Pacientes psiquiátricos do Estado vão para residências terapêuticas

A Secretaria da Saúde inaugurou nesta sexta-feira mais uma residência terapêutica para abrigar pacientes psiquiátricos que estão deixando o Hospital Colônia Adauto Botelho, o único hospital psiquiátrico público do Paraná. Alícia Maria dos Santos, de 54 anos, e José Borges da Silva Filho, de 44, estavam felizes por que foi a primeira vez que eles participaram de uma festa na sua casa. Os dois fazem parte do grupo de 24 pessoas que passaram a residir em três residências terapêuticas inauguradas em Quatro Barras.

A festa emocionou as pessoas envolvidas no processo de mudança dos pacientes. "Nosso objetivo maior é o resgate da cidadania das pessoas e isso não se faz sem a inclusão social", disse a diretora geral do Adauto, Suzana Mallmann.

O prefeito de Quatro Barras, Roberto Adamovski, destacou a importância das residências estarem sendo implantadas no município. "Todos os novos habitantes são muito bem vindos, ficamos alegres por estar participando dessa ação tão importante do governo na área da saúde mental", afirmou. O município já ‘adotou’ os novos moradores e também foi ‘adotado’ por eles.

"Já fui em duas festas aqui e gostei bastante", contou Alícia, que antes de ir para a residência morou oito anos no hospital. Borges, após 28 anos internado, aproveita tudo o que a nova vida oferece. Já foi às compras, deixa seu quarto bem organizado e faz questão de cuidar sozinho do jardim da casa nova. "Realizei um sonho, agora tenho a minha casa".

As residências fazem parte Reabilitação Social e Desinstitucionalização de pacientes de longa permanência dos hospitais psiquiátricos. Essas residências são administradas pela Associação Padre João Ceconello e os pacientes têm acompanhamento psiquiátrico ambulatorial dos profissionais do Adauto. "Com estas residências, estamos humanizando o tratamento pelo SUS, permitindo a reinserção social dessas pessoas", afirmou Suzana.

As residências terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia para um grande contingente de pessoas que estão internadas há anos em hospitais psiquiátricos por não contarem com suporte social e familiar adequado. Os moradores recebem tratamento através da rede integral de saúde e contam com a supervisão de um profissional de saúde mental e de dois cuidadores.

De acordo com a coordenadora estadual de saúde mental, Cleuse Brandão Barleta, a implantação dessas casas faz parte da política estadual de saúde mental, cuja principal ação é expandir e fortalecer os serviços extra-hospitalares visando mudar o modelo assistencial em saúde mental, antes centrado no hospital psiquiátrico para um modelo de base comunitária.

"Desta forma, a Secretaria tem ampliado o serviço para garantir acesso dos usuários", explicou. A ação faz parte do programa "De Volta Para Casa", do governo federal. Além da moradia, que é financiada pelo SUS, estes pacientes têm a possibilidade de receber um auxílio de reabilitação psicossocial, benefício do programa, no valor de R$ 240,00 para que possam reconstruir suas vidas.

Com as novas unidades, o Paraná passa a contar com 13 Residências Terapêuticas, sendo cinco localizadas em Curitiba e cinco em Campina Grande do Sul, além das três de Quatro Barras. Ainda este ano serão implantadas outras quatro em Cascavel, uma em Maringá e uma em Ponta Grossa, totalizando 19 residências.

Hospital Adauto Botelho

O Hospital Colônia Adauto Botelho, inaugurado em 5 de junho de 1954, localizado na região metropolitana de Curitiba, no município de Pinhais, é especializado em Psiquiatria, sendo referência estadual. Promove tratamento a portadores de transtornos mentais e alcoolismo.

O hospital possui 280 leitos, dos quais 180 destinados aos pacientes agudos e 102 aos usuários de transtornos mentais de longa permanência, sem vínculo familiar, que estão no Hospital, em um período variável de oito a 30 anos.

Os 100 usuários estão inseridos no Projeto de Desinstitucionalização e Ressocialização do Hospital Colônia Adauto Botelho, o qual visa a reorientação do modelo de atenção ao portador de transtornos mentais, conforme preconiza a Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/01), que dispõe sobre a proteção e os direitos dos usuários portadores de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental.

Para a realização deste programa, conta-se com o trabalho de uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Direção do Hospital, visando a valorização dos recursos internos preservados, a reabilitação dos recursos individuais, bem como o resgate de hábitos como cozinhar, cuidar da aparência pessoal e de seus pertences, fazer compras, entre outros.

O programa se desenvolve através de grupos, como os grupos psicoterapêuticos, grupos sobre medicação – onde explica-se a necessidade e o cuidado com a medicação, grupos de convivência que trabalha a convivência em sociedade, atendimentos individuais – realizados por psicóloga, terapeuta ocupacional e assistente social, e oficinas profissionalizantes – cujos produtos são comercializados, sendo que 50% do valor é destinado ao usuário e os outros 50% são revertidos para compra de materiais.

Para se identificar os usuários asilares com condições de serem encaminhados para residências terapêuticas foram realizadas avaliações biopsicossocial, entrevistas, verificações de condições clínicas e discussões técnicas. Antes de ir para as residências terapêuticas, eles passam por uma "Casa de Passagem", localizada próxima ao hospital, para iniciarem seu processo de reinserção social.

Nesse projeto, 17 usuários tiveram suas famílias localizadas e, após o estabelecimento do vínculo, foram inseridos no ambiente familiar.

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