Paraná é único Estado com lei sobre desfibrilador

Após a morte do zagueiro Serginho, surgiu uma polêmica sobre o atendimento prestado ao atleta. Para muitos médicos, se o desfibrilador tivesse sido utilizado de imediato, o jogador poderia estar vivo.

Enquanto em Brasília está parado o projeto do deputado federal Tião Viana (PT-AC) sobre a obrigatoriedade da existência de um aparelho desses em todos os lugares de concentração de pessoas, no Paraná já virou lei. Termina em dezembro o prazo para estabelecimentos ou eventos com grande circulação de pessoas, no Paraná, manterem de prontidão um aparelho desfibrilador. O governador Roberto Requião assinou, em 7 de junho, a Lei 14.427, que faz essa determinação para que possa ser dado atendimento emergencial a vítimas de parada cardíaca, de acordo com as normas do Comitê Nacional de Ressuscitação Cardiopulmonar. O Paraná é o único Estado em que essa lei existe.

O médico Nabil Gorayeb, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, disse que um aparelho desfibrilador semi-automático deveria ser objeto obrigatório nos estádios de futebol, comentando o incidente com o zagueiro Serginho, do São Caetano. O médico Martino Martinelli Filho, responsável pela unidade clínica de marcapasso do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), comentou que o meio mais eficaz de tentar salvar uma vida numa circunstância como essa é com a utilização do desfibrilador.

O desfibrilador é um aparelho que solta uma descarga elétrica no coração da pessoa infartada para que ele volte a bater. “Você tem três minutos para tentar a reanimação e ela tem resultado em 70% dos casos”, explica o médico.

Lei

A lei também prevê a presença de pessoa qualificada de acordo com as normas do Comitê Nacional de Ressuscitação Cardiopulmonar – para operar o aparelho. Proposta pelo deputado Edson Praczyk, a lei determina que os aparelhos devem estar prontos para utilização em aeroportos, shopping centers, hipermercados, faculdades, estádios e centros de eventos com circulação superior a mil pessoas por dia. Os estabelecimentos com essas características teriam 180 dias para se adequar à norma.

Problemas distintos, mas preocupam

Se a morte de Serginho em campo chocou atletas do Brasil inteiro, o que dizer do artilheiro Washington? O atacante do Atlético virou assunto em todo o País ao voltar aos gramados após um sério problema no coração. Há dois anos, foi detectado um entupimento em uma das artérias e ele foi submetido a uma angioplastia. Ontem, alarmado com o caso do companheiro de profissão, o artilheiro não quis falar com a imprensa.

A preocupação de Washington não é à toa. Na quarta-feira, logo após a remoção do zagueiro para o Hospital São Luís, em São Paulo, o goleiro Sílvio Luiz deu a polêmica declaração, dando conta de que o jogador sabia do problema – arritmia cardíaca – e que tinha 1% de risco de morte. “Por mais que o atleta soubesse do risco, o departamento médico do clube não poderia tê-lo autorizado a continuar jogando. É um esporte que exige muito”, diz o cardiologista Mário Sérgio Cerci, diretor do Hospital do Coração e professor de cardiologia do Hospital de Clínicas de Curitiba.

No caso de Washington, que tem um problema distinto – sofre de uma cardiopatia – o risco também existe, mesmo que o jogador atleticano seja assistido de forma assídua. “Sabemos que ele passa por exames detalhados (cintilografia e ergometria) semanalmente. Ele até pode ter reduzido os riscos de infarto após a cirurgia. Entretanto, ele tem mais riscos que uma pessoa normal, certamente.”

O grande prejuízo por jogar fora

O copo d?água e o rolo de papel higiênico atirados ao gramado da Arena na partida contra o Atlético Mineiro e que gerou a perda de dois mandos de campo pelo campeonato brasileiro deverá gerar um prejuízo de R$ 250 mil aos cofres do Atlético. Este é o cálculo inicial dos dirigentes rubro-negros, que não poderão usar a Arena nas partidas contra Internacional e Criciúma, e terão que arcar com os custos de deslocamento, estada, aluguel de outro estádio, além de não poder contar com a torcida, a arrecadação de um jogo em casa e da multa recebida pelo tapetão.

Para se ter uma idéia, o clube irá gastar R$ 10 mil somente para abrir o Serra Dourada, que pertence ao governo de Goiás, sendo que 5% da renda também vai para a administração do estádio. Ainda terá que contratar 113 pessoas para formarem o quadro móvel (pessoal que põe o local para funcionar) ao custo de R$ 2 mil e mais R$ 500,00 para a limpeza.

Os cuidados para o cidadão comum

A morte súbita do jogador Serginho tornou-se tema das rodas de bate-papo, mesmo para aqueles que não costumam acompanhar jogos de futebol.

Surge a pergunta: Se aconteceu com um jogador de futebol, que mantém vida regrada e é assistido diariamente por uma equipe médica, o que dizer dos cidadãos comuns?

A comoção provocada pela morte de Serginho, segundo o cardiologista Mário Sérgio Cerci, talvez sirva de alerta para a população. “As pessoas costumam procurar o médico quando se sentem mal, quando na verdade, exames preventivos deveriam ser feitos ao menos uma vez ao ano”, explica o diretor do Hospital do Coração de Curitiba e professor da cadeira de cardiologia no Hospital de Clínicas.

