Drama de quem espera por um transplante de coração

No Paraná, pelo menos 46 pessoas aguardam por um transplante de coração. A dona de casa Rosenilda Moreira Pereira, de 41 anos, sabe bem o que é essa espera.

Duas de suas filhas (uma com 7 e outra com 12 anos de idade) estão internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, há seis meses, aguardando este órgão vital.

Neste caso, seriam dois corações que voltariam a bater, sadios, e que renderiam a vida das duas meninas. Porém, até agora não apareceu um órgão compatível. Hoje é o Dia Mundial do Coração.

O drama de Rosenilda iniciou há 12 anos, quando dois de seus filhos morreram com o mesmo problema, a miocardiopatia dilatada. Na época, a doação de órgãos era ainda mais difícil, ainda mais nas cidades do interior (Rosenilda mora com o marido e os outros sete filhos em Piraí do Sul, a cerca de 300 km de Curitiba).

Hoje, infelizmente, ela “mora” no hospital. Não arreda o pé de lá porque quer ficar perto das filhas, e também porque não é fácil viajar para longe com frequência. “Tenho fé em Deus, se não for ele, quem é que vai iluminar os médicos?”, indaga ela, emocionada.

Rosenilda lembra de uma situação muito comum nos dias de hoje: a negativa das famílias em doar. “As pessoas não querem ver o ente querido ser enterrado sem um órgão, vazio, e eu também tinha essa visão até ver minhas filhas precisarem”, lamentou.

Pela mesma situação passa o contador Sandro Zanchettin. Sua filha de dez anos de idade está internada há três meses aguardando um coração. “Agora eu e minha família vivemos cada dia, e a fé se renova. Acho que doar deveria virar lei”, afirma o pai.

A dona de casa Ana Paula Spaniol conta que não conseguiu doar o coração de seu filho, falecido há seis anos em Sulina, no sudoeste do Paraná. Segundo ela, o sistema de captação de órgãos na cidade não conseguiu viabilizar o procedimento. Hoje ela está com sua filha de apenas dez dias internada em Curitiba. Ela fez uma cirurgia no coração, por ironia do destino.

Cardiopatias

De cada mil crianças nascidas no Brasil, oito têm problemas cardíacos congênitos. A cada ano, cerca de 30 mil crianças nascem com problemas no coração, em todo o país.

O cardiologista Fábio Sallum explica que a as cardiopatias mais comuns são a comunicação entre os dois lados do coração (interatrial e interventricular); a transposição dos grandes vasos da base; a hipoplasia do ventrículo esquerdo e a miocardiopatia.

A grande maioria das cardiopatias ou são congênitas ou são adquiridas, sendo muito difícil preveni-las. Para o médico, um grande problema hoje é o transplante.

“Temos a baixa remuneração das equipes de captação de órgãos, as dificuldades na captação e ainda os problemas culturais e religiosos, que fazem com que as famílias não doem. Na minha opinião, a lei deveria estipular que só deve receber um órgão quem doa”, afirma o médico.

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