Imprudência e negligência

Aumenta o número de acidentes nas canaletas de ônibus

Imprudência de motoristas e negligência de pedestres são os principais fatores que contribuem para acidentes nas canaletas exclusivas para ônibus. Só na semana passada, pelo menos quatro acidentes ocorreram nessas vias compartilhadas por ciclistas, ambulâncias, viaturas, motoristas apressados e turistas desavisados. As recentes obras para a passagem do Ligeirão prejudicaram ainda mais a travessia. Os “gigantes do asfalto”, de 40 toneladas, passam cada vez mais próximos do pedestre, que precisa ter atenção redobrada.

Dados do Batalhão de Trânsito (BPTran) mostram que os acidentes nas canaletas representam 18% do total de sinistros envolvendo ônibus na cidade. A comparação entre janeiro a julho de 2012 e 2013 aponta para pequeno aumento nos acidentes: oito a mais neste ano, quando ocorreram 74 acidentes – praticamente 10 por mês. O número de mortes nessas vias, porém, diminuiu: houve um óbito em 2013 contra oito no ano passado. Os dados, porém, não indicam a natureza da ocorrência e quem se envolveu. No início, é comum culpar condutores dos coletivos pelo acidente, mas boa parte das ocorrências atendidas desmitifica esse hábito. Os grandes vilões são a imprudência e a distração da população, que ignora a sinalização e faz conversões em locais proibidos. “Escutamos muita reclamação com relação aos ônibus que avançam o sinal, mas na maioria dos casos os culpados não são eles. Quando analisamos nossos boletins de ocorrência, vemos que 70% dos acidentes foram provocados por terceiros”, afirma tenente Veiga, do BPTran. Em 85% dos casos, os motoristas de ônibus dirigiam na velocidade permitida e abaixo de 60 km/h.

Teimosia

Dois acidentes na semana passada foram provocados por motoristas desatentos. Em nenhuma situação, a vítima era turista. Num deles, o condutor de um Fox, de 24 anos, ficou em estado grave ao se chocar contra um biarticulado durante conversão proibida na Avenida Paraná, no Boa Vista. “Os motoristas fazem por teimosia mesmo sabendo que não podem cruzar a via”, constata o tenente. Apesar das críticas da população, o oficial observa que Curitiba é cidade modelo em sinalização. “Está faltando postura do cidadão para haver queda no número de acidentes e óbitos”, afirma.

Eletrônico tira a atenção

Para atravessar a rua, o básico é olhar para os dois lados. Muitos pedestres, porém, perdem o foco quando usam fone e falam ao celular e não percebem a proximidade do biarticulado. No ano passado, uma jovem de 20 anos escutava música e foi atropelada ao cruzar a canaleta na Avenida Sete de Setembro. Felizmente, o motorista estava em baixa velocidade e a garota sobreviveu.

Em alguns casos, a falta de atenção pode ser fatal. Em julho de 2012, Luiza Helena Cortelleti, 15, olhou para o lado errado ao atravessar a Avenida João Gualberto, em frente ao Passeio Público. Ela morreu na hora. Ainda em 2012, o jornalista Victor Emanoel Folquening, 39, também morreu ao atravessar na Sete de Setembro. Segundo o tenente Veiga, testemunhas apontaram que ele falava ao celular.

Educativo

Para alertar a população sobre o uso de aparelhos eletrônicos, o BPTran lançou campanha no ano passado. Em 2013, os policiais aproveitam bloqueios da lei seca para distribuir material educativo. “Quem mora em Curitiba precisa ter a noção que vive numa cidade especial, com confluência de ruas, o que exige mais atenção”, explica.

Por causa desse cenário, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus (Sindimoc) recomendou a redução da velocidade nessas vias e aguarda o posicionamento da Urbs. Segundo o sindicato, é provado pelo tacógrafo que motoristas que se envolvem em acidente dirigiam de acordo com a velocidade permitida e a causa principal é o descuido de pedestres e motoristas.

Calçadas mais largas

Quando se trata de acidentes com biarticulados, o cruzament,o da Travessa da Lapa com a André de Barros e a Avenida Visconde de Guarapuava vem logo à mente. O presidente da Comissão de Direito de Trânsito da OAB-PR, Marcelo Araújo, alerta que qualquer erro pode culminar em colisão. “Para não perder tempo, é comum motoristas de biarticulado diminuírem a velocidade em vez de pararem no sinal. Quando o semáforo abre, aceleram e podem bater naquele motorista que aproveita o sinal na transversal”, exemplifica. Mas, segundo o BPTran, o cruzamento mais perigoso é o das avenidas Marechal Floriano Peixoto com a Sete de Setembro.

Pedestres são os alvos mais frágeis do trânsito, principalmente idosos e crianças. Qualquer tropeço é atropelamento na certa. “Já me deparei com pedestre que não percebeu a viatura mesmo com a sirene ligada. Tivemos que frear”, lembra o oficial do BPTran. Para Araújo, as calçadas são muito estreitas em comparação com o tamanho e a velocidade de deslocamento dos ônibus, que impossibilitam freada brusca.

Vó Gertrudes entra em ação

Se nos anos 90, motoristas irresponsáveis eram chamados de “anta”, hoje uma idosa ameaça dar bengaladas neles. A vovó Gertrudes é a personagem da recente campanha da prefeitura de educação no trânsito. De início são quatro temas: alcoolismo, pedestres, ciclistas e motoristas. De acordo com a Secretaria Municipal de Trânsito, acidentes em canaletas ficaram de fora, mas nada impede que o alerta seja feito no futuro. A Setran lembrou que realiza com a Urbs cursos de capacitação de motoristas do transporte público, que recebem orientações de conduta. A segurança do passageiro é o foco das palestras realizadas até o fim deste ano.