Projeto implanta aulas de yoga na prisão

Aulas de yoga e de valores humanos vêm conseguindo bons resultados junto aos detentos da Casa de Custódia de Curitiba. Lá o nível de estresse costuma ser grande porque os presos ainda não foram julgados e não sabem exatamente o que vão enfrentar no futuro. Desde a implantação do projeto Resgatando a dignidade através do conhecimento de si mesmo, resultado de um convênio entre a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania e as Faculdades Integradas Espírita, os detentos apresentaram mudanças significativas de comportamento. Têm a chance de refletir sobre a própria vida e escolher o caminho a ser trilhado dali para frente.

As aulas de yoga e de valores humanos começaram em junho e os resultados já são visíveis dentro da prisão. Segundo os agentes penitenciários, as alas onde os detentos participam dos projetos são mais tranqüilas que as demais. Eles aprendem a relaxar, ao mesmo tempo em que conseguem parar para refletir sobre a sua condição.

Célio: ?Camaradagem?.

Mas o início das aulas de yoga não foi muito fácil: os detentos nem queriam participar porque achavam que não eram apropriadas para homens. Aos poucos, as barreiras foram sendo vencidas e agora o momento da aula é um dos mais aguardados da semana. O professor e formando da Espírita, Célio Ricardo Prates, diz que para chegar a esse nível teve que mudar a postura. ?Vim aqui como um professor, depois vi que para atingi-los precisava mudar, falar as mesmas gírias e ser um camarada?, conta.

Ele também já observa várias mudanças de comportamento. No início, através do modo de falar, de sentar e se deitar, os detentos mostravam ódio, medo, insegurança, desconfiança, e hoje o perfil nas aulas é apenas de tranqüilidade. Outra diferença que o professor observa é que eles não querem fazer yoga apenas para ficar com o corpo legal, em forma. Há interesse numa transformação interna.

Neyda: ?Novo estímulo?.

A professora que dá aulas de valores humanos universais, que também é responsável pelo programa, Neyda Nerbass Ulysséa, diz que não há como ensinar valores, é preciso fazer com que os presos vivenciem e a primeira medida é levá-los ao autoconhecimento. Ela explica que muitos nem se conhecem direito e nunca tiveram a oportunidade de pensar nas coisas boas que cada um carrega dentro de si. ?O ser humano não é um ser acabado. Mesmo que tenha feito algo errado por ignorância, todos temos algo de bom e isto precisa ser estimulado?, fala Neyda.

Os resultados do trabalho também podem ser medidos pela opinião dos próprios presos. Numa primeira avaliação sobre o projeto, os coordenadores ouviram frases que revelam o pensamento de cada um. ?Me lembrei da própria infância, coisa que há muito não lembrava? ou ?As aulas trazem muita paz, parece que nem estamos presos?.

Segundo a diretora da unidade, Rita de Cássia R. Costa Naumann, o Estado não tem obrigação de oferecer esse tipo de trabalho aos presos provisórios, mas a atividade é oferecida para melhorar a qualidade de vida. ?Aqui eles têm contato com novas experiências. Mostramos que há outros caminhos?, fala a diretora, que pretende renovar o convênio. Dos 500 detentos, 40 participam do projeto e os demais realizam outras atividades, como artesanato e cerâmica. A faculdade também oferece assistência social às famílias dos presos. 

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