Cresce a violência no Centro Cívico

No coração do Centro Cívico, bem perto de onde concentram-se os três poderes do Estado e a Prefeitura, uma onda de assaltos tem deixado moradores, comerciantes e pessoas que trabalham na região com medo.

Seja com canivete, revólver ou pistola, os marginais atacam a qualquer hora do dia ou da noite e parecem não se intimidar em agir perto da cúpula do poder.

Um dos problemas enfrentados está na ponte que passa sobre o Rio Belém, na Avenida Cândido de Abreu.

O lugar se transformou em casa para alguns adolescentes, apontados como responsáveis pela prática de assaltos e furtos.

Pelo menos três deles moram dentro da ponte de madeira, que é oca. Passar sobre ela pode ser um perigo durante o dia. À noite é a sentença de assalto.

Os garotos que moram ali são conhecidos por entrar e sair rapidamente de dentro dela e abordar repentinamente quem passa por cima.

Banco

Os funcionários de um banco, situado ao lado do ?mocó?, contam que recomendam aos clientes que não passem pela ponte para encurtar o caminho. ?Até acompanhamos alguns idosos até seus carros?, conta uma das funcionárias.

O vigilante da agência bancária Francisco Nereu Bonfin diz que todos os dias antes de o banco fechar, retira os tapetes da entrada e as bandeiras, pois até estes objetos são furtados.

Há duas semanas a agência foi invadida durante a noite. O marginal entrou pelo compartimento onde são colocados metais, ao lado da porta giratória, e furtou um monitor de computador.

O porteiro de um prédio próximo conta que, na semana passada, um dos menores tentou assaltar uma mulher com um canivete. O namorado dela segurou o garoto e chamou a polícia. ?Não adiantou nada, pois o menino tem 12 anos e os policiais logo o soltaram?, contou o porteiro.

Abaixo-assinado

Para acabar com essa insegurança, 80 moradores e comerciantes da região preencheram abaixo-assinado. No documento, que deve ser entregue nos próximos dias à Prefeitura, eles pedem mais policiamento e o fechamento do acesso para dentro da ponte.

Segundo um dos homens que assinou o protesto, além do perigo para quem passa por ali, os próprios adolescentes correm riscos. Ele conta que quando há fortes chuvas o Rio Belém enche rapidamente e os garotos podem se afogar. ?Já chamei a assistência social várias vezes, mas como os agentes não entram na ponte não encontram ninguém.?

Ciclovia

A ponte existe há mais de 15 anos e há pelo menos quatro oferece perigo. Ao lado dela há uma ciclovia. O espaço destinado a pedestres e ciclistas se transforma em ponto de prostituição e de consumo de drogas, não importa o horário. ?Há um ano foram colocados postes de luz e isso ajudou bastante, mas está longe de ser a solução do problema?, finaliza outro morador.

Perigo constante na Mateus Leme

Foto: Alberto Melnechuky

Esquina com a Inácio Lustosa é ponto ?preferido? dos bandidos.

Na divisa com o bairro São Francisco, as histórias de assaltos não são diferentes. A Rua Mateus Leme é uma das mais atingidas pela violência, em especial perto da esquina com a Avenida Inácio Lustosa.

No ano passado, uma panificadora foi assaltada três vezes. Um dos roubos aconteceu às 16h30 e os demais às 22h, quando o comércio encerrava o expediente.

Nos três assaltos os marginais entraram armados, renderam funcionários e limparam o caixa. ?Trabalho tenso durante todo o dia. O problema não é o prejuízo financeiro, mas o medo constante de levar um tiro no peito?, desabafa o comerciante.

O dono de uma farmácia conta que, no ano passado, foi assaltado às 11h por um homem armado e há um mês deteve um marginal que tentou furtar produtos. ?Eu o segurei e chamei a polícia. A gente percebe que muitos assaltos são feitos para comprar drogas, pois aqui é comum ver pessoas consumindo crack?, conta.

Humilhação

Ainda na Avenida Inácio Lustosa, o proprietário de uma loja de instalação de som automotivo contou que, em 2007, sofreu dois assaltos em três meses. Os roubos aconteceram às 18h30, quando ele também fechava a loja. ?Os bandidos entraram, nos obrigaram a nos ajoelhar no chão e levaram vários produtos. Em cada assalto tive um prejuízo médio de R$ 12 mil?, contabiliza.

Por fim, depois de ser assaltado sete vezes em dois anos, o dono de uma loja de celulares foi obrigado a fechar as portas. Apesar disso, os empresários que persistem em manter seus comércios abertos garantem que o problema não está na falta de policiamento, mas na audácia dos marginais. ?Os policiais passam por aqui. O problema é que os marginais sabem o melhor horário para atacar e são muito rápidos?, finalizou o dono da panificadora.

Estatísticas não existem

Não se sabe ao certo quantos assaltos são cometidos, por mês, na região, uma vez que a polícia não apresenta estatísticas sobre os tipos de crimes e onde eles ocorrem. De acordo com Fioravante Perruchon, chefe de investigação da Delegacia de Furtos e Roubos, medidas estão sendo tomadas para quantificar estes delitos e, com isso, possibilitar ações pontuais em pontos críticos da cidade.

Quando os assaltos são cometidos após às 18h, as vítimas registram o boletim de ocorrência no Ciac – Sul (Portão), onde os 12 distritos da capital atendem de acordo com escala. Com isso, as informação são dispersadas pelas delegacias da cidade.

Tentativa

Para mudar esse cenário, Fioravante, que está na DFR há um mês, disse que já solicitou que todos os distritos encaminhem à especializada os boletins de furtos e roubos, para que eles sejam analisados e tabulados. ?Vamos criar um banco de dados e começar a monitorar os criminosos que agem nos locais?, finalizou o policial.

Casos graves na região

Nos últimos dez meses três fatos ocorridos na região do Centro Cívico e São Francisco tiveram grande repercussão. Em agosto do ano passado, a estudante universitária Ana Cláudia Caron, 18 anos, foi seqüestrada, quando chegava a uma academia na Rua Paula Gomes, quase esquina com a Mateus Leme. Os marginais a levaram para Almirante Tamandaré, onde a assassinaram. A garota foi violentada e depois carbonizada junto com o veículo.

Em 11 de fevereiro deste ano, 13 pessoas foram presas, acusadas de integrar uma perigosa quadrilha de assalto a bancos, ligada à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Policiais trocaram tiros com os bandidos ao invadir o quarto que ocupavam em uma pensão na Rua Mateus Leme, esquina com a Carlos Cavalcanti. O bando foi surpreendido quando se preparava para assaltar a agência bancária da Justiça Federal.

Dez dias depois, Luci, 26 anos, se jogou na rede de esgoto que passa sob a ponte, na Avenida Cândido de Abreu, dizendo que era perseguida por traficantes. A história não foi comprovada.

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