Moradores de Matinhos consertam estragos da enchente

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O acúmulo de sujeira e a falta de drenagem nos rios atrapalharam
o escoamento da água.

Os moradores de Matinhos, no litoral do Estado, passaram o dia de ontem reparando os estragos causados pela forte chuva que atingiu a cidade na última segunda-feira. De acordo com Francisco Antônio Arantes, vice-prefeito e adjunto da Comissão Municipal da Defesa Civil, 100 casas ficaram alagadas. No entanto, o abrigo providenciado para receber as famílias desalojadas não chegou a ser utilizado. "A água baixou no fim da noite de segunda e todas as famílias puderam voltar para casa", disse.

No entanto, só ontem de manhã as pessoas puderam contabilizar os prejuízos. A área mais atingida pela enxurrada, que causou o alagamento na cidade, foi o Tabuleiro. O Corpo de Bombeiros foi chamado para socorrer as famílias que ficaram ilhadas. Segundo Arantes, as bocas de lobo não conseguiram dar vazão à quantidade de chuva e a água ficou acumulada, causando a enchente. Em alguns pontos da cidade, a água chegou a um metro de altura. Os estragos foram grandes também no bairro do Sertãozinho, no Balneário Riviera e em alguns pontos de Caiobá.

Equipes da prefeitura passaram o dia de ontem desentupindo bocas-de-lobo para evitar novos alagamentos. De acordo com Arantes, o próximo passo é começar a fazer a dragagem dos rios na cidade e também abrir galerias para escoar a água que fica acumulada no asfalto. "É uma medida paliativa, mas vai minimizar os danos causados pela chuva. Os rios estão sujos. É preciso abrir caminho para a água escoar", explica. Mas esse processo não deve ser tão rápido. Arantes avisa que o trabalho de limpeza é lento e existem mais de 20 quilômetros de rios na área para serem dragados.

O pedreiro Manoel Davi de Andrade teve a casa mais uma vez atingida pela chuva. Ele mora no bairro Mangue Seco, que também ficou alagado. "O rio que passa aqui em frente não é dragado faz tempo. Desse jeito a água não escoa mesmo e todo ano o problema se repete", reclama. Além disso, a ponte usada pelos moradores está caindo e mesmo com diversos pedidos de reparo, a situação continua a mesma.

Previsão

Apesar do alerta para possibilidade de chuva forte, o litoral do Estado foi poupado e apenas uma chuva fraca caiu sobre a região durante o dia de ontem. De acordo com informações do Simepar, a chuva fraca continua hoje pela manhã no litoral e o Sol volta a aparecer depois do almoço.

Mas os meteorologistas alertam: com o tempo quente, novas pancadas de chuva podem ocorrer no fim do dia.

Suderhsa prepara ações

O presidente da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), Darci Deitos, esteve ontem em Matinhos realizando uma vistoria para estabelecer medidas de prevenção de enchentes e avaliar os prejuízos causados pelas fortes chuvas ocorridas no final de semana. Agora, serão elaboradas ações emergenciais para as áreas alagadas.

Os principais problemas apontados estão relacionados à manutenção dos canais de escoamento. Nas áreas atingidas pela enchente, a microdrenagem, responsável pelo escoamento de cada rua, estava comprometida e alguns canais apresentavam vegetação que impedia o fluxo das águas.

Mas segundo o presidente, desde 2003, 32 quilômetros de canais receberam melhorias para facilitar o fluxo das águas e evitar enchentes. Somente em Matinhos, teve 17,5 quilômetros do sistema de escoamento beneficiado pelo investimento. Segundo Deitos, o principal fator que levou ao alagamento das ruas de Matinhos e Caiobá foi o volume de água que caiu em pouco tempo.

UFPR tem centro específico em desastre

O Paraná conta com um centro científico que vem atuando em diversos desastres mundiais. O Centro de Apoio Científico a Situações de Desastre (Cenacid) foi criado em julho de 2000 e está ligado ao Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Nimad) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A entidade tem como objetivo proporcionar apoio científico e técnico à sociedade em situações de desastres, principalmente aos órgãos que têm responsabilidade pela gestão da ocorrência – como prefeituras, Defesa Civil e órgãos ambientais.

De acordo com o coordenador do Centro, Renato Eugênio de Lima, a entidade é formada por cerca de 50 pesquisadores e especialistas em diversas áreas de conhecimento de seis universidades brasileiras. Além dos profissionais, uma das grandes ferramentas do Centro é o software "Vicon – Desastres", desenvolvido pelo Cenacid e que gera um mapa com banco de dados que facilita aos órgãos envolvidos no desastre dar uma resposta mais rápida ao acidente. "A partir das informações sobre o desastre, o programa emite relatórios através dos quais é possível obter dados específicos para que se possa atuar nas suas conseqüências, bem como auxiliar na responsabilização", comentou.

Prevenção

Quando se fala em desastres, Renato destaca que o essencial é pensar em prevenção e preparação. Algumas situações não podem ser evitadas, mas suas conseqüências podem ser prevenidas. Um dos trabalhos do Cenacid foi o enfrentamento e alternativas para as inundações em Curitiba. "Todo o rio inunda, e é preciso considerar que esse fenômeno é normal. Por isso, é preciso discutir a ocupação do solo", pondera. Entre as ações propostas pelo Centro estavam a preservação das áreas inundáveis, bem como sua desocupação; manutenção das defesas naturais contra inundações, como, por exemplo, os pântanos; e construção de casas sobre estacas. Lima acrescentou que algumas dessas orientações foram seguidas, o que reduziu muito os prejuízos.

O coordenador do Centro destacou ainda que quando se fala na prevenção é preciso pensar também que se está reduzindo os prejuízos financeiros. Durante uma inundação em fevereiro de 2000 em Curitiba, a Prefeitura gastou só no primeiro dia R$ 3 milhões para atender a comunidade. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil receberam mais de 700 chamadas e o número de solicitações de guincho cresceu 150%. Já em Matinhos, no litoral do Estado, o Cenacid fez diversas recomendações que não foram seguidas, o que, mais uma vez, resultou em prejuízos financeiros. "Nós fomos contra a construção de asfalto e colocação de iluminação no balneário de Flamingo. Foram gastos R$ 190 mil na obra, que meses depois foi destruído pela ressaca", finalizou. (Rosângela Oliveira)

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