Jovens são alvo da Semana de Trânsito

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) dá início amanhã à Semana Nacional de Trânsito com uma missão: falar diretamente com o jovem para conscientizá-lo de suas responsabilidades e dos riscos que cada vez mais o acometem nas vias. De acordo com o conselho, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, os jovens são considerados o grupo mais vulnerável ao risco de mortes e acidentes no trânsito. Os motivos vão desde o amplo contato que mantêm com os veículos, seja como motoristas, pedestres ou passageiros, até os fatores emocionais e sociais que envolvem essa faixa etária.

A coordenadora de educação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Juciara Rodrigues, explica que, em vista desse cenário mundial, a recomendação na escolha do tema veio de diretrizes internacionais promulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). ?Outro motivo é a quantidade de acidentes de trânsito envolvendo jovens até 29 anos no Brasil. Nossa grande preocupação é que muitos se tornam vítimas fatais ou carregam graves seqüelas?, expõe.

Dados da OMS de 2005 dão conta de que, dos acidentes com vítimas ocorridos no País naquele ano, 44% envolviam pessoas com menos de 19 anos. O próprio anuário do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), lançado há poucas semanas, informa que os jovens entre 18 e 29 anos no ano passado compunham a maior parte das vítimas de acidentes (21 mil pessoas) e que o número de vítimas – feridos e mortos – nos últimos anos vem aumentando: eram 38,8 mil em 2001 contra 53,7 mil em 2006. Fora a vida, que é irrecuperável, o País perde R$ 24,6 bilhões anualmente só com acidentes, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do ano passado.

A exposição à velocidade e ao álcool é dada pela especialista do Denatran como a principal causa desses acidentes, principalmente quando se avalia que o número de condutores nessa faixa etária envolvido vem aumentando (de 44% em 2004 para 46% em 2005). ?Por isso insistimos tanto no perigo das drogas e do álcool. Os índices de acidentes envolvendo motoristas alcoolizados são muito altos. Além disso, é preciso abrir o espectro para perceber que o jovem não está exposto apenas ao dirigir, mas também ao pegar carona com amigos, como ciclista, motociclista e pedestre, correndo riscos também?, alerta.

Para a coordenadora, a única forma de fazer cair os números é a educação para o trânsito. ?Como o tema foi divulgado previamente, pudemos trabalhar com ações permanentes voltadas para o jovem desde o início do ano. É preciso insistir nos programas educativos, tornando o jovem consciente dos diversos papéis que ele pode ter no trânsito e as responsabilidades atreladas a eles.? 

Psicólogo revela fatores externos como causas

O psicólogo Cassiano Ferreira Novo, colaborador da Comissão de Trânsito do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP), afirma que a relação entre jovens e trânsito tem a ver com fatores externos e internos, uma vez que os pensamentos próprios da idade podem influenciar na ausência de percepção do perigo. ?O jovem tem crenças de onipotência, de ser o super-herói, o que distorce a percepção de risco e o faz exceder a velocidade, avançar cruzamentos e se envolver muito com a bebida, três das principais causas de acidentes?, exemplifica.

Além disso, o fator emocional pode ser um vilão. ?Muitos jovens têm baixa inteligência emocional. Por isso abusam da bebida e excedem a velocidade.? Sentimentos de exibicionismo, auto-afirmação e competição também afloram no trânsito como verdadeiros inimigos. ?Carro é poder, status. Provocam rachas por quererem ser superiores ao outro e se arriscam demais por um sentimento do tipo vou arriscar minha vida para poder me sentir vivo?, explica Novo.

No entanto, para que o jovem tome consciência do perigo e aja de forma diferente, as ações devem começar em casa, atesta o psicólogo. ?O papel da família e dos amigos está muito fraco na vida do jovem. É preciso aproximá-los?, indica. Segundo o psicólogo, metade dos jovens com menos de 18 anos que dirigem aprendeu com os pais um exemplo que não deve ser seguido. (LM)

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