Quando o assunto é coração, vale aquela máxima popular: prevenir é melhor que remediar. Isto porque em casos de doenças cardíacas, as manifestações costumam acontecer repentinamente e trazem sérios riscos de morte. Um exame anual pode detectar esses males, levando à prevenção. “O mínimo que se deve fazer é um exame ergométrico (teste de esforço) e um eletrocardiograma. Esses exames costumam detectar quando algo não vai bem.”

Trio de Ferro se cerca de cuidados

Os clubes de Curitiba têm realizado procedimentos de monitoramento sobre a condição física dos seus atletas. O Atlético, em função do caso Washington, foi o primeiro a fazer um trabalho específico sobre as condições cardiovasculares de todo o elenco. No Coritiba, segundo Lúcio Ernlund, o departamento médico adota um procedimento padrão. “No início da temporada, todo o elenco passa por uma bateria de exames fisiológicos, onde são realizados testes sobre as condições físicas gerais. Os atletas contratados ao longo da temporada também passam pelas mesmas baterias de exames”, revelou o chefe do departamento médico.

Já no Paraná, o responsável pelo departamento médico, Mothy Domit Filho, disse haver um protocolo a ser seguido sempre que um novo jogador é contratado. Nem sempre, porém, todos os exames são efetuados. “Vai muito do histórico do atleta”, explicou. “Temos contato com médicos de outras agremiações e todo atleta em atividade possui um histórico”, resumiu. Faz parte deste protocolo, a realização de exames clínicos e laboratoriais, radiografia de joelho, quadril, coluna e tórax, além, é claro, de uma avaliação cardiológica.

“Na atual temporada, diante da quantidade de atletas contratados, muitos não fizeram um dossiê completo”, admitiu. “Mas, via de regra, os jogadores são encaminhados a especialistas amigos nossos -que não integram a equipe médica tricolor – para um eletrocardiograma.”

Domit sabe que o assunto é polêmico, mas afirma que por mais que os jogadores passem por todos os testes cardiológicos possíveis, não estão completamente seguros contra a morte súbita.

“Há, por exemplo, o caso do Foe, que morreu de um aneurisma”, lembrou. Um caso assim, assinalou Domit, só seria diagnosticado com antecedência com a realização de uma ressonância de crânio com contraste. “Só que num teste como este, há um risco de 3 a 5% de choque anafilático. Então, reafirmo: a clínica é soberana.”

Pressão

Para o volante Reginaldo Nascimento, que recentemente passou quatro meses afastado dos gramados por conta de uma fratura de três ossos da face, o caso Serginho é um fato para alertar os dirigentes e responsáveis pela montagem do calendário. “Você acorda e já é cobrado por alguém. É torcedor, dirigente ou treinador. Neste fim de ano, estamos sentindo na pele as cobranças”, revelou o líder do elenco alviverde, mostrando que jogadores se sentem muito pressionados e isso “pode ser um fator que leve a casos como o do volante do São Caetano”.

No Paraná, quatro mortes

No futebol paranaense, a morte em campo marcou jogos fatídicos, mas em poucas oportunidades envolveu problemas de coração . O primeiro caso de morte em campo correu no ano de 1944, quando o meia Babãozinho, do Britânia, caiu em campo na partida contra o Jacarezinho, no Estádio Joaquim Américo, sofreu fratura de coluna e morreu. A segunda tragédia marcou a data de 2 de junho de 1968, com a morte do revolucionário dirigente Jofre Cabral e Silva, presidente do Atlético. Torcedor fervoroso, Jofre acompanhava seu time em qualquer circunstância, como estava fazendo naquela tarde do jogo entre Londrina e Atlético, no Estádio Vitorino Gonçalves Dias.

Vítima de ataque cardíaco fulminante, Jofre levou uma multidão calculada em 20 mil pessoas para o seu funeral, no trajeto entre a Baixada e o Cemitério Municipal, com uma carreata de mais de mil automóveis.

No dia 17 de setembro de 1978, o lateral Valtencir, do Colorado, vindo do Botafogo, morreu em campo durante o jogo de seu time contra o Grêmio de Maringá, no Willie Davids. O defensor tentou dar combate ao meia Nivaldo e escorregou à sua frente. O atacante maringaense tentou evitar o pior ao saltar por cima. Foi ali que a tragédia se consumou. A cabeça de Valtencir se chocou contra o joelho de Nivaldo e o choque provocou fratura na coluna cervical, seguida de morte instantânea.

O luto parecia rondar a Vila Capanema. Os fatos ocorridos com seu time ou torcida levaram alguns a indicar que as tragédias estavam vaticinadas pelo preto do escudo do extinto Colorado. Esta corrente ganhou força depois da segunda tragédia, desta vez envolvendo o Paraná, no campeonato paranaense de 1990.

Em 15 de abril, o jogo foi no Estádio Durival de Britto e contra o Sport Campo Mourão. Aos 18 minutos, o zagueiro Wagner subiu para tirar um escanteio e se chocou com o zagueiro Charuto, indo os dois para o chão. Imediatamente, o jogador boca-negra foi conduzido ao hospital, com suspeita de fratura na coluna.

No dia seguinte, obteve alta e foi repousar em sua casa.

Mas poucas horas depois, acusando muitas dores de cabeça, Wagner voltou ao Hospital Evangélico. A hemorragia provocou asfixia e o jogador entrou em coma antes mesmo de chegar ao elevador do hospital. Exames mais apurados posteriormente mostraram que ele havia sofrido fratura lateral do crânio, com corte de aproximadamente 18cm. A agonia durou mais quatro dias e no dia 20 de abril, o zagueiro morreu.

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