Exóticas, cobras ganham espaço como mascotes

Um animal cuja simples imagem provoca calafrios em muita gente vem ganhando espaço no mercado de pets. Enquanto a maioria dos proprietários de bichos de estimação decide ter em casa animais considerados engraçadinhos, dóceis e amigos – como cães, gatos, chinchilas, peixes e aves – algumas pessoas optam por jibóias, surpreendendo amigos e familiares.

Quem adquire o réptil garante que, ao contrário do que possa parecer, o animal não tem nada de asqueroso, possui temperamento pacífico, não representa nenhum tipo de ameaça a quem com ele convive, não gera grandes despesas e é capaz de reconhecer seus donos através do olfato e do calor do corpo.

?As pessoas não estão acostumadas a conviver com répteis e por isso acham tão estranho quando alguém diz que tem uma cobra como animal de estimação?, comenta o médico veterinário Ricardo Guilherme D?Otaviano de Castro Vilani. ?Depois que a gente acostuma e conhece os hábitos, aprende a conviver com animais diferentes.?

Vilani adquiriu uma jibóia, que recebeu o nome de Gigi, há dois meses. O animal é utilizado para ilustrar as aulas que o médico ministra sobre animais selvagens na PUCPR e também para convívio de suas filhas, de 2 e 5 anos de idade. ?Quero que desde cedo minhas filhas aprendam a conviver com este tipo de animal e não sintam medo?, diz. ?Logo que adquiri a jibóia, levei uma mordida, pois o animal ainda não me conhecia e estava estressado com a mudança de ambiente. Garanto que dói menos do que a mordida de um cão pintcher. Não chegou nem a ferir a pele.?

Dentro do quarto

O estudante Marcelo de Rezende Felippe Júnior, de 15 anos, mantém uma jibóia – um macho com menos de um metro de comprimento, chamado Orfeu – em uma caixa localizada dentro do próprio quarto. O animal gera curiosidade entre as pessoas que freqüentam a casa. ?Minha família não gosta muito, mas meus amigos ficam bastante curiosos quando conto que crio um réptil. Alguns chegam a vir até a minha casa só para vê-lo. No início, ficam um pouco com o pé atrás, mas depois pegam confiança e se aproximam do animal.?

Júnior desejava ter uma jibóia desde os 12 anos de idade, mas acreditava que a cobra só era vendida em São Paulo. Quando a encontrou à venda em uma feira de filhotes em Curitiba, não titubeou em adquiri-la, apesar das reclamações iniciais da família. ?É um bicho muito legal e diferente. Não é perigoso e quase não dá trabalho, sendo bastante calmo e silencioso.?

Às escondidas

O gosto por animais considerados exóticos fez parte da infância do estudante universitário Rubens Albert Biston Reicher. Porém, há apenas oito meses ele adquiriu uma jibóia, que foi chamada de Nazaré. Quando contou à mãe e à namorada que pretendia comprar uma cobra e tê-la como animal doméstico, Rubens enfrentou muitas reclamações. Porém, as críticas não o detiveram.

?Tive que brigar para ter o animal. Eu o comprei sem ninguém saber e o mantive escondido por dois meses em meu apartamento até que alguém soubesse de sua existência?, revela. ?Até hoje minha mãe só olha o réptil de longe. Porém, ele é bastante manso e nunca ameaçou ninguém.?

Presente

A secretária Anna Claudia Baggio deu uma jibóia de presente ao afilhado, João Guilherme Baggio de Lima, de 11 anos. O objetivo era de que o menino desenvolvesse responsabilidade ao cuidar do bicho e, ao mesmo tempo, acabar com o tabu de que as jibóias são agressivas. ?Antes de comprar o animal me informei bastante e também preparei meu afilhado para recebê-lo, explicando que ter uma cobra não é a mesma coisa que ter um cão ou um gato. Porém, ao contrário do que muita gente pensa, as jibóias interagem com os seres humanos e chegam a demonstrar afetividade.?

