Aranha-marrom: estudo aponta controle biológico

Pesquisa realizada na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), em Curitiba, pelo professor Eduardo Novaes Ramires, do curso de Ciências Biológicas, comprovou que lagartixas-de-parede (Hemidactylus mabouia) são eficientes predadoras de aranhas-marrons (Loxosceles intermedia), apesar de serem suscetíveis ao veneno desta espécie de aracnídeo. Esta pesquisa contraria informações anteriores lançadas na mídia, que afirmavam que o réptil devia possuir imunidade ao veneno da aranha-marrom. “Abre-se a possibilidade de utilizar lagartixas como agentes de controle biológico de populações de aranha-marrom em ambiente urbano”, garante o professor. O artigo científico com as observações da pesquisa já foi submetido para publicação.

Proveniente da África, a lagartixa-de-parede é encontrada em toda a América do Sul, tendo sido . Encontra-se bem distribuída no território brasileiro em ambiente natural, mas com maior freqüência em áreas urbanas.

A aranha-marrom se adaptou ao ambiente urbano no Brasil. Nos últimos anos, o ataque dessas aranhas foi reconhecido como um problema sério de saúde pública no estado do Paraná, principalmente na cidade de Curitiba. O veneno das aranhas do gênero Loxosceles possui forte ação contra os músculos e o sangue, podendo causar acidentes graves, eventualmente fatais. O número de picadas por Loxosceles em Curitiba (milhares de pessoa picadas a cada ano) não tem paralelo em nenhuma outra região do mundo. A espécie predominante no Paraná é Loxosceles intermedia.

Trabalho

O trabalho coordenado pelo professor Eduardo Ramires estudou a predação da lagartixa sobre a aranha, em condições de laboratório. Para as observações as lagartixas, foram mantidas em molduras de isopor fixadas à parede com silicone e cobertas com tecido translúcido. Aranhas-marrom foram oferecidas como alimento. As doze lagartixas estudadas predaram mais de uma centena de aranhas-marrons, e o comportamento de captura da aranha-marrom pela lagartixa foi descrito. Uma das lagartixas predou três aranhas em 30 minutos e seis aranhas no mesmo dia.

A lagartixa sempre evitava ser picada pela aranha-marrom, aproximando-se desta pela parte lateral ou posterior do corpo, não sendo observada nenhuma abordagem ou ataque na região frontal, onde estão as quelíceras que podem injetar veneno. A aranha abocanhada é engolida por inteiro.

Uma das lagartixas foi encontrada morta no dia seguinte ao da introdução de um grande macho de Loxosceles intermedia. Para verificar a ação do veneno do aracnídeo sobre o réptil, uma aranha foi induzida a picar uma lagartixa. Esta apresentou dificuldades de movimento minutos após a picada, e foi encontrada morta no dia seguinte.

As observações acima comprovam que a lagartixa preda a aranha, mesmo se a presa for adulta. Este fato é particularmente relevante, pois a aranha-marrom tem poucos predadores em ambiente urbano, principalmente dentro das casas. Fezes da lagartixa recolhidas em residências de Curitiba continham restos de aranha do gênero Loxosceles. Um estudo de hábitos alimentares em ambiente natural Hemidactylus mabouia encontrou aranhas como o item mais importante da dieta. Outra lagartixa, a Hemidactylus frenatus, é considerada um agente biológico para controle de pernilongos em residências, predando em laboratório 63-109 pernilongos por dia. “Podemos considerar a Hemidactylus mabouia como um possível agente biológico para controle de populações de Loxosceles intermedia em ambiente urbano”, disse o professor.

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