Passeando, olhando, conversando

E, às vezes, me aborrecendo… Saio de casa e já vou encontrando vizinhos, amigos, conhecidos e cumprimentando uns e outros. Muitas vezes paro para conversar um instante. De vez em quando preciso apanhar um táxi e vou conversando com o taxista. Outro dia, um deles me contou que sua sogra tinha quarenta gansos e vizinhava com uma parente que só tinha quatro gansos; uma tardinha na hora de recolher a criação, a tal parente recolheu seus quatro gansos e os quarenta da sogra do taxista, pra nunca mais devolver! Toda a família, desde aquele tempo, está de relações cortadas… Outro taxista, o Edson, que faz ponto na Mariano Torres, morava em uma chácara que ficava no Cajuru, quando menino. Ele ajudava o pai na entrega do leite todas as madrugadas. Ele ainda lembra dos litros de vidro deixados nos portões das casas e, uma vez por semana fazia a coleta do pagamento, deixado em um saquinho pendurado no portão da casa de cada freguês! Ninguém roubava… Também os pães eram deixados em sacos de pano, bordados com a palavra pão. Agora, escrevendo esta crônica, acabo de lembrar que a minha primeira filha, muito pequena e que ainda não falava, chorou muito uma noite e eu não conseguia entender a razão de tanto choro, até que ela, desesperada, falou ?pão?… Foi a sua primeira palavra! Ao escutar o trotar do cavalinho do padeiro, abri a janela e chamei ?padeiro!?. Ele prontamente parou ali mesmo e, pela janela, me entregou uns pães. Devia ser duas ou três horas da manhã… Isso aconteceu há quase sessenta anos…

Contando e recontando coisas assim, até parece que naquele tempo não havia gente de má-fé, e como havia! Lembram do conto do ?bilhete premiado?? Este tipo de golpe ainda é praticado, por incrível que pareça.

 Eu devia ter uns treze anos, quando o dono de uma pequena loja, não sei porquê, me contou que alguns comerciantes, aqui instalados, após receberem as mercadorias encomendadas, simplesmente mudaram de endereço. As notas promissórias emitidas pelas firmas de atacado, enviadas pelos bancos aos devedores, voltavam com o carimbo: ?promissória não aceita.?

Acredito que muita gente ainda se lembra do ?trem da alegria?…

Creio que estávamos nos anos 1970s, e quantos queriam participar das vantagens do tal ?trem?.

E da famosa frase : ?O festival de besteiras que assolam nosso país!?

Que se lembra? Pois me lembro desse?ovo?, mas não consigo me lembrar quem foi que ?botou?.

Margarita Wasserman, escritora e membro do Instituto H. e Geográfico do Paraná.

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