100 anos da imigração japonesa no Brasil

No Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, o Imin 100, mais do que a própria saga da imigração, as festividades ressaltam a integração conquistada pelos japoneses no País. Integração que foi acontecendo aos poucos, já que costumes se mantiveram e a adaptação de língua, alimentação e hábitos locais, na maioria das vezes, não foi fácil.

Foi no dia 18 de junho de 1908 que chegou ao Brasil o Kasato Maru, navio que trouxe os primeiros 781 imigrantes japoneses (165 famílias) ao Porto de Santos, em São Paulo, para trabalhar nas lavouras de café.

E, como parte das homenagens ao Imin 100, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lança no próximo domingo uma versão em inglês da obra Resistência e integração -100 anos de imigração japonesa no Brasil. O lançamento em português aconteceu ontem, em São Paulo, e a partir da próxima semana o IBGE disponibiliza o livro para venda.

Histórias de pioneiros, fotos e imagens históricas enriquecem os relatos que relembram os avanços e retrocessos da política de abertura dos portos ao imigrante japonês e analisam a dinâmica demográfica desse grupo no Brasil. O fenômeno dekassegui (retorno ao Japão de alguns descendentes) e a construção da identidade dos nipo-brasileiros são outros temas ressaltados na obra.

Com um capítulo destinado à imigração no Paraná, as autoras Alice Asari e Ruth Youko Tsukamoto retomam costumes e informações sobre os primeiros japoneses a se instalarem no Estado. ?Nas décadas de 1920 e 1930, o grande fluxo de imigrantes japoneses para o norte do Estado foi decorrente das mudanças na política de colonização do governo japonês, quando foram criadas as companhias colonizadoras?, diz o texto.

População

O censo de 1920 foi o primeiro a contabilizar a população japonesa no Brasil. A contagem mostrou que, 12 anos após a vinda dos primeiros imigrantes, havia 28 mil pessoas que compunham a população japonesa. Desse total, 95,3% dos japoneses encontravam-se na região sudeste, marcadamente em São Paulo, no município de Iguape, onde o governo estadual distribuía terras às famílias imigrantes. Dos primeiros japoneses, havia 141,5 homens para cada 100 mulheres.

De acordo com o IBGE, a maior participação dos japoneses na sociedade brasileira aconteceu pela educação e pelo trabalho. Um povo atento às novas oportunidades trazidas pela melhoria das condições de vida no campo e pelo crescimento urbano acelerado, principalmente a partir dos anos 1950s.

Oitenta anos depois, o número de residentes de origem japonesa pulou para 71 mil, segundo o IBGE. Desses, quase oito mil vivem no Paraná.

No Estado

O Paraná abriga hoje a segunda maior comunidade nikkei do País, com mais de 141 mil pessoas. Essa história começou com a primeira colônia japonesa, ainda na década de 1910, em Cacatu, na região de Antonina, litoral do Estado. Em Curitiba, por mais de 15 anos viveu o pioneiro da imigração japonesa no Brasil, Ryu Midzuno. Após sua morte, que aconteceu em São Paulo, em 1951, a viúva Maki Midzuno fixou residência na cidade, onde faleceu em 1996, deixando filhos e netos.

Do fundo do mar para a história

Resgatar peças do navio Kasato Maru é o objetivo do Instituto Paraná Hyogo (Brasil-Japão). Afundado no mar da Rússia desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando era usado como cargueiro, o navio continua no local, distante 4,5 quilômetros da costa e a uma profundidade de 18 metros. A intenção é resgatar âncoras, sino e leme. ?A idéia de resgate surgiu em uma reunião de planejamento para o Imin 100, com o arquiteto Luiz Hayakawa. O representante do governo da província japonesa de Hyogo no Brasil, Makoto Yamashita, resolveu pesquisar sobre o assunto e colocá-lo em prática?, explica o diretor de Marketing do Hyogo, Gervásio Iwamoto. Uma equipe de técnicos de mergulho e de arqueologia marinha está sendo organizada, com profissionais brasileiros, militares russos e um pesquisador alemão para a missão. Uma viagem precursora, nos próximos meses, irá checar condições e equipamentos necessários ao resgate. A partir daí, será marcada uma data para o recolhimento das peças, o que deve acontecer em setembro ou outubro. Além das duas âncoras, há expectativa de que o navio tenha uma âncora reserva, que poderia ficar em Curitiba, já que uma delas ficará no Porto de Kobe, de onde saiu o navio, e a outra no de Santos, onde os imigrantes chegaram.

Projeto especial

Em homenagem ao Imin 100, a partir de amanhã, O Estado do Paraná traz a seus leitores o projeto especial Japão: 100 anos de imigração. Diariamente em nossas páginas, durante um mês, os leitores acompanharão depoimentos de quem vivenciou, de alguma forma, a vinda das famílias japonesas ao Brasil. São relatos contados pelos próprios imigrantes ou por seus familiares, de quem cresceu ouvindo as histórias de determinação e vitória de seus pais e avós.

Príncipe do Japão visitará três cidades paranaenses

O príncipe do Japão, Naruhito Kotaishi Denka, estará na região norte do Paraná no próximo domingo para participar das festividades do Imin 100. Até sexta-feira o príncipe permanece em São Paulo e, no sábado, visita o Porto de Santos, onde chegou o Kasato Maru, primeiro navio que trouxe os imigrantes japoneses. No domingo pela manhã, o príncipe será recebido nos municípios de Londrina e Rolândia.

O herdeiro do trono japonês deve participar da inauguração da Praça Tomie Nakagawa, em Londrina, antes de seguir para Rolândia, onde acontece o lançamento da pedra fundamental do Parque Temático Yume. Espera-se que, em dois anos, seja construído o parque no Imin Center, onde em uma área de 9 mil metros quadrados poderá ser reproduzida a saga dos imigrantes japoneses. O projeto prevê a utilização de muitos recursos tecnológicos e, para parte de sua construção, já foram destinados R$ 10 milhões em recursos do governo federal.

Para a solenidade oficial são esperadas 30 mil pessoas e, para caracterizar a festa, pratos típicos japoneses não vão faltar, como obento (uma espécie de marmita japonesa), espetinho, doces japoneses e pastel.

À tarde, o príncipe segue para Maringá, onde vivem cerca de 20 mil dos 150 mil descendentes de japoneses do Paraná. Na cidade, Naruhito participará da inauguração do Parque do Japão, um jardim imperial ornamentado por típicas cerejeiras, lagos com carpas, cachoeiras, quiosque, casa de chá, portal de entrada, museu histórico e o monumento comemorativo à imigração japonesa. O espaço foi projetado para ser o maior jardim japonês implantado fora do Japão. O complexo turístico, cultural e esportivo está localizado em uma área de 100 mil metros quadrados, entre o Parque Itaipu e o Jardim Industrial, na saída para o município de Campo Mourão. No fim do dia, o príncipe recebe homenagens da comunidade nipônica local na Associação Cultural e Esportiva de Maringá (Acema).

Visitas

A primeira visita de Naruhito ao Brasil aconteceu no ano de 1982, quando se disse impressionado com os esforços realizados pelos japoneses para prosperar aqui no País, apesar das dificuldades. O Brasil foi o primeiro país para onde Naruhito viajou em visita oficial.

As visitas de membros da Casa Imperial ou do governo japonês são tradição nas comemorações dos aniversários da imigração japonesa no Brasil. A tradição começou em 1958, no cinqüentenário. Príncipes e autoridades japonesas estiveram no Paraná nos Imins 70, 75, 80 e 90.

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