O dilema de Lula

Lula será ou não candidato à reeleição? Para seu antecessor, FHC, o atual presidente não terá outra saída. Lula, apesar da crise, continua sendo o maior e mais popular dos membros do seu partido e – por que não reconhecer? – mantém ainda prestígio nas massas. Mesmo que sondagens feitas por institutos especializados demonstrem que a crise política e moral fizeram com que o conceito do presidente descesse ladeira abaixo, ele ainda mantém uma posição invejável. Quase a metade das pessoas consultadas continuam a aplaudi-lo.

No mais, tudo depende de quem seja o candidato das oposições. Se Serra, a candidatura Lula estaria ameaçada. Se Alckmin, governador de São Paulo, quem sabe. O chefe do Executivo paulista é um nome respeitado e respeitável, porém ainda não conhecido e popular em todo o País.

Fora Lula, não há outro nome para ser candidato petista.

Considere-se, ainda, que a crise continua, cada dia somando mais um ou dois capítulos. E é possível que o prestígio do governo e do presidente continue em queda, chegando a um ponto que sair para a reeleição seria apostar na derrota.

Os atos políticos de Lula, já há bastante tempo e a destempo no que toca à legislação eleitoral, têm sido de campanha. Ele, como seu amigo Hugo Chávez faz na Venezuela, tenta dividir a sociedade brasileira, chamando para o seu lado as classes mais pobres e menos instruídas.

Adiciona ao seu arsenal de possível candidato à reeleição os resultados da economia. Resultados que têm sido positivos, ou pelo menos mais positivos do que seria de se esperar, em meio a tão severa crise política e moral. Mas a primeira entrevista coletiva do presidente, no programa televisionado Roda Viva, deixa dúvidas sobre sua candidatura à reeleição, mesmo mantidos o nível atual de prestígio popular e os sucessos na área econômica. Ele diz que o assunto só será discutido e decidido lá por janeiro, fevereiro ou março.

Na mesma entrevista, invoca os exemplos das candidaturas à reeleição de Bush nos Estados Unidos e FHC no Brasil. Ambas foram bem sucedidas nas urnas, mas os segundos mandatos não corresponderam às expectativas. Lula acrescenta um ?sine qua non? difícil de ser conquistado. Quer um esquema de apoio político partidário forte, que garanta sustentação parlamentar num pretendido segundo mandato, via reeleição.

Se cotejarmos o quadro político que levou o atual presidente à chefia da nação com o que ele ambiciona e considera indispensável para lograr êxito numa reeleição, veremos que houve uma conta de subtração.

O PT de hoje não é o pequeno, porém forte e eloqüente partido que embasou a candidatura Lula. Hoje, o Partido dos Trabalhadores é o que dele sobrou, depois de defecções, expulsões e manifesto desinteresse de muitos próceres, filiados e simpatizantes. O PT está no centro do escândalo do caixa 2 e, se não sair queimado, sobreviverá muito chamuscado.

As alianças para garantir a primeira eleição e as bases situacionistas foram obtidas com o financiamento ilegal e recursos de fontes escusas. Não é de se acreditar que o PT remanescente queira refazer esse esquema. Nem que possa refazê-lo, pois ?gato escaldado tem medo de água fria?. Assim, é possível e até provável que Lula não queira ser candidato à reeleição, para poder ser candidato a uma nova eleição mais tarde, em outro pleito.

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