Índice de mortalidade materna assusta

Foi celebrado ontem em todo o mundo o Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher e, no Brasil, o Dia Nacional pela Redução da Mortalidade Materna. Apesar dos esforços do governo federal, os índices de morte materna registrados no País ainda assustam. Morrem no Brasil, atualmente, 74,5 mulheres em cada 100 mil nascidos vivos por problemas relacionados à gravidez, parto ou aborto. O número é quase quatro vezes maior ao índice de 20 mortes por 100 mil considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A situação no Paraná também é preocupante. O estado tem o pior índice entre os estados do Sul do País. De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Saúde, 91 mães morreram por complicações de gestação em 2003, o que dá um índice de mortalidade materna de 57,90. Apesar de ainda não haver os números oficiais de 2004, de acordo com dados da própria secretaria, no ano passado foram registrados 104 óbitos maternos, um aumento de 14,28%. Quando os números são analisados por regiões do Paraná, a situação se mostra ainda mais crítica. Em Paranaguá, no litoral, o índice de mortalidade materna registrado em 2003 foi de 148, o dobro do índice nacional e quase o triplo da média do Paraná.

De acordo com o secretário estadual da Saúde, Cláudio Xavier, "entre as principais causas da mortalidade materna estão a ausência de pré-natal adequado, agentes de saúde pouco preparados para prestar atendimento às gestantes e ausência de centros de atendimento de gestação de risco".

No caso de Paranaguá, existe apenas um hospital conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS) que atende gestantes; não existe Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal e faltam ginecologistas. De acordo com Isabele Antoniacomi, enfermeira responsável pelo departamento de epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Paranaguá, somada às dificuldades já citadas está a falta de continuidade no tratamento das gestantes. Isabele explica que a maior parte das mães que chega aos postos e descobrem que estão grávidas não voltam para seguir o pré-natal. "Elas procuram o posto geralmente no sexto ou sétimo mês de gestação", explica a enfermeira.

Para mudar essa realidade, a Secretaria de Saúde de Paranaguá está implantando agora o programa Saúde da família, do Ministério da Saúde. Os agentes comunitários estão recebendo treinamento especial para atender as gestantes em casa. Os esforços parecem que estão dando resultados. No ano passado, a cidade conseguiu baixar em três pontos o índice de mortalidade materna, que caiu de 148, em 2003, para 145,24 em 2004. 

Projeto nacional para  reduzir ocorrências

O governo brasileiro lançou, no ano passado, o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal. O objetivo é reduzir em 15% o número de casos até o fim de 2006. Para atingir essa meta, o governo federal firmou parcerias com estados e municípios e um comitê de monitoramento foi instituído em março deste ano para verificar o andamento dos trabalhos.

O secretário estadual da Saúde, Cláudio Xavier, afirma que o governo do Paraná está lançando o maior multirão para combater a mortalidade materna e atingir as metas do governo federal. Depois de investir em hospitais para prestar atendimento a gestantes de alto risco – eram 12; hoje são 40 em todo o Paraná – Xavier afirma que agora está sendo feita a formação dos agentes de saúde. Cada profissional, após receber treinamento adequado, vai "adotar" gestantes e recém-nascidos para acompanhar de perto a gestação até o nascimento da criança e, desta forma, tentar erradicar a mortalidade materna.

Dentro das metas para combater a mortalidade, a Secretaria de Estado da Saúde lançou oficialmente ontem os Centros de Atendimento da Mulher. Ao todo serão sete no Estado. O primeiro já está funcionando em Jacarezinho, no Norte Pioneiro, que apresenta uma das situações mais críticas de todo o Paraná. A previsão é que até o fim de maio seja concluída a fase de capacitação profissional para que em junho os centros comecem a funcionar nas cidades de Irati, Guarapuava, União da Vitória, Pato Branco, Francisco Beltrão, Paranavaí e Apucarana. (SR)

Principais causas de óbitos maternos

Hipertensão, hemorragias, infecções e abortos estão entre as principais causas de óbitos maternos. De acordo com o médico Edson Gomes Tristão, responsável pela maternidade do Hospital de Clínicas, de Curitiba, as síndromes hipertensivas da gravidez são as campeãs de causa de morte. O médico explica que mulheres que nunca apresentaram problemas de pressão alta se deparam com eles depois que engravidam e a pressão só volta ao normal depois do parto. "Aqui no hospital, e a realidade brasileira de um modo geral é a mesma, recebemos gestantes em estado avançado de gravidez com esses problemas de hipertensão. Em outros países, os índices de mortalidade são menores porque o abortamento é permitido", diz.

Fora os casos de aborto indicado para preservar a saúde materna, o problema do aborto ilegal e inseguro continua sendo um problema grave no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde, as curetagens são o segundo procedimento obstétrico mais praticado nas unidades de internação. Já o abortamento é a quarta causa de óbito materno no País.

Dados do Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP), a taxa de mortalidade entre adolescentes que engravidam entre 15 e 19 anos é duas vezes maior que a das mulheres entre 20 e 24 anos. No Paraná, a Secretaria de Estado da Saúde está desenvolvendo programa em parceria com a secretaria da Educação para orientar crianças e adolescentes em idade escolar sobre métodos contraceptivos e riscos da gravidez precoce. (SR)

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