. Por causa destes fatores, o Simepar avisa que deve haver mais precipitação em janeiro do que a média histórica de 160 milímetros (mm). ?Apenas na madrugada deste sábado registramos 45 mm?, diz o meteorologista.

Ontem, o Simepar registrou desintensificação em áreas de instabilidade entre os setores centro-sul e leste do Paraná, após a madrugada chuvosa. Contudo, no setor centro-norte e no Vale do Ribeira ainda ontem foram registradas pancadas de chuva moderadas. A Defesa Civil espera chuvas mais fortes acompanhadas de trovoadas e rajadas de ventos, principalmente nas regiões oeste e sul do Estado. As oito regionais da Defesa Civil estão em alerta para possíveis ocorrências.

Para hoje, Mendes avisa que são previstas pancadas de chuva com trovoadas em todas as regiões do Estado. A intensidade varia de chuva fraca a moderada, com períodos de maior intensificação, com rajadas de vento moderadas na maior parte do tempo.

A partir de hoje, as áreas de chuvas mais fortes deixam o Paraná em direção a São Paulo e o Atlântico, no entanto, a proximidade destas instabilidades continuam mantendo uma maior concentração de umidade entre o norte e leste do Estado no início da semana. O Simepar informa que o sol deve aparecer durante boa parte de hoje e que, apesar deste quadro de instabilidade, as temperaturas seguem altas em todas as áreas paranaenses.

Revoltados, moradores fazem protestos

Gisele Rech

Foto: Ciciro Back/O Estado
Enchente levou dinheiro da moto que Marcos ia comprar ontem.

Um misto de desolação e revolta. Era o sentimento expresso nos olhos e nas palavras de pessoas que perderam tudo e não sabem a quem pedir ajuda, em São José dos Pinhais. A água do Rio Ressaca, nas proximidades do Aeroporto Internacional Afonso Pena, subiu rapidamente, alagando casas e levando lama pra todos os cantos.

Ontem pela manhã, as marcas nas paredes das residências comprovavam até onde a água chegou. Os móveis e eletrodomésticos destruídos e os pertences dos moradores espalhados nos quintais davam a medida exata do estrago. Revoltados, moradores fecharam algumas ruas, na esperança de manifestações da autoridade para solucionar o problema.

Marlene chorava no ombro do filho Marcos Felipe. A casa número 3 da Rua Piauí, no Santos Dumont, foi uma das 2.500 atingidas pela enchente no município. ?Perdi tudo. A água levou até a pochete do meu filho, que tinha o dinheiro da moto que ele ia comprar hoje. Quem é que vai nos ajudar??, perguntava. O vizinho dela, o caminhoneiro Peterson Estevão, diz que quando a água subiu, foi uma correria. ?A gente tentava levantar as coisas, mas a água subia rapidamente. Com ela, vieram ratos e eu tinha que ficar tocando eles para fora da piscina que se formou?, relatou.

Outro vizinho, João Munhoz, que mora na Rua Israel de Andrade Pereira, diz que apavorou-se com a água entrando em casa. ?Minha filha Edilmara estava gestante e a tirei às pressas de dentro de casa. Hoje (ontem) cedo ela ganhou neném. Ao menos ganhei um netinho saudável, já que dificilmente conseguirei aproveitar alguma coisa que estava dentro de casa?, lamentou.

Perto dali, na Vila Palmira, Bernadete Oliveira mostrava as marcas da água dentro de casa. A lama tomava conta do local e os pertences estavam imundos. ?O que dói é o esforço que fazemos para ter as coisas. Eu comprei um conjunto de quarto para o meu filho. Mal comecei a pagar e ficou tudo encharcado.? A vizinha dela, Ivanir da Silva, disse que a culpa não foi apenas da chuva. ?Aconteceu algo parecido há três anos. Mesmo chovendo do jeito que choveu, veio muita água do aeroporto?, afirmou. O cunhado dela, Luiz Carlos Novak, que ajudou a organizar o fechamento da rua com móveis e galhos de árvores, diz que é preciso apurar as causas. ?Realmente choveu bastante, mas veio muita água de lá. A gente quer providências.?

A assessoria de imprensa da Infraero – que administra o aeroporto – informou que existe um canal de drenagem na pista, que funciona normalmente todos os dias. Segundo a assessoria, o Rio Ressaca passa pelo aeroporto, mas não nasce lá. Por isso, existe o canal de drenagem nas margens, que é um reforço para evitar o assoreamento do rio. A assessoria reforçou ainda que o aeroporto fica em um nível acima das casas, o que explica o fato de o terminal não ter sido inundado.

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