Prédios históricos tem segurança questionada

O incêndio que acometeu o prédio histórico da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) na última semana levantou a polêmica: é possível viabilizar o uso de edificações antigas, de valor histórico, e, ainda assim, garantir segurança? Especialistas garantem que sim, mas essa possibilidade que é desejável – até para que esses prédios não virem apenas museus – está condicionada a fatores como o tipo de uso que se faz e à correta disposição e manutenção de equipamentos e instalações, além de medidas preventivas eficazes contra incêndios.

Curitiba, assim como outras cidades históricas do País, já viu parte de seu patrimônio arder em chamas anteriormente. Foi assim com o Teatro Guaíra, que pegou fogo em 1970; com o prédio da Universidade Federal, símbolo da cidade, que incendiou três vezes, a última em 1992; a antiga Confeitaria Schaffer, na Rua XV, em 1978 (onde hoje funciona um shopping popular); o Palácio do Louvre, em 1997, onde funciona uma loja de departamentos, também no calçadão da XV; e o Templo das Musas, onde funcionava o Instituto Pitagórico, em 1997, quando uma biblioteca inteira foi perdida.

O arquiteto e engenheiro de segurança do trabalho Carlos Garmatter Netto, que tem uma dissertação de mestrado sobre o assunto, garante, portanto, que não é mito que as edificações históricas são alvos propensos a incidentes como os sinistros. Mas o motivo não é a idade. ?Muitas edificações antigas têm subocupação e isso é agravado pela perda de interesse de áreas históricas nos centros urbanos como local de moradia; daí entram as ocupações de maior risco, como comércios que não trazem adequação aos locais, principalmente quanto às instalações?, justifica o estudioso.

Desse modo, o fato desses prédios conterem muita madeira seca contribui, sim, para o fogo se alastrar mas o material, nesse contexto, é apenas conseqüência. ?Edifícios antigos estão mais propensos em razão da forma como se utiliza e como se mantêm. O edifício em si é o que menos contribui. Tanto que no Canadá e Europa boa parte das edificações são em madeira, mas lá faz-se inspeções rigorosas e há legislação de uso do solo diferenciada?, compara.

No Brasil, o único fator de segurança que é objeto de legislação é o sistema de combate a incêndios, que inclui colocação de extintores, hidrantes, saídas de emergência. Mas o arquiteto acredita que a lei deveria ser mais rígida ao determinar a ocupação dos locais. ?Na Rua XV, as fachadas dos prédios são separadas, mas por uma adaptação de comércio, no interior as estruturas são juntas, razão que ajuda na propagação de incêndios. Para compensar essas características construtivas, deve-se evitar ocupações de alto risco, como shoppings e casas noturnas, e impor inspeções rígidas das instalações, como elétricas e de gás. Afinal, a tecnologia nos trouxe muitos equipamentos para dentro das edificações, mas muitas mantêm seus sistemas elétricos ainda nas décadas de 60 ou 70, quando não mais antigos, e em condições precárias de manutenção.? 

Preservação e proteção

Os profissionais da área garantem também que é possível aliar preservação das características originais dos imóveis históricos à proteção contra incêndios. Por isso, quando é feito um projeto nesse sentido, cada caso é estudado separadamente. ?Essas edificações têm tratamento personalizado, em razão de suas características construtivas?, aponta o tenente Ivan Ricardo Fernandes, chefe do setor de vistorias do Corpo de Bombeiros em Curitiba. As adaptações contemplam diferenciações em extintores, mangueiras, escadas. ?Em prédios antigos não é possível fazer escadas anti-fumaça, com portas corta-fogo, mas não é por isso que vai ficar sem segurança.? Mesmo nos prédios tombados pelo patrimônio histórico essa adequação é possível. O professor do departamento de Geomática da UFPR Carlos Aurélio Naddal especifica que a arquitetura é estudada, bem como a adaptação dos equipamentos antiincêndios. Já o supervisor de planejamento do Serviço de Patrimônio Histórico do Ippuc Gerson Smal Staehler garante que o fato de ter valor histórico não é desculpa para abrir mão da segurança e das especificidades exigidas pelos bombeiros. (LM)

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