Fechamento da Santa Casa de Foz gera revolta

Dois funcionários da Santa Casa Monsenhor Guilherme, em Foz do Iguaçu, subiram ontem pela manhã na caixa d?água do hospital como forma de protestar contra a administração da entidade, que na segunda-feira deu aviso prévio a todos os funcionários e fechou as portas por causa de uma dívida que já ultrapassa R$ 15 milhões. A administração do hospital também foi multada pelo Ministério do Trabalho depois de uma fiscalização realizada a partir de denúncias do Sindicato dos Trabalhadores de Saúde de Foz sobre irregularidades, como o não-repasse da contribuição sindical.

Os auxiliares de enfermagem Sérgio da Silva e Elda Jane dos Santos subiram na estrutura enquanto os funcionários da Santa Casa faziam uma assembléia. Só foram retirados do local pelo Corpo de Bombeiros no final da tarde, depois que o Ministério Público da cidade aceitou receber representantes do Sindicato dos Trabalhadores de Saúde de Foz. O sindicato organizou uma passeata para hoje.

Na última terça-feira foi iniciado o desmonte da infra-estrutura do hospital, o que revoltou ainda mais os grevistas, que não aceitam perder o emprego. As dívidas da Santa Casa impediram o repasse do dinheiro destinado ao sindicato, o que fez com que o telefone da entidade fosse cortado e seus representantes atendessem à imprensa de um telefone público em frente à Santa Casa.

O subdelegado do Trabalho em Foz do Iguaçu, Gilberto Monte Braga, considera ilegal a demissão dos 430 funcionários da Santa Casa. Para ele, somente uma posição oficial sobre o fechamento definitivo do hospital permitiria a demissão maciça. Os funcionários estão em greve desde o dia 16 de dezembro para receber os salários atrasados de dezembro e janeiro e o 13.º salário. Já o sindicato espera que o MP possa interceder em favor dos funcionários.

Outro lado

Através de uma nota, o Comitê Gestor da entidade afirmou que encaminhou na terça-feira um ofício à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) solicitando que a instituição faça uma auditoria na Irmandade Santa Casa Monsenhor Guilherme.

O pedido deve ser analisado pela reitoria nos próximos dias. De acordo com a nota, é interesse da Santa Casa que a auditoria se dê da forma mais ampla e cristalina possível, a fim de preservar direitos e apurar responsabilidades. ?Se existirem irregularidades, o que eu não acredito, essas serão apuradas e os responsáveis responderão pelos seus atos, civil e criminalmente?, afirma Cézar Renato Zelinski, presidente do Comitê Gestor que administra interinamente a irmandade.

De acordo com o porta-voz do comitê, Allan Weston Wanderley, continuam as buscas de alternativas que possam resultar na retomada dos serviços da unidade hospitalar. Mas segundo a nota, a única alternativa viável seria a desapropriação da unidade hospitalar pelo poder público municipal, para que o dinheiro possa servir para quitação dos débitos trabalhistas.

A próxima assembléia geral da irmandade será realizada no dia 2 de março. Caso até a data da próxima assembléia nenhuma solução seja encontrada, a unidade hospitalar deverá ser fechada em definitivo, com a rescisão de todos os contratos de trabalho, e o pedido de autodeclaração de insolvência da instituição provavelmente será encaminhado à Justiça. 

Dois hospitais absorvem demanda de pacientes

A Prefeitura de Foz do Iguaçu apresentou no início da semana um plano emergencial, que foi aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde (Consea), para as demais unidades hospitalares da região absorverem os pacientes da Santa Casa Monsenhor Guilherme. De acordo com a Prefeitura, isso é o que está garantindo atendimento hospitalar e de urgência à comunidade da cidade.

Os dois hospitais da cidade têm, juntos, 180 leitos credenciados pelo SUS, porém, diante da interrupção do atendimento na Santa Casa, estão atendendo acima da sua capacidade.

No Hospital Costa Cavalcanti, que se transformou no único hospital com atendimento neonatal da cidade, e que possui 120 leitos destinados ao SUS, a demanda cresceu até 30% desde o início da greve dos funcionários da Santa Casa. A unidade viabilizou mais leitos para garantir o atendimento. Já com o Hospital Cataratas, com 60 leitos credenciados, foram assinados acordos para serem colocados à disposição seis leitos de UTI geral, mesmo número que a Santa Casa possuía.

O hospital também dará suporte às cirurgias de urgência e emergência, nas áreas de neurocirurgia, cirurgia torácica e urologia. Além disso, manterá plantonistas, cirurgiões e anestesistas. De acordo com a diretora do Departamento de Atenção Básica, Lisete Teixeira Palma de Lima, a situação no atendimento emergencial só não está caótica com o fechamento da Santa Casa graças aos investimentos feitos no ano passado, com a instalação de dois pronto atendimentos 24 horas, que fazem o primeiro atendimento emergencial. (DD)

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