O sonho de viver à beira-mar pode levar a muitos caminhos

Chutar o ?pau da barraca? e começar uma vida nova, longe dos atropelos do dia-a-dia, sem telefone celular tocando o tempo todo, sem chefe para fazer cobranças, sem medo de ladrão e acima de tudo ficar em contato com a natureza, é sonho de milhares de pessoas. Mas são muito poucas as que conseguem realizá-lo e menos ainda as que têm coragem para mudar de vida. Na série ?Conversa de Pescador? a Tribuna encontrou no balneário Guarapari, o ex-gerente de uma rede de hotéis, pai de três filhos, que decidiu abandonar tudo e ir viver da pesca. A mulher e os três filhos o acompanharam. A empreitada não saiu como ele queria. Na verdade, deu tudo errado! Mas daí, não dava mais para voltar. Viver à beira-mar já fazia parte de sua alma. Hoje ele só pesca artesanalmente, e de vez em quando. Mas produz muitas pranchas de surfe numa fábrica que montou em sociedade com o filho. Vamos conhecer hoje a história de Murilo Bitencourt de Camargo Sobrinho.

Boa leitura!

Do peixe à prancha

pescador02030208.jpgMurilo, 53 anos, era o homem de confiança dos proprietários de uma rede de hotéis do Paraná. Vivia viajando para suprir as compras das oito unidades da rede. Era bem remunerado, mas quase não tinha tempo para a família. Os três filhos estudavam em bons colégios, mas ele não os via crescer. Certo dia, em conversas com a mulher, tomou a maior decisão de sua vida. Vender tudo e ir morar na praia, em paz e sossego, ao lado das crianças. Não é preciso dizer que todos o chamaram de louco. Certo do que queria, vendeu casa, carros e aplicou todo o dinheiro na compra de dois barcos pesqueiros de grande porte, para a pesca profissional, e em três canoas, para a pesca artesanal.

pescador03030208.jpgO negócio deveria funcionar ?às meias?. Ou seja, ele entrava com o barco, combustível e equipamentos, e os pescadores saiam para o trabalho. No final do dia, dividiam os peixes pela metade. O sonho era lindo, mas Murilo em apenas um ano de atividade, descobriu que a pesca era mesmo para pescador, para quem havia nascido naquele local, não para um aventureiro. Foi enganado de todas as formas e perdeu os dois barcões. Bem, restaram as canoas… Ledo engano. Como não sabia navegar, ficava nas mãos dos pescadores artesanais, que só saiam para a pesca quando precisavam de dinheiro. ?Se eles queriam ganhar R$ 10 para passar o dia, iam para o mar, pescavam o equivalente a R$ 20, davam a metade para mim e ficavam com o resto. Eles viviam com os R$ 10, mas eu não?, contou Murilo, que acabou falindo.

pescador04030208.jpgHavia uma possibilidade de voltar para Curitiba e recomeçar a vida na capital. Mas ele, a mulher e os filhos não quiseram. Entraram em outros negócios e foram lutando contra a maré e descobrindo o estilo do nativo viver. ?Só quando a gente aprende isso é que consegue se dar bem?, explica o aventureiro que está há 22 anos no litoral e agora, mais do que nunca, não pensa em voltar.

Depois de ?quebrado? Murilo alugou uma peixaria e passou a negociar com o que os pescadores chamam de ?misturinha?. Uma grande mistura de peixes pequenos que naquela época eram jogados fora. Comprou toneladas e aprendeu a revendê-los para os bares de Curitiba, que os serviam como aperitivos. Conseguiu se reerguer e então abriu um mercado, depois uma padaria, e ainda uma churrascaria. Hoje embarcou no sonho do filho, que aprendeu a fazer pranchas de surfe e ambos são proprietários de uma fábrica de pranchas em Guarapari. ?Não troco isso por nada. Apesar dos tropeços, conseguimos o que queríamos, que é qualidade de vida?, garante. (MC)

Dicas do Moluscówski

Como localizar peixes

Comece arremessando nas faixas mais próximas. Se estiver com dois caniços, lance um em uma distância e o segundo em outra, até encontrar aquela em que a incidência de peixes seja maior. Não despreze a beira da praia. Às vezes os peixes maiores estão bem perto.

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