Pastor é condenado por sonegação em Maringá

A vinda de Jesus Cristo e a salvação das almas não aconteceram, como pregava em 1999 o ex-líder da igreja evangélica Só o Senhor é Deus, Alécio Miranda Leal, mas as complicações dele e de sua mulher, Saline Atie Ramos, com a Justiça estão longe de terminar. Alécio foi condenado a dois anos e meio de prisão e 200 dias-multa, valor que pode ultrapassar R$ 40 mil, e Saline a dois anos e dois meses e 50 dias-multa por sonegação fiscal. A sentença foi firmada no dia 16 de fevereiro, pelo juiz substituto da Vara Federal Criminal de Maringá, Raphael Cazelli de Almeida Carvalho. Alécio e Saline podem recorrer da decisão apelando para o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre.

Conforme a sentença proferida pelo juiz, a Receita Federal apurou em 2000 que Alécio e Saline ?suprimiram mediante omissão, tributos federais e causaram prejuízo aos cofres públicos da ordem de R$ 6.106.936,61, referentes ao principal, juros e multa?. Entre fevereiro de 1997 e outubro de 1999, Alécio fez diversos saques de contas da igreja Só o Senhor é Deus e da empresa Rádio Difusora de Londrina, totalizando R$ 4.710.000,00. A apuração fiscal da Receita constatou também que, entre agosto e outubro de 1999, Alécio depositou em contas correntes de sua titularidade valores da ordem de R$ 4.875.800,56. Essas somas foram considerados pela Receita como omissão de rendimento de pessoa física.

No caso de Saline a ação fiscal da Receita, conforme a sentença, constatou que, na declaração de renda de 1999, ela omitiu a venda de um Mercedes-Benz E-320 a uma empresa de importação e comércio de veículos, no valor de R$ 115 mil. Com esse dinheiro foi comprado um novo Mercedes-Benz E-500 em nome de Alécio. Segundo o juiz, ele não conseguiu comprovar a aquisição do veículo que, anteriormente, era de propriedade da igreja Só o Senhor é Deus. Para o magistrado, como não há comprovação de aquisição, não houve custo a ser considerado, havendo, portanto, um lucro de R$ 115 mil que não foi declarado à Receita.

Os réus alegaram que viviam da venda de produtos particulares, como livros bíblias e CDs, e que o dinheiro obtido com essas vendas era depositado nas contas da igreja Só o Senhor é Deus. Para o juiz, essas declarações, quando junto com as demais provas, demonstram a intenção dos acusados de esconderem os fatos – ?ou seja, a utilização em proveito próprio do dinheiro da Igreja Evangélica Missionária Só o Senhor é Deus, sem a declaração de tais rendimentos no ajuste anual do Imposto de Renda de pessoa física?.

Para o atual vice-presidente da Só o Senhor é Deus, Geraldo Aparecido Marciano, a sentença do juiz para a ação do Ministério Público foi branda se comparada aos danos causados à imagem da igreja. Além do processo proposto pelo Ministério Público, Geraldo diz que a Só o Senhor é Deus está com uma ação por apropriação indébita contra Alécio e Saline na 6.ª Vara Cível de Maringá. Segundo ele, a próxima audiência, que deve ser a última, acontecerá em junho deste ano. Para Geraldo, a condenação dos ex-dirigentes da igreja na Vara Federal Criminal de Maringá comprova a apropriação indevida dos bens da igreja, pois o dinheiro havia sido retirado das contas da igreja, algo que está claro na sentença.

Irregularidades descobertas

O atual vice-presidente da Só o Senhor é Deus, Geraldo Aparecido Marciano, lembra que as descobertas de irregularidades começaram quando Alécio, hoje com 70 anos, anunciou a vinda de Cristo no final de 1999 e em dezembro do mesmo ano renunciou ao cargo de líder máximo da igreja. Alécio havia fundado a Só o Senhor é Deus em 1974 e há 25 anos fazia suas pregações. ?A previsão da vinda de Cristo era uma posição pessoal dele?, ressalta.

Segundo Geraldo, quando Alécio renunciou e uma nova diretoria assumiu a instituição em janeiro de 2000, começaram a ser observadas irregularidades nas contas da igreja, que eram administradas pelo líder e sua mulher. ?Quando vimos o que havia acontecido, entramos com a ação contra eles e fornecemos provas e esclarecimentos ao Ministério Público.?

Geraldo diz que Alécio era tido como um grande líder, mas no final de fevereiro de 2000, quando se soube da apropriação por parte dele de aproximadamente R$ 6 milhões, foi preciso excluí-lo da instituição. ?Ele havia dilapidado o patrimônio da igreja?, afirma.

Segundo ele, o episódio causou um forte desgaste de credibilidade para a instituição. ?A queda financeira foi grande, mas o pior foi a falta de confiança para doarem o dízimo.? Contudo, ele ressalta: não houve evasão de fiéis e a igreja atualmente já conseguiu recuperar sua credibilidade. A Só o Senhor é Deus atua em oito países, incluindo o Japão, e possui mais de 300 mil fiéis no Brasil. (RD)

?Fui vítima de traição?, afirma Alécio Miranda

Alécio Miranda Leal, ex-líder máximo da igreja Só o Senhor é Deus, e atual líder máximo da Igreja Missionária Jerusalém de Deus, afirma que foi vítima de traição no início de 2000. Segundo ele, Geraldo Aparecido Marciano ?fez a cabeça? de outros pastores, inclusive a do antigo vice-presidente, Darci Rui Amorim. ?Fui desligado brutalmente. Não tinham prova de nada. Pegaram o extrato de um banco e mostraram de longe para o povo e fizeram pressão?, defende-se.

Alécio diz que viajou para fazer tratamento de saúde em que fez uma ponte de safena e outra mamária em outubro de 1999. Segundo ele, foi a primeira vez que tirou férias, após 25 anos de pregações. Alécio justifica que os problemas no coração teriam o levado a renunciar de Londres à sua posição de líder máximo da igreja, através de uma carta. ?Foi por essa razão também que eu não declarei o Imposto de Renda.?

Alécio está recorrendo da decisão da Vara Federal Criminal de Maringá. Segundo ele, o auditor da Receita está equivocado. Ele afirma que não tinha salário pela igreja. ?Eu depositava tudo na conta da igreja. Reconheço que fui ingênuo, não deveria ter feito isso.?

Ele alega também que o depósito de mais de R$ 4 milhões foi feito em contas na igreja e não em contas pessoais. ?Essas acusações de apropriação indébita são injustas. O juiz da Vara Cível vai ouvir minha versão?, afirma ele, sobre a audiência que está marcada para junho.

Sobre as previsões a respeito da vinda de Cristo em 1999, Alécio diz que errou. ?Ela não aconteceu.? A nova instituição que comanda, criada em 2001, possui trezentas igrejas no Brasil, Paraguai e Argentina. (RD)

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