Praias estão em baixa

Crise preocupa e comércio do litoral do Paraná chama os turistas

Tanto a oferta quanto a procura por imóveis para locação no litoral paranaense caiu com a crise financeira que atinge o País. Na avaliação dos corretores, quem tem imóvel nas praias optou por usufruir da propriedade em vez de alugar. Com o valor alto do dólar, muita gente que viajava para o exterior preferiu ficar no Brasil.

A procura também está abaixo do usual para esta época do ano. “Já esperávamos um interesse inferior porque o feriado de 7 de setembro é um sensor, e indicou como seria o verão. Antes, o pessoal costumava alugar para 10, 15 dias de temporada. Agora, estão procurando por apenas 4 ou 5, só para o Réveillon”, diz Augusto Cavalari, proprietário da Cavalari Imóveis, de Praia de Leste, em Matinhos. Nessa imobiliária, 20% dos 70 imóveis do catálogo ainda estão disponíveis para a virada. “O valor da locação está 20% menor que o do ano passado. Temos imóveis a partir de R$ 50 por pessoa, tem casas para oito pessoas por R$ 300 a diária”, informa. Casas de melhor padrão, pra 10 pessoas, estão por R$ 500 a diária. Pra períodos de tempo maiores, da pra negociar.

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Movimento

A queda na procura também foi sentida em Guaratuba. “Está fraco, a locação caiu em torno de 20%, os corretores estão todos reclamando”, conta Luiz Kogima, funcionário de uma unidade da Apolar próxima à Praia Central. Mas a gerente, Patrícia Barbosa Crestan, mantém o otimismo: “Já tivemos muitas temporadas assim, parecia que os imóveis iam ficar vazios, mas saiu o sol e locou tudo de última hora. A expectativa é locar 100%”. A faixa de preço é ampla, com diárias de R$ 150 a R$ 1.500. Ainda estão disponíveis 50% dos imóveis.

Preocupados em ter praias vazias, comerciantes resolveram agir.

Congelando os preços

Pra não perder clientes, os comerciantes do litoral paranaense optaram por não reajustar os valores das mercadorias. A estratégia foi adotada porque a crise financeira mudou os hábitos de consumo do veranista. “Antes, o pessoal chegava, nem perguntava o preço e levava. Hoje eles vêm, perguntam, vão embora e depois voltam. Em quatro anos do meu comércio, é a primeira vez que estão pesquisando”, conta Alessandra Tebchirani, que tem uma pequena loja de conveniências na Praia Brava de Caiobá.

“Optamos por desligar a geladeira que mais consumia energia e por trabalhar com os mesmos preços do ano passado, diminuindo a margem de lucro, para garantir as vendas. O cliente está bem mais sensível aos preços”, diz Tarso Tebchirani, marido de Alessandra.

A proprietária de uma rede de mercados na Praia Central de Guaratuba, Luciane Scheuer, também notou a mudança no comportamento do consumidor: “Não é que eles deixaram de comprar, mas estão comprando produtos inferiores, de segunda linha. Não pararam de beber nem de fumar, mas não levam a vodka mais cara, o cigarro mais caro”.
Apesar de os turistas estarem segurando o bolso, a empresária n&ati,lde;o deixou de investir nos negócios. “Contratamos temporários e aumentamos nossa equipe em 50% para esta temporada. Há uma semana, inauguramos outra unidade. Estamos otimistas porque nossos pontos são bons, com localização próxima à praia”, diz.

Rodrigo acredita que as coisas vão melhorar ao longo da temporada.

Dicas importantes antes de alugar

Em Caiobá, as coisas estão melhores. Com 30% dos imóveis pra alugar ainda desocupados, o corretor Rodrigo Silva, da Habimar, afirma que o movimento está parecido com o do ano passado. “O pessoal sempre deixa para locar no final. Já reservamos bastante pra janeiro e carnaval, muita gente se adiantou para pegar melhores opções. E a oferta de imóveis caiu cerca de 10%, não foi expressivo”, diz ele. A empresa optou por manter os preços de 2014. Pra virada do ano, as diárias vão de R$ 280 a R$ 1.600.

A diretora do Departamento Estadual de Defesa do Consumidor (Procon-PR), Claudia Silvano, dá dicas práticas para o veranista não se dar mal na hora da locação:

– Conheça o local antes de fechar o contrato ou pagar qualquer valor.

– Busque informações sobre a infraestrutura próxima: se há mercados, farmácia, hospital, panificadora.
– Aproveite a facilidade oferecida pela tecnologia e guarde toda a documentação, como fotos e informações, pra caso precise reclamar. Se você chegar lá e o imóvel não for correspondente ao oferecido, vá atrás de seus direitos. Esteja ciente de que para a temporada o aluguel pode ser cobrado adiantado.

– Caso o imóvel seja locado junto com seus pertences, como eletrodomésticos e utensílios, faça uma vistoria caprichada junto com o corretor ou proprietário, para que nenhuma avaria indevida lhe seja cobrada no final.

Apenas o Ano Novo não resolve

Para o presidente do Sindicato de hotéis, restaurantes, bares, casa noturnas e similares do litoral do Paraná (Sindilitoral), Carlos Dalberto Freire, que é dono de um restaurante em Matinhos, as expectativas não são tão boas. “Ano passado, nesta época, o movimento já estava espetacular, e peguei oito temporários. Neste ano, só contratei dois. Muita gente foi demitida aqui no município, temos esse problema econômico. Mas esperamos que tenha calor, e que ele traga turistas”, torce. Pra Freire, a virada do ano deve ser boa para os estabelecimentos, porém, ela sozinha não garante uma temporada lucrativa. “Só o Ano Novo não adianta, quatro dias de virada não resolvem o problema, mas já ajudam o comerciante. Depois do dia 1.º, o movimento cai. O que queremos é que ele se prolongue até o Carnaval”. Segundo o presidente, os proprietários estão com medo, porém, buscam manter o otimismo, já que a alta do dólar barrou muitas viagens para o exterior.

Em seu restaurante, Freire optou por não repassar a inflação para o consumidor. “Até agora não mexi no preço, estou trabalhando com o mesmo de novembro de 2014. Os valores estão bons nos comércios de todo o litoral”, afirma, indicando que a tendência é geral.

“Esperamos que o calor traga turistas”, torce Carlos, do Sindilitoral.