A primeira fábrica automatizada de prédios do Brasil entra em operação em Cascavel, no Paraná, para a construção de um bairro integrado com 36 edifícios. Com um complexo industrial ocupando uma área de 180 mil m², cerca de 2.400 apartamentos poderão ser produzidos a cada seis meses.
A produção segue a mesma ideia da linha de montagem de veículos pela indústria automotiva. Estruturas de concreto pré-moldadas de paredes, lajes e pisos saem prontas da fábrica, inclusive com a parte hidráulica e elétrica embutida. No canteiro de obras, as peças são conectadas sobre a fundação já finalizada.
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“Tem que industrializar a construção civil. Fazer em escala é o único jeito de baixar custos”, diz o empresário Francisco Simeão, idealizador do projeto Ecoparque Bairros Integrados.
Segundo ele, as fábricas de prédios são uma saída para a construção civil ser menos poluente. “É descarbonizada, praticamente não gera perdas ou resíduos. E toda a água utilizada para lavar os equipamentos é tratada e reaproveitada para limpeza dos pátios e a manutenção dos jardins.”
O investimento no complexo industrial foi de R$ 200 milhões. Outros R$ 200 milhões custearam a compra do terreno e a produção dos três primeiros prédios do bairro planejado.
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No primeiro ano de funcionamento, a fábrica vai operar com cerca de 10% de sua capacidade, com foco no treinamento de funcionários e ajustes da unidade. A previsão é entregar, até dezembro de 2024, três prédios com 360 apartamentos no total. Para comparação, pela construção convencional, uma torre de 120 apartamentos ficaria pronta entre 15 meses e dois anos.
O grupo Ecoparque espera operar a fábrica com 50% de capacidade em 2025, podendo entregar aproximadamente 2.000 apartamentos em um ano. A previsão é atingir 100% da capacidade de produção a partir de 2026, construindo, anualmente, cerca de 4.000 unidades.
Além do menor tempo de obra, a automação diminui o índice de desperdício para 3% (na construção convencional fica entre 15% e 30%) e o número de funcionários. Inicialmente, serão três turnos de oito horas, com 30 funcionários, cada. A expectativa é que, a partir do terceiro ano, a fábrica funcione 24 horas por dia, com quatro turnos de seis horas.
Segundo Simeão, a fábrica de Cascavel funcionará como teste para o grupo, que pretende construir 20 fábricas iguais até 2029. Há 12 estados em estudo, incluindo Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiânia e São Paulo, na região de Ribeirão Preto.
Para que a produção seja economicamente viável, o loteamento precisa comportar, no mínimo, mil apartamentos e estar a um raio de até 300 quilômetros da fábrica. “A distância é um fator importante, porque as peças são transportadas igual se transporta vidro: tudo em pé. E o caminhão sai da fábrica, descarrega e volta no mesmo dia. Se for preciso usar mais dias para o transporte, a logística começa a apertar”, explica o empresário.
Outro desafio para a implantação é a falta de isonomia tributária com os sistemas convencionais. Quando o imóvel é construído na fábrica, a legislação entende que os materiais estão sendo vendidos. Por isso, além dos tributos tradicionais da construção de alvenaria, são cobrados das empresas de off-site o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Simeão quer que os estados apliquem o diferimento de ICMS, que é a postergação do pagamento do imposto. “Você não paga na entrada, na compra de cimento, ferro e areia, mas quando vende [o imóvel], paga tudo”, diz Simeão.
Tecnologia que reconstruiu a Alemanha
Os equipamentos são da alemã Vollert, que também forneceu técnicos para a transferência de conhecimento. Desde 2012 no Brasil, é a primeira vez que a empresa trabalha com habitação no país.
Segundo o diretor Hans Vollert, a tecnologia é uma evolução da utilizada na reconstrução da Alemanha e outros países europeus após a Segunda Guerra Mundial. “Por dois anos estamos ensinando o grupo brasileiro do Ecoparque. Impressionante o que foi estabelecido aqui”, disse na inauguração da fábrica, em 23 de fevereiro deste ano.
Wesley Gomes, CEO da Vollert do Brasil, afirma que a fábrica de Cascavel é maior planta de pré-fabricados das Américas. “A Vollert já vendeu e instalou fábricas como a do Ecoparque em mais de 80 países. A maioria deles na Europa e no sudeste asiático, incluindo China, Singapura, Tailândia e Índia”, conta.
“Nas Américas esse movimento está começando e já temos fábricas instaladas nos Estados Unidos, no Chile, no Equador e no Peru. E, agora, no Brasil”, afirma.
Bairro planejado
A produção da primeira fábrica brasileira será totalmente destinada ao projeto Ecoparque Bairros Integrados. Serão 80 mil apartamentos sustentáveis – com reúso de água de chuva, esgoto tratado e energia solar – nos próximos dez anos. Do total, 80% das unidades devem entrar nas faixas 1 e 2 do Minha Casa, Minha Vida.
O fundo imobiliário do grupo Ecoparque ficará responsável pela venda dos apartamentos em parceria com a Caixa Econômica Federal. As unidades com dois dormitórios terão metragens de 57 m² e 98 m², com custo a partir de R$ 245 mil. Os apartamentos maiores, de 72 m² e 115 m² têm preço estimado a partir de R$ 350 mil.
Os interessados nos apartamentos de três dormitórios, com valor a partir de R$ 540 mil, terão também a possibilidade de contrato de locação com opção de compra.
O fundo ainda vai financiar para os moradores a cozinha planejada equipada e armários embutidos nos quartos para mobiliar os apartamentos.
Os edifícios do bairro devem ocupar menos de 5% da área total do terreno e serão implantados a uma distância mínima de 50 metros um do outro. Áreas de lazer, de serviços e comercial, além de centros de convivência, unidade de saúde e escolas completam o local.
A repórter viajou a convite do Ecoparque Bairros Integrados.