Por quem choramos

Eis que o destino nos tira alguém muito querido. Então choramos. Contudo, choramos muito por nosso desamparo individual e pouco pela pessoa que morreu.

A morte de alguém próximo causa danos à nossa psique. Primeiro, porque nos põe na perspectiva de que, de fato, somos fisicamente mortais, a qual contrapõe e abala a confortável crença de que temos todos uma alma imortal. Segundo, porque perdemos não apenas uma pessoa amada, e sim um relacionamento afetivo. E isso é muito grave na medida em que nossa identidade está justamente estruturada sobre relacionamentos afetivos. Neuroticamente ou não, somos todos seres interligados e interdependentes. E a morte nos força sempre a uma difícil e complicada re-estruturação emocional. Assim, não temos depressão pós-morte por pesar da pessoa que se foi, e sim por nós mesmos que não conseguimos juntar os cacos para seguir os dias, afinal parte (ou muito) da nossa própria vida estava depositada na da pessoa que perdemos. Choramos por essa razão, por autopiedade em face do próprio desespero. Isso faz parte da natureza humana, porque durante nossa vida mortal somos obrigados a morrer muitas vezes.

Aos mortos podemos apenas dedicar nossa saudosa lembrança, sinceras orações ou, ainda, comentários típicos de quem não quer se ater às tragédias alheias, como o famoso: passou dessa para melhor…

Djalma Filho é advogado

djalmafilho68@uol.com.br

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