O animal conquistou o menino, recebendo o nome de Kirara, e caiu nas graças de toda a família, conquistando principalmente a mãe de João, a professora Débora Baggio, e a irmã, Gabrielle Baggio de Lima, de 9 anos. ?No começo eu tinha um pouco de receio de ter uma jibóia em casa, mas meu filho se empolgou com a idéia e eu acabei aceitando e me acostumando. O animal está sempre enrolado ao meu filho e nunca houve nenhum problema. O João chega a assistir televisão na companhia da Kirara?, conta Débora.

Companheiras tanto para crianças quanto para adultos

As jibóias não costumam dar muito trabalho a seus proprietários. A manutenção da saúde e do bem-estar do animal se dá através de cuidados com o local em que ele vive e com a alimentação.

Segundo a médica veterinária Claudia Regina Folador, da Pangea Zoo, em Curitiba, as jibóias são indicadas tanto ao convívio de adultos quanto de crianças. O único cuidado que se deve tomar é o de não fornecer um animal muito grande a uma criança muito pequena.

?As cobras são animais inteligentes e chegam a reconhecer seus proprietários. As jibóias comercializadas como animais de estimação são acostumadas com o contato humano desde cedo?, afirma. ?Desta forma, as pessoas não representam ameaça e o animal se torna inofensivo.?

As jibóias se alimentam de hamsters ou ratinhos de laboratório vivos. Animais com até um metro de comprimento comem entre um e dois roedores a cada dez dias. A alimentação aumenta conforme a jibóia vai crescendo. A expectativa de vida de uma jibóia varia de vinte a quarenta anos e ela pode chegar a três metros de comprimento.

É muito raro o animal criado para companhia morder o ser humano, mas isto pode acontecer se o bicho estiver irritado ou mudando de pele. ?Quando as jibóias estão irritadas elas emitem um sopro sibilado, como se fosse um assobio. Então, basta não mexer com elas e deixar que elas se acalmem?, explica Claudia. ?As jibóias não possuem veneno, mas se a mordida ocorrer a pessoa deve lavar a região com água e sabão. Em caso de complicação, é indicado procurar um médico.?

Podendo ser mantidas tanto em casa quanto em apartamento, as jibóias devem viver em um terrário que contenha um recipiente com água fresca, no qual elas possam entrar, e temperatura adequada. O aquecimento pode ser realizado através de pedras aquecidas ou aquecedores com termostato. Lâmpadas também podem ser utilizadas, mas devem ser protegidas de forma que o réptil não possa se enrolar, correndo o risco de sofrer queimaduras.

O chão do terrário pode ser forrado com papel toalha branca, folhas secas ao sol e grama artificial. O animal pode ser solto pela casa, mas os proprietários devem cuidar para que ele não entre em ralos e outros buracos.

Saúde

Não existem vacinas que previnam problemas de saúde em jibóias domésticas. Entre os animais, costumam ser comuns enfermidades provocadas por parasitas que atingem pulmão, estômago e intestino. Muitas vezes as cobras os adquirem nos próprios cativeiros em que nasceram. Nas clínicas que atendem animais selvagens, também é comum aparecerem jibóias vítimas de mordidas de roedores e estomatite, inflamação na mucosa da boca, também provocada por mordida. Para todos os problemas existem medicamentos específicos, tópicos e injetáveis. (CV)

Ibama autoriza a venda dos animais

A comercialização de jibóias como animais domésticos é autorizada pelo Ibama – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. Em 1997, a portaria 118 permitiu a venda de animais nascidos em criadouros comerciais autorizados. Desta forma, os répteis podem ser vendidos em aviários e pet shops registrados como comerciantes de fauna silvestre.

Porém, em 31 de dezembro de 2002, uma resolução normativa proibiu a implantação de novos criadouros para venda dentro do território nacional. A resolução foi publicada devido a problemas gerados por acidentes domésticos envolvendo animais silvestres e casos de soltura irregular.

No Paraná não existem criadouros autorizados, sendo que as jibóias comercializadas no Estado são trazidas do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia ou da região amazônica. Todos os animais são marcados com um microchip de identificação, que possui um número único e confirma a origem do bicho em casos de fiscalização e viagens dos proprietários. O chip comprova que o animal não foi vítima de captura irregular, livrando os responsáveis de punições. (CV)

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