Projeto visa restituir riquezas aos índios

Restituir aos povos indígenas uma parcela da riqueza que seu conhecimento forneceu aos brancos é o objetivo de um projeto levado a cabo pelo Programa Internacional de Salvaguarda da Amazônia, Mata Atlântica e dos Ameríndios para o Desenvolvimento Sustentável (Pisad). Para tanto, a instituição – formada por um consórcio de instituições européias – achou por bem dar aos índios instrumentos da tecnologia moderna para que eles mesmos produzam, através de seus conhecimentos, produtos com os recursos genéticos da Floresta Amazônica.

O presidente do Pisad, o francês Mário Christian Meyer, acaba de voltar de uma viagem a Amazônia onde estabeleceu um projeto-piloto para introduzir a hidroponia – um sistema de cultivo sem a utilização do solo – numa aldeia no Alto Rio Içana, a mais de mil quilômetros de Manaus. A idéia é que, através da técnica, os indígenas extraiam das plantas os princípios ativos para fabricação de produtos de forma eficaz e sem agredir a natureza. ?Com o apoio do Instituto Nacional Politécnico de Loraine (França), adaptamos uma biotecnologia ideal que nos permite repassar aos índios os ensinamentos para a produção dos extratos vegetais semi-purificados?, explica Meyer, que também é professor da Universidade de Paris e consultor sênior da Unesco.

Ele afirma que o objetivo do projeto não é que os índios criem imediatamente produtos de grande valor baseado nas plantas que manipulam a séculos. ?Queremos que, a princípio, seja possível aumentar a renda deles de forma que se faça justiça histórica e ética. Certamente a produção de produtos – sejam sabonetes, cosméticos ou remédios – neste formato irá render muito às aldeias. Somente depois de dominada esta técnica, quando os índios estiverem familiarizados com a estrutura de mercado, é que serão incentivados a explorar extratos de maior valor industrial?, conta o professor.

O temor é que este tipo de conhecimento vire alvo da biopirataria. ?Sem ter as condições de realizar parcerias com entidades sérias e negociar diretamente com os industriais, certamente os índios seriam lesados novamente, dando conhecimento inestimável em troca de nada. Por isso, eles precisam antes de experiência.? Meyer também espera chamar a atenção da opinião pública para as questões indígenas, as quais ele considera subestimadas no Brasil. ?Especialmente no sul, onde as pessoas os tratam como aculturados. Como os índios não têm participação política, então é necessário que a população interceda em seu favor?, acredita. ?E enquanto seus problemas não chegam ao conhecimento de ninguém, isto fica difícil.?

A esperança do professor é que após bem estabelecido no Norte, o projeto possa ser trazido ao centro-sul brasileiro, onde habita a maior parte dos índios restantes no Brasil. ?Queremos que povos que já dominem a biotecnologia comecem a transmitir este conhecimento para outros.? O projeto funciona em parcerias com organizações como a Unesco, a União Européia, a Fundação do Estado do Amazonas para os Povos Indígenas, a Agência de Florestas do Estado do Amazonas e a Fundação Nacional do Índio.